quinta-feira, 1 de julho de 2010

Sementes Divinas

Rosicler Ribeiro de Campos

A definição de semente do Dicionário Michaelis—“aquilo que, com o tempo, há de produzir certos efeitos; causa, origem”—fez-me ponderar sobre a ideia de que a semente divina está dentro de cada um de nós.


Assim como é natural desabrocharem rosas nas roseiras, é de nossa natureza desabrocharmos em amor, pureza, alegria, temperança, bondade, justiça e compaixão, perfumando e trazendo cura, beleza e paz ao mundo.


Nós somos, desde sempre, os filhos e as filhas de Deus, criados como Sua ideia, a partir da semente perfeita, única, intocada. Tudo o que é bom, certo, digno, completo e harmonioso já faz parte de nós, é nosso agora, o será amanhã e por toda a eternidade.


Na natureza uma semente não precisa “se esforçar” para dar seus frutos ou flores. Como reflexos de Deus e de Sua natureza espiritual, Seus filhos e filhas também não precisam se esforçar para expressar os frutos e as flores das qualidades divinas. A semente tem conhecimento de si mesma e já contém todo o necessário. Como filhos sempre amados pelo nosso Pai-Mãe Deus, vivemos para expressar Sua graça.


Pode vir chuva, na forma de lágrimas, desilusão e sofrimento; pode vir o frio, como abandono, solidão e falta de perspectiva; pode vir o calor excessivo, por meio de ódio, desespero, desarmonia e medo, mas a semente divina, a qual contém compreensão, força espiritual e confiança, continua intocada e certamente germinará.


A reflexão de que somos sementes divinas me veio em uma ensolarada manhã de primavera, quando observava um pequeno vaso de flores, o qual continha uma espécie de orquídea, cultivada para dar uma única florada, conforme explicara o vendedor da loja em que eu tinha adquirido o vaso, fazia alguns meses. Quando as flores já haviam caído e parecia que a plantinha definhava, fiquei com pena de jogar fora o vasinho e o deixei na soleira de uma porta externa, onde ficou esquecido. Durante aquele período a planta não foi regada, protegida das intempéries ou adubada.


Alguns meses depois, naquela manhã em especial, ao prestar atenção ao vasinho percebi duas perfeitas flores desabrochadas e alguns delicados botões, como uma promessa do Amor.


A lição que essa surpreendente florada me trouxe foi clara e bela. A semente perfeita da orquídea não estava sujeita ao que o vendedor acreditara, de que a planta não floresceria mais de uma vez. Mesmo tendo ficado exposta ao sol, à chuva e ao vento, a flor não dependera nem mesmo de meus cuidados para mantê-la viva e saudável. Era muito simples: a planta continha a semente da orquídea e era da sua natureza dar flores. A semente nada sabia das opiniões humanas, das condições climáticas ou da necessidade de ter alguém para protegê-la. Estivera silenciosamente recolhida em sua certeza e confiança, preparada para dar flores no momento certo.


Recolhi a linda plantinha com o coração enternecido, admirei as delicadas cores de suas flores e a mantive em um vaso de vidro para apreciar essa maravilhosa lição.


Na Bíblia, muitas passagens falam sobre a natureza vista sob uma perspectiva divina. Ao estudar o Evangelho de João, vejo que Jesus mostrou que o tempo e a visão humana são limitados para ver a obra divina: “Não dizeis vós que ainda há quatro meses até à ceifa? Eu, porém, vos digo: erguei os olhos e vede os campos, pois já branquejam para a ceifa” (4:35). Na Primeira Epístola de João, encontrei outra passagem que confirma nossa natureza divina: “Todo aquele que é nascido de Deus não vive na prática de pecado; pois o que permanece nele é a divina semente...” (1 João 3:9).


Tais mensagens de confiança eliminam a ansiedade, o medo, a insegurança e a angústia, além de nos mostrar uma nova forma de olhar para a vida e para o mundo. São mensagens que nos impelem a confiar na perfeição de Deus, em Seu poder e em Seu amor por todos, até mesmo por aqueles que se consideram impuros, doentes, solitários, desanimados, confusos, humilhados, tristes ou pecadores. São mensagens que nos fazem acalmar os pensamentos e mergulhar no mais íntimo de nosso ser, onde está a perfeita semente, em quietude, pronta para germinar assim que alinharmos o pensamento a Deus. Nesse lugar não entram vontade pessoal, planos humanos, nem tempo; não entram o poder político ou as condições econômicas.


Mary Baker Eddy escreveu em Ciência e Saúde: “Deus expressa no homem a idéia infinita que se desenvolve eternamente, que se amplia e, partindo de uma base limitada, eleva-se cada vez mais. A Mente manifesta tudo o que existe na infinidade da Verdade. Nada mais sabemos do homem, como verdadeira imagem e semelhança divina, do que sabemos de Deus” (p. 258). Onde está a semente há apenas a doce certeza de que o filho e a filha de Deus existem para expressar única e constantemente os frutos e as flores, as qualidades de Deus que brotam da semente divina.


Floresçamos e frutifiquemos! Confiemos na sabedoria suprema de nosso Pai-Mãe e nutramos os atributos de Deus, que é Amor, Verdade, Vida, Alma, Princípio, Mente, Espírito, e aguardemos a florada que abençoa a nós e a toda a humanidade. A semente divina está em nós, agora mesmo. Essa certeza nos basta!


Rosicler é Redatora Chefe da Revista Casa Sul e mora em Curitiba, PR, com seu esposo e três filhas.

Deus estabelece vida, não extinção

Bea Roegge


“Vou de bicicleta para o trabalho”, disse uma senhora em um programa de rádio, ao responder a uma pergunta sobre o que as pessoas poderiam fazer para retardar o aquecimento global. Ela sabia que a emissão de gases provenientes de automóveis movidos a gasolina é reconhecida como a principal causa para o aquecimento global e, portanto, optou por deixar seu carro na garagem a maior parte do tempo.


As atitudes humanas e seu impacto sobre o meio ambiente estão detalhadas em um relatório publicado recentemente pelo IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), órgão da ONU (Organização das Nações Unidas). Embora vários aspectos do relatório mereçam nossas orações, como também nossas ações inspiradas pela oração, o que mais me chamou atenção foi o fato de que um aumento de pouco mais de 3 graus na temperatura do planeta Terra pode resultar na possível extinção de quase 30 por cento das espécies, dentro dos próximos cem anos.


Essa informação pode soar um tanto abstrata, mas ainda que pensemos apenas em termos das criaturas consideradas importantes para o bem-estar da humanidade, isso é um fato muito grave. Abelhas e borboletas polinizam frutas, pássaros devoram insetos nocivos, plantas e animais selvagens são fontes de alimento para pessoas em culturas desenvolvidas e em desenvolvimento. À medida que lia o relatório, sabia que precisava orar com mais profundidade sobre esse assunto.


Um pensamento que me ajudou muito foi o fato espiritual de que a vontade de Deus estabelece a vida, nunca morte ou extinção. Deus não vê a criação através da lente da matéria. De acordo com o relato bíblico da criação no primeiro capítulo do Gênesis, tudo foi criado espiritualmente por Deus, o Espírito. Isso significa que a realidade do nosso universo é espiritual e está fundamentada no Amor divino, muito embora esse talvez não seja um fato óbvio ou até mesmo reconhecível em alguns lugares.


Entretanto, apenas reconhecer a natureza espiritual eterna da criação de Deus não nos dá o direito de ignorar as ameaças à existência de qualquer espécie. Uma oração que provavelmente seja universal entre os cristãos nos foi dada quando os discípulos de Jesus lhe pediram que os ensinasse a orar. Conhecida como Oração do Senhor, ou Pai Nosso, ela incluiu a declaração: “...faça-se a tua vontade, assim na terra como no céu...” (Mateus 6:10).


A fim de respeitar a vontade de Deus que estabelece vida, desejaremos adotar atitudes e ações em prol da existência. Isso talvez envolva mudanças no estilo de vida, se necessário, ou uma busca ativa de maneiras criativas de se preservar o planeta e seus habitantes. Compreender a ideia de que a realidade é espiritual e eterna ajudará a nos livrar de sentimentos de desesperança ou apatia. Em vez de ficarmos desanimados pelo que parece uma inevitável perda de espécies ou por um problema que pareça grande demais para ser resolvido, podemos descansar sobre o fundamento de que a vontade de Deus é pela preservação da vida, jamais pela morte. Nossas orações, como também as ações inspiradas pela oração, constituem-se em um meio eficaz para confirmar que a vontade de Deus a favor da vida pode ser feita e está sendo feita exatamente agora.


Veio-me uma peculiar inspiração sobre a própria ressurreição de Jesus. Seus inimigos certamente desejavam ver sua vida extinta, mas, embora tenha sido considerado como morto e enterrado, ele ressuscitou da sepultura, reapareceu para seus discípulos em várias ocasiões antes de ascender. A crucificação que pretendia exterminá-lo foi frustrada. Os fatos espirituais, e que contradizem as aparências materiais, preservaram sua existência humana e seus ensinamentos.

 

A matéria não é a vida real das espécies ameaçadas de extinção
 


Essa experiência reforça a realidade de que a matéria não é a verdadeira vida do homem e do universo. Uma vez que a criação de Deus é espiritual, realmente podemos dizer que a matéria não é a vida real das espécies ameaçadas de extinção. Mary Baker Eddy, uma profunda pensadora espiritual, escreveu em Ciência e Saúde: “É erro evidente por si mesmo supor que possa haver tal realidade como a vida orgânica, quer animal ou vegetal, quando essa assim chamada vida sempre acaba na morte. A Vida jamais se extingue, nem sequer por um momento” (p. 309).


Se Deus, a Vida, nunca está extinto, nem mesmo por um momento, então podemos confiar em que a Vida nos guiará rumo a ideias e ações que afirmam a Vida. Podemos nos disciplinar, no sentido de pensarmos de uma maneira afirmativa a respeito da vida: amar, ao invés de odiar, ser mais dócil em vez de reagir com raiva, esforçar-se por soluções inteligentes, em vez de soluções de conveniência. Apoiando cada escolha que fazemos quando oramos para que a vontade de Deus seja feita na terra, encontraremos maneiras de conviver com a vontade amorosa que não se limita em manter a vida dos animais, das criaturas do mar e das plantas, mas que também sustenta e estabelece nossa vida.


Outra coisa que me conforta é o fato de que, por mais válido que o relatório possa ser, ele não é a palavra final. Essas perdas não são inevitáveis, porque podemos tomar medidas, agora mesmo, as quais vão exatamente ao encontro da maneira como consideramos a criação, medidas essas que começarão a impulsionar a vida para uma direção mais espiritual. Cada um de nós pode fazer isso por meio de nossas orações e de nossas escolhas individuais. Alguns de nós talvez possam ser inspirados a se tornarem muito ativos na redução da emissão de gases e outros poluentes, outros talvez possam fazer somente um pouco. Entretanto, cada passo ajudará a mudar o futuro e a revelar novas formas para que a vontade de Deus, que estabelece vida, seja um poder presente e atuante na preservação do planeta.


Bea é Praticista e Professora de Ciência Cristã em Chicago, Illinois, EUA