sábado, 28 de novembro de 2009

Maravilhoso!

Marilyn Jones

Imaginemos a comemoração de um aniversário com dois bilhões de pessoas. Falo sério, dois bilhões de pessoas. Isso porque neste 25 de dezembro, cerca de dois bilhões de pessoas em todo o mundo celebrarão o nascimento de Jesus de Nazaré, com festas, presentes, cerimônias, eventos e, até mesmo, com momentos de quietude e reflexão, tudo para registrar um nascimento que ocorreu há mais de 2000 anos. Extraordinário! De fato, talvez possamos descrever tudo o que se refere a Jesus como surpreendente, assombroso, magnífico e, claro, maravilhoso.
Para começar, que tal o fato de o profeta Isaías ter profetizado de forma correta esse notável nascimento, cerca de 700 anos antes que ele acontecesse? Na época em que Isaías vivia, por volta de 650 A.C, Israel sofria invasões e guerras terríveis. Contudo, Isaías via um brilhante futuro à frente. Ele prometeu que, quando o povo se afastasse do espiritualismo e parasse de tentar se comunicar com os mortos, a luz despontaria em Israel, e que “não haveria mais trevas para aqueles que estavam em aflição” (Isaías 9:1, New International Version [Nova Versão Internacional da Bíblia]).
Isaías, membro da aristocracia de Israel e muito respeitado na comunidade, também profetizou a vinda de um governante que destruiria a opressão e as injustiças sofridas pelo povo. Um novo tipo de governo seria estabelecido e um filho real viria para salvar a humanidade do desespero e da angústia: “Pois já nasceu uma criança, Deus nos mandou um menino que será o nosso rei. Ele será chamado de ‘Conselheiro Maravilhoso’, ‘Deus Poderoso’, ‘Pai Eterno’, ‘Príncipe da Paz’. Ele será descendente do rei Davi; o seu poder como rei crescerá, e haverá paz em todo o seu reino. As bases do seu governo serão a justiça e o direito, desde o começo e para sempre. No seu grande amor, o Senhor Todo-Poderoso fará com que tudo isso aconteça” (Isaías 9:6, 7).
Isaías deu ao Messias cinco nomes: Maravilhoso, Conselheiro, Deus Poderoso, Pai Eterno, Príncipe da Paz
Podemos imaginar a agitação que a profecia de Isaías deve ter causado! Um salvador para toda a humanidade? Um soberano que governaria de modo justo, que estabeleceria um reinado sempre crescente e asseguraria paz sem fim? Essa esplêndida promessa deve ter acendido a esperança e o regozijo nos corações de todos os que ouviram as palavras de Isaías, a saber, que um salvador viria de Deus para trazer segurança, justiça e salvação eterna, não somente para Israel, mas para o mundo todo!
Para que ninguém pense que Isaías talvez não tivesse entendido direito os fatos de sua profecia, ele deu detalhes específicos. Ele disse ao povo que o Messias viria da linhagem real do Rei Davi. Conforme a versão King James da Bíblia, ele deu ao Messias cinco nomes: Maravilhoso, Conselheiro, Deus Poderoso, Pai Eterno, Príncipe da Paz.
Devemos observar que muitas versões modernas da Bíblia omitem a vírgula entre Maravilhoso e Conselheiro e, em vez disso, traduzem o primeiro desses nomes como Maravilhoso Conselheiro. De qualquer forma, cada uma dessas designações dadas ao Salvador excede em muito os títulos comuns que herdeiros reais normalmente recebem. No sentido dado pela versão King James, certamente podemos compreender o significado de reconhecer o Messias como Maravilhoso.
Como tudo na vida de Jesus, seu nascimento começa com acontecimentos verdadeiramente extraordinários
Mas será que essa palavra nos ajuda hoje a alcançar plenamente a magnitude assombrosa e inspiradora da vida de Jesus na terra, uma vez que, atualmente, a palavra maravilhoso perdeu muito poder devido ao seu uso excessivo? Por exemplo, exclamamos que sorvetes, filmes e sapatos bonitos são maravilhosos! Ainda assim, o significado dessa palavra: “capaz de provocar admiração; surpreendente; extraordinariamente bom ou grandioso”, juntamente com alguns de seus sinônimos, tais como: prodigioso, formidável, miraculoso, surpreendente, estupendo, fenomenal e incomparável nos ajudam a apreciar mais profundamente a alegria e a antecipação, a exuberância e o poder do profetizado Messias.
Ele será MARAVILHOSO! Ele nos encherá de admiração, fará com que nos maravilhemos, ele nos inspirará com sua estupenda e extraordinária vida! Sua missão mudará o mundo, trará luz, constância e glórias inconcebíveis para libertar a humanidade da desolação e das trevas. Reinará com fidelidade e justiça, pois trará salvação! Aleluia!
À medida que avançamos sete séculos desde a profecia de Isaías, talvez possamos imaginar como o mundo ouvirá as boas novas sobre o nascimento do Messias. Como esse anúncio convencerá as pessoas de que Jesus de Nazaré realmente é a prometida “dádiva de Deus” da profecia de Isaías? Ora, como tudo o mais na vida de Jesus, seu nascimento começa com acontecimentos verdadeiramente extraordinários.
Anjos anunciaram o nascimento do sagrado menino aos pastores que cuidavam de seus rebanhosSabemos pelos Evangelhos de Mateus e Lucas que, quando o menino Jesus nasceu em Belém, nenhum edital saiu de um rico palácio, nenhum mensageiro foi de cidade em cidade para anunciar o nascimento de um herdeiro real. Ao contrário, arautos especiais que inspiraram mais admiração do que nunca antes na história, anunciaram o evento surpreendente. Anjos, pensamentos que são mensagens do Criador do universo, anunciaram o nascimento do sagrado menino aos pastores que cuidavam de seus rebanhos.
Os Evangelhos também falam de três “homens sábios”, também conhecidos como Reis Magos (ver Mateus 2:1, 2), que viajaram de muito longe para saudar o recém-nascido Príncipe da Paz. Esses devotos sábios, ou, de acordo com outros relatos, esses três reis seguiram uma estrela, dia e noite, até o lugar onde nasceu Jesus para honrar e adorar o tão esperado Messias.
O que os inspirou? Não temos nenhum registro a respeito do que eles pensavam, de suas conversas, de suas orações. O que eles esperavam encontrar? O que eles esperavam aprender? Podemos supor que, uma vez que nenhum anúncio foi dado ao mundo, eles devem ter sido divinamente guiados enquanto procuravam pelo recém-nascido Jesus. Mary Baker Eddy explicou a jornada desses sábios sob uma perspectiva puramente espiritual.
A Vida eterna existe agora, tal como existiu antes do nascimento de Jesus, e existirá para sempre“O pastor vigilante avista os primeiros tênues clarões da aurora, antes de surgir a plena radiação do novo dia. Foi assim que a pálida estrela brilhou aos pastores-profetas; e assim atravessou a noite e chegou onde, na obscuridade do berço, estava o menino de Belém, o arauto humano do Cristo, a Verdade, que iria esclarecer à compreensão toldada o caminho da salvação por Cristo Jesus, até que, através da noite do erro, despontasse a aurora e brilhasse a estrela-guia do ser. Os Magos foram levados a ver e a seguir essa estrela-d’alva da Ciência divina, que ilumina o caminho da harmonia eterna” (Ciência e Saúde, p. vii).
Desde aquela época, os cristãos têm feito a mesma jornada, embora de forma metafórica, em busca das lições universais e transformadoras de vida oriundas do nascimento e da vida de Jesus, e para descobrir o reino dos céus, que se encontra dentro de nossos próprios corações, o governo do Amor divino que habita nossa própria consciência. A Vida eterna existe agora, tal como existiu antes do nascimento de Jesus, e existirá para sempre.
Hoje, quando nos volvemos às antigas Escrituras que prenunciam a vinda de Jesus e a santa natureza do espírito-Cristo que ele revelaria ao mundo, podemos ver claramente que os nomes dados a Jesus apontam para sua missão. Como nos assegura a profecia de Isaías, esse Príncipe da Paz, esse Maravilhoso Conselheiro, defenderá o seu povo e trará um reino duradouro de júbilo e harmonia ao mundo. Suas obras farão com que as pessoas em toda parte fiquem maravilhadas. Nenhum governante jamais se igualará à sua autoridade e influência.
Pessoas em toda parte continuam a descobrir a estupenda, maravilhosa e magnífica luz do Amor divinoNesta época de Natal, o nascimento e o ministério de Jesus ainda inspiram esperança e transformação nos corações de aproximadamente dois bilhões de pessoas ao redor do mundo. Será que alguém consegue calcular a essência e a amplitude da influência de Jesus ao longo dos últimos vinte séculos? Ninguém consegue porque a influência da obra de sua vida e de sua sagrada mensagem espiritual continua a curar e a transformar vidas por todo o globo.
A mensagem de Jesus a respeito da vida eterna e da irrealidade do pecado, da doença e da morte, de sua revelação do valor especial e da fidedignidade intrínsecos que cada indivíduo possui, e sua demonstração do amor inexaurível do nosso Progenitor divino por toda sua criação, continua a resgatar a humanidade da falta de esperança e da tristeza.
Pessoas em toda parte continuam a descobrir a surpreendente, maravilhosa e magnificente luz do Amor divino. O Amor que cobre a terra como “as águas cobrem o mar” (ver Isaías 11:9). Portanto, neste mês, quando os cristãos novamente se reúnem por todo o planeta para celebrar o santo nascimento, como têm feito durante os últimos vinte séculos, proclamaremos juntos: Aleluia! Aleluia! Porque seu nome será de fato Maravilhoso!


Marilyn Jones mora em Telluride, Colorado, EUA.

sábado, 7 de novembro de 2009

Todos iguais e valiosos aos olhos de Deus

Gabriel Tshiala Lumbadila


Quando criança, na República Democrática do Congo, fui educado na igreja católica. Embora meu interesse pela vida dos santos tivesse aumentado, Deus ainda permanecia desconhecido para mim. Eu tinha um forte desejo de me tornar padre e, curiosamente, muitas pessoas diziam que eu parecia um sacerdote. Contudo, sabia que o desejo de me tornar padre não seria aceito pelos meus pais, pois eu era o filho mais velho da família e esperava-se que eu levasse avante a linhagem familiar.
Durante os anos em que estudei na Bélgica, meus amigos e eu trabalhamos nas férias de verão em um grande pomar de maçãs. Enquanto estávamos na fila ao final do dia para receber nosso primeiro pagamento diário, um amigo veio nos contar que nosso empregador tinha duas taxas diferentes de pagamento: um valor “para homem” e um outro, mais baixo, “para mulher”. Instintivamente, meus amigos me olharam, pois sabiam que eu era defensor da igualdade de direitos para ambos os sexos. Entretanto, preferi a ação às palavras, portanto, quando entrei no escritório da plantação, meu protesto foi pedir para receber o valor equivalente ao pagamento das mulheres.
Um propósito de curaDurante esse período, vinha procurando conhecer a Deus em vários livros sobre religião e filosofia, mas sempre em vão. Além disso, fracassei nos estudos universitários devido à conduta irresponsável e meus pais pediram que eu voltasse para casa.
No voo de volta para a África, li vários trechos do livro Ciência e Saúde, que ganhara de presente de um amigo. A partir daí, comecei a estudar o livro juntamente com a Bíblia e, aos poucos, esse estudo ajudou-me a encontrar um propósito na vida, enquanto me esforçava por compreender a resposta do livro à pergunta: “O que é o homem?” (p. 475).
A fim de obter a resposta a essa pergunta, comecei, aos poucos, a conhecer a Deus. Aprendi que Deus é Espírito, Amor, nosso Pai e Mãe, o bem infinito. Que Ele criou o homem inteiramente espiritual, perfeito, à Sua imagem e semelhança, macho e fêmea, porque o termo genérico homem também inclui a mulher. Todo o meu modo de pensar começou a mudar de uma base material para uma base espiritual.
Também descobri que o Cristo é universal e atemporal e está aqui para abençoar toda a humanidade, como “...a idéia verdadeira que proclama o bem, a mensagem divina de Deus aos homens, a qual fala à consciência humana” (Ciência e Saúde, p. 332). Percebi que o Cristo aparentemente influenciou Martinho Lutero na Europa, quando ele “popularizou” a Bíblia em alemão, no Século XVI. Mais tarde, “A ideia verdadeira que proclama o bem” levou Abraham Lincoln a abolir a escravidão africana nos Estados Unidos e, mais recentemente, o Cristo deve ter levado Mahatma Mohandas Gandhi a lutar pela independência da Índia e à abolição do sistema de castas, Martin Luther King Jr. a lutar pela igualdade racial, e Nelson Mandela a conduzir o povo da África do Sul ao triunfo sobre o “apartheid”.
Eu também desejava ansiosamente ver o Cristo em ação em minha vida, capacitando-me a ajudar os outros.
Primeiros pedidos por oraçãoHá alguns anos, em uma quarta-feira, um pouco antes de começar a reunião de testemunhos na igreja filial da Ciência Cristã que eu frequentava, senti-me inundado por um amor puro e espiritual e deixei que esse amor fluísse para todos, especialmente para o Primeiro Leitor que iria conduzir a reunião. Depois que a reunião terminou, senti novamente a mesma efusão de amor e, naquele momento, o Primeiro Leitor me pediu que orasse por ele, pois sua noiva havia lhe dito que cometeria suicídio, caso fosse reprovada nos exames finais e, infelizmente, ele traria más notícias para ela.
Tempos depois, compreendi que o Amor divino já havia feito a obra, quando senti aquele amor ardendo em mim antes e depois do culto. Sabia, também, que o Amor divino é o único sanador, que ele faz a obra por nós e que a vontade humana jamais está envolvida na cura. No domingo seguinte, o Primeiro Leitor me contou com gratidão que sua noiva havia mudado completamente sua maneira de pensar.
Quando meu interesse em ajudar os outros pela oração aumentou, fiz o Curso Primário da Ciência Cristã. Durante aqueles doze dias maravilhosos, dois fatos me chamaram a atenção. Primeiro, a professora enfatizou várias vezes que não existe matéria e sustentou esse ponto com declarações que constam dos livros de Mary Baker Eddy. A professora nos pediu que memorizássemos este parágrafo: “O Espírito é infinito; portanto, o Espírito é tudo. ‘Não há matéria’ não é apenas um axioma da verdadeira Ciência Cristã, mas é a única base sobre a qual essa Ciência pode ser demonstrada” (The First Church of Christ, Scientist, and Miscellany [A Primeira Igreja de Cristo, Cientista, e Vários Escritos], p. 357).
O segundo fato memorável aconteceu quando a professora nos mostrou como “tratar” ou orar diariamente por nós mesmos. Como exemplo, ela tratou a si mesma em voz alta, e fiquei impressionado quando ela falou a respeito da morte como sendo o nada, como uma ilusão.
Logo após ter concluído esse curso, alguém que havia acabado de fazer exames médicos veio me ver. Ele estava em prantos porque o médico lhe dissera que tinha apenas seis meses de vida. Essa pessoa, então, pediu-me para lhe dar um tratamento por meio da oração. O interessante é que ele não me disse o nome da doença, mas lhe expliquei que sua vida não dependia de seu sangue nem da perícia de seu médico. Orei por ele por aproximadamente meia hora, e então ele foi embora se sentindo aliviado. Uma semana mais tarde, retornou sorrindo e me disse que estava completamente curado.
A vida como um refugiadoCerto dia, meu pai chegou em casa parecendo bastante assustado e me contou que a polícia viria revistar nossa casa. Ele havia lutado contra a corrupção, expurgando nomes de empregados fantasmas da folha de pagamento de uma importante agência do serviço nacional. Quando ele reuniu todas as listas de nomes com os quais havíamos trabalhado e tentou encontrar um lugar melhor para escondê-las, percebi o quanto ele estava comprometido em levar esse trabalho até o fim, e quão temeroso estava pela minha segurança. Ele ordenou que eu fosse para o Zaire, como era então conhecido o Congo, e eu lhe obedeci.
Passei dois anos penosos em um campo de refugiados na Namíbia. Entretanto, lembro-me com gratidão da ajuda em dinheiro, alimento e literatura que amigos da minha Associação de alunos da Ciência Cristã me enviaram durante aqueles tempos difíceis. Sabia, contudo, que não dependia deles, mas de Deus, para uma solução permanente para minhas necessidades diárias.
Fiquei feliz ao deixar a Namíbia e ir para o Canadá, mas também triste porque isso significava deixar para trás meu novo emprego como professor de matemática e ciências, e a mulher que conhecera enquanto dava aulas, com quem esperava me casar. Contudo, minha partida aconteceu pelo poder da oração e da minha fé em Deus, pois meu pedido de imigração foi o único concedido entre inúmeros outros.
Canadá: nem tudo foi alegriaDepois de chegar ao Canadá, tive de começar minha vida novamente. Embora tivesse sido professor, agora me candidatara para qualquer tipo de trabalho que pudesse encontrar, a fim de ter uma vida decente e poder ajudar minha mãe, minhas irmãs e irmãos, que haviam ficado na África. Encontrei médicos, engenheiros e outros imigrantes com alto nível de escolaridade, os quais estavam aceitando empregos temporários. Ao orar sobre minha situação, ocorreu-me que aquele “homem divinamente real”, Jesus, era um carpinteiro (ver Ciência e Saúde, p. 313). Então, aproveitei essa oportunidade para cultivar a humildade que parecia essencial à minha jornada espiritual. Essa era a única forma de salvaguardar minha autoestima e ser útil ao país que me acolhera.
Aprendi, de maneira muito clara, que Deus ama a cada um de nós, de forma invariável e igualitária, como Seus filhos, a despeito do tipo de serviço que fazemos. Portanto, Seu amor por um diretor de empresa não é maior do que por um operário.
Dois anos após ter chegado ao oeste do Canadá, mesmo tendo um emprego em tempo integral, voltei a estudar, também em tempo integral. Saí-me muito bem como estudante, mas, no último ano do curso, um dos professores parecia agir com discriminação e quase não reparava em mim, nem no que eu fazia. Inesperadamente, porém, fui o primeiro a terminar a prova semifinal e então sua atitude para comigo mudou. Não obstante, durante todo o tempo, sempre que orava para essa situação, eu o via como Deus o conhecia, como um filho igualmente amado. Formei-me em sistemas de informação empresarial.
Encontrei muitas pessoas maravilhosas em minha nova pátria, mas também me defrontei com discriminação racial, quando tentei alugar um apartamento, ao fazer compras, no transporte público e no ambiente de trabalho. Superar esse problema foi meu maior desafio.
No livro Ciência e Saúde, Mary Baker Eddy definiu o homem com termos espiritualmente científicos. Ela escreveu: “O homem não é matéria; não é constituído de cérebro, sangue, ossos e de outros elementos materiais. As Escrituras nos informam que o homem é feito à imagem e semelhança de Deus. A matéria não é essa semelhança” (p. 475). Raciocinei que um desses “outros elementos materiais” é a cor da pele. Muito embora a ciência física considere o cérebro como a fonte da inteligência, na Ciência Cristã cada indivíduo é compreendido como tendo uma única identidade espiritual como o reflexo da inteligência divina.
O Apóstolo Paulo confirma a falsidade da desigualdade racial, ao dizer: “A fé em Cristo Jesus é o que faz cada um de vocês iguais uns aos outros, caso seja judeu ou grego, escravo ou pessoa livre, homem ou mulher” (Gálatas 3:28, Versão Inglesa Contemporânea). Mary Baker Eddy também foi específica neste ponto: “O Amor tem uma única raça, um único reino, um único poder” (Poems [Poemas], p. 22). Essas verdades reforçaram minha convicção de que, para Deus, não somos brancos, pretos nem amarelos, porque o homem é inteiramente espiritual.
Enquanto me esforçava para superar o tormento da discriminação, que é, em realidade, um mal ou erro impessoal, descobri que eu também havia agido como um discriminador. Jesus perguntou em seu Sermão do Monte: “Por que se preocupar com um cisco no olho do seu amigo quando você tem uma trave no seu próprio olho”? (Mateus 7:3, Nova Versão Viva). Compreendi que, cada vez que via um ser humano, meu semelhante, como doente, pecador, velho, moribundo ou pobre, de fato, sempre que aceitava um conceito material sobre alguém, eu estava também discriminando essa pessoa. Essa autoanálise, em espírito de oração, fez com que me empenhasse em ver cada um sob a luz divina, substituindo mentalmente o conceito material pelo divino, como havia feito com meu professor na escola.
Precisava ver cada homem e mulher como espiritual, puro, isento de pecado e imortal, porque eles expressam o único Espírito, Alma ou Vida, que é Deus. Essa é a única maneira pela qual eu podia encontrar minha verdadeira identidade e propósito na vida.
Durante sua crucificação, Jesus orou: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem” (Lucas 23:34). Ele conhecia a Verdade pura a respeito da vida, mas seus torturadores ignoravam isso. No entanto, mesmo em agonia, Jesus seguia com sua jornada espiritual, cuidava dos “negócios de seu Pai” e via a identidade espiritual de seus inimigos como inocente, sem pecado. Portanto, não desisti de orar por um caminho livre da discriminação. Assumi a perspectiva de Jesus como se fosse minha, e ainda estou me empenhando em caminhar nas pegadas do Mestre.
A sensação de ser uma vítima se desvaneceu. O mais importante é que me sinto orgulhoso de quem sou como um ser espiritual, intocado por opiniões humanas e olhares ofensivos.
Visitando novamente o campo de refugiadosHá três anos, nove anos depois de partir da Namíbia, voei de volta para me casar com aquela moça paciente que mencionei anteriormente, cujo nome de batismo é Waiting [Esperança]. Enquanto os preparativos para que ela possa se juntar a mim no Canadá ainda estão em andamento, continuo a visitar a Namíbia durante as férias de Natal. Na minha terceira viagem para lá em dezembro de 2007, Esperança e eu viajamos de carro até o campo de refugiados, cerca de 300 quilômetros da cidade de Windhoek. Ela estava curiosa para conhecer o local onde passei a maior parte do tempo em que estive em seu país.
Levei minha esposa para conhecer os lugares onde eu costumava sentar, esperar e orar, quando me encontrava na mais desesperadora das situações e não via nenhuma saída possível. Como poderia então saber que um dia eu voltaria ali, bem vestido, podendo alugar um carro por um mês inteiro? A resposta é simples: não existe nenhuma barreira nem distância no amor.
Minha jornada espiritual me mantém seguindo em frente, do modo como Deus quer. O Amor divino me proporcionou um novo propósito e, com a minha querida Esperança, uma nova vida!

Gabriel Lumbadila, conhecido por amigos e parentes como Gaby, mora em Calgary, Alberta, Canadá. Tornou-se cidadão canadense em 2002

Mais do que apenas um bom relacionamento com nosso pai

J. Thomas Black
Relacionar-se bem com os outros pode ser um enorme desafio. Talvez muitos concordem em que os conflitos mais difíceis e dolorosos são os que acontecem entre pais e filhos, pessoas que realmente se amam e que, na verdade, desejam harmonia e paz. Às vezes, talvez pareça que não consigam suportar nem mais um minuto conviver com uma determinada pessoa, embora tenham de conviver na mesma casa e comer juntos, na mesma mesa.
Há um ditado que diz “o tempo cura todas as mágoas”. Isso pode até ser verdadeiro, mas somente se o tempo fizer com que o pensamento evolua na direção de Deus. Os conflitos são causados por ressentimentos muito profundos e opiniões mortais arraigadas. Algo precisa ser mudado no pensamento a fim de se adquirir mais paciência e respeito, caso contrário, os conflitos continuarão.
Desculpem-me pela franqueza, mas falo por experiência própria. Durante todo o ensino fundamental e médio, meu pai e eu tivemos um relacionamento de amor e ódio intenso e crescente. Achei que melhorasse quando eu partisse para a faculdade. Contudo, mesmo muitos anos depois, sempre que estávamos juntos saíam faíscas. Já era ruim o bastante para nós dois, mas especialmente árduo para minha mãe.
Tinha de mudar meu pensamento a respeito de meu paiApós uma briga particularmente penosa , desejei mais do que nunca ficar livre desses enfrentamentos. Pela primeira vez, parei de justificar meu comportamento e passei a aceitar o poder que a oração tinha para curar a situação. Então, uma percepção surpreendente e radical me sobreveio: tinha de mudar meu pensamento sobre meu pai, sem levar em consideração o que ele pensava e falava a meu respeito. Senti que precisava fazer essa mudança imediatamente e me lembrei de uma pequena estratégia que um amigo havia me sugerido havia alguns anos e que me ajudaria a colocar em prática minha intenção.
Do lado esquerdo de algumas folhas de papel escrevi, com uma palavra, os defeitos que eu achava descreviam meu pai. Essas palavras eram explícitas e detalhadas. Nas mesmas linhas, à direita, escrevi o exato oposto desses defeitos, e ponderei se as qualidades opostas não seriam o que Deus sabia a respeito de meu pai. Por exemplo, para egoísmo escrevi altruísmo. Ao lado de intolerância, amor e assim por diante, o que levou algum tempo.
Quando acabei, rasguei as folhas verticalmente ao meio, joguei a parte esquerda no incinerador do hotel onde estava hospedado naquela viagem de negócios. Guardei as informações do lado direito da folha.
Deus fez com que eu soubesse que Ele havia criado meu pai para me amarEu estava como Jacó, lutando com uma impressão falsa a respeito de Esaú, e Deus havia me ensinado o suficiente para que me dispusesse a admitir que Seu amor por meu pai era meu pensamento verdadeiro sobre ele, e não as sugestões desprezíveis que eu havia permitido se mascarassem como se fossem meus próprios pensamentos, durante tantos anos. Cheguei mesmo a compreender que Deus criara meu pai para me amar, um conceito radical e, mais ainda, que Deus fizera com que eu soubesse que Ele havia criado meu pai para me amar.
Ao longo dos dias subsequentes, revisava várias vezes por dia aquela lista de amor, o que me proporcionava uma alegria reconfortante. Meu pensamento mudara completamente. Jesus certa vez disse: “Arrependei-vos...” (Mateus 4:17), e foi exatamente essa influência do Cristo ou a Verdade de Deus agindo em meu pensamento que me permitiu mudá-lo. Dentro de poucos dias, passei realmente a admirar meu pai.
Depois que o simpósio empresarial do qual participava terminou, passei alguns dias na casa dos meus pais. Meu pai e eu nos entendemos muito bem. Não houve sequer uma única palavra amarga. Permanecemos amigos pelo resto de sua longa vida, conversando e dando muitas risadas nos frequentes telefonemas e visitas. O interessante é que outro membro da família, e que havia tido uma desavença com ele, disse que meu pai era agora um homem mudado. Eles também estabeleceram um relacionamento cordial.
Deus ama a todos nósEle realmente nos ama e Se relaciona conosco harmoniosamente. Aproximarmo-nos mais dEle significa que também nos aproximamos mais uns dos outros. É natural e correto deixar que a Verdade de Deus, o Cristo, transforme nossos pensamentos e traga a paz. Mary Baker Eddy, em Ciência e Saúde, disse: “Um só Deus infinito, o bem, unifica homens e nações; constitui a fraternidade dos homens; põe fim às guerras...” (Ciência e Saúde, p. 340).
Pais e filhos não brigarão para sempre. As nações não estarão em guerra constante. Existe um poder chamado Amor divino, ou Deus, que transforma o universo por meio da Ciência do Cristo, o Consolador prometido, ou Ciência Cristã. À medida que a humanidade aceitar o Cristo, ficará cada vez mais claro que a luta está condenada, e que a paz está assegurada. Existe um caminho, e o mesmo Cristo, que me guiou rumo à paz com meu pai, irá guiar-nos para a paz com o nosso mundo.

Tom Black é membro do Conselho de Diretores da Ciência Cristã, e Praticista e Professor de Ciência Cristã em Boston, Massachusetts, EUA.