segunda-feira, 31 de agosto de 2009

A linguagem do Espírito

Uma conversa com Christiane West Little.Uma pessoa com bons conhecimentos em sete línguas aprende que a comunicação mais poderosa provém de Deus.

Christiane foi exposta aos idiomas com muita naturalidade. No início de sua infância em Genebra, Suíça, Christiane West Little aprendeu francês. Em casa, comunicava-se em alemão, porque sua avó, que vivia com a família, falava alemão e espanhol. Sempre que os adultos começavam a se expressar em espanhol, Christiane sabia que a conversa não era para ela ou sua irmã ouvirem.


A mudança da família para a Argentina deu a Christiane e a sua irmã o domínio do inglês na escola, como também do espanhol, o que lhes proporcionou então a vantagem de compreenderem todas as palavras que os adultos diziam.


A família finalmente se estabeleceu em Washington, DC, onde Christiane terminou a faculdade e se diplomou no idioma russo. Vários anos mais tarde, um colega do Conselho de Conferências da Ciência Cristã colocou a cereja no bolo lingüístico: “Você fala francês e espanhol, portanto, pode aprender italiano e português”!


“Sempre tive a sensação de não ter uma língua materna”, diz Christiane sorrindo. “Não pertenço a lugar nenhum, muito embora me sinta em casa em toda parte”. Esse pensamento se desvaneceu quando esta frase, de um artigo no Christian Science Journal, a inspirou: Jesus era fluente em sua língua mãe. A linguagem do Espírito. “Portanto, reivindiquei essa fluência para mim mesma”, conta ela.


Na época em que trabalhava com traduções no Departamento de Estado americano, na década de 1970, Christiane sentiu-se compelida a dar uma nova direção à sua vida e a entrar para a Prática Pública da cura pela Ciência Cristã. O pivô da mudança? Sua tarefa para o Departamento de Estado: traduzir para o espanhol um manual para a polícia sobre terroristas, a ser distribuído na América Latina. Uma declaração no texto a deteve: “Terroristas geralmente provêm de lares desfeitos”. “Isso se referia a mim, uma mãe separada com três filhos”, diz Christiane. “Simplesmente me rebelei diante dessa generalização”. Além do mais, Christiane não conseguia atinar com o equivalente em espanhol para “lar desfeito”, uma vez que não existia uma tradução literal. Repentinamente, veio-lhe o pensamento: “Espere um momento! Nosso ‘lar’ verdadeiro não pode ser desfeito”. Ela orava freqüentemente pela sua família, no sentido de que viviam e se moviam no Espírito divino. Se esse terno relacionamento de sua família com o Pai-Mãe Deus não podia ser desfeito, o mesmo não poderia ocorrer com ninguém.


“Compreendi, enquanto orava, que estava dando um tratamento pela Ciência Cristã e ouvindo a opinião de Deus sobre o assunto”. Naquele momento de comunicação divina, ela diz que uma coisa ficou muito clara: “Gosto da cura ainda mais do que gosto de trabalhar com idiomas”. Quanto tempo ela levou após essa compreensão para entrar na prática pública? No dia seguinte, entregou o pedido de aviso prévio para seu empregador.


Publicamos a seguir a conversa que Christiane e Joan Taylor, Redatora Sênior do Christian Science Journal, tiveram recentemente sobre a cura espiritual.


Joan Taylor: Christiane, com sua experiência de viver em muitas cidades do mundo, a diversidade de sua infância, a oportunidade de fazer parte do Conselho de Conferências da Ciência Cristã e de dar conferências por todo o planeta, como você entende a idéia de paz?


Christiane Little: A paz é passível de ser conseguida. “Glória a Deus nas maiores alturas, e paz na terra entre os homens, a quem ele quer bem” (Lucas 2:14). Essa foi a mensagem que anunciou o nascimento de Jesus aos pastores vigilantes e que os levou até à manjedoura. Esse é o discurso que ouvimos cantado e falado a cada época natalina. Contudo, é muito mais do que isso. É a eterna mensagem de Deus para a humanidade. Ela também vem em duas partes. “Glória a Deus” primeiro, ou seja, reconhecer a Deus como a fonte de toda a paz, de todo o bem e, em seguida, ver e vivenciar o efeito. A segunda parte: “paz na terra”, proveniente de Deus, como a fonte de todas as nossas bênçãos, exatamente aqui e agora e para sempre.


A paz não é um sonho irreal ou uma promessa distante, mas uma realidade espiritual presente, que vem sempre ao coração humano que anseia por ela. O exemplo de meus pais inspirou tanto a mim quanto à minha irmã (Margarita Sandelmann Thatcher, Praticista e Professora de Ciência Cristã). O tema paz, e sua necessidade absoluta, encontrou inevitavelmente seu caminho nas nossas conversas à mesa de jantar enquanto crescíamos, assim como o fato de o motivo correto de trabalhar pela paz, traz a paz suprema, a paz que advém do Cristo a cada um de nós. Como Mary Baker Eddy diz, o motivo correto é muito simples: “O amor a Deus e ao homem...” (Ciência e Saúde, p. 454).


Durante a I Guerra Mundial, houve uma batalha na Alemanha que matou quase todos, exceto três, dos 100 soldados adolescentes. Meu pai foi um dos sobreviventes. Ele encontrou refúgio em uma trincheira com outro jovem soldado britânico, que, naquela noite, deu-lhe um exemplar do Novo Testamento. Essa experiência suscitou em meu pai o desejo ardente de trabalhar pela paz. Mais tarde, depois que meus pais se casaram na Argentina, país nativo de minha mãe, eles se mudaram para Genebra, a sede da então Liga das Nações, para trabalhar pela paz. Foi lá que eles conheceram a Ciência Cristã, o que lhes proporcionou a paz interior proveniente de uma compreensão mais clara de Deus. Eles trouxeram esse foco para a vida da nossa família, portanto, a paz se tornou natural ao meu pensamento, desde a mais tenra idade.


JT: Como podemos perpetuar o poder espiritual desta época de Natal, da mensagem de “paz na terra entre os homens, a quem ele quer bem”? Perpetuá-la realmente, ao invés de apenas iludirmos a nós mesmos.


CWL: Gosto de considerar a paz como um dom que já foi concedido a cada um. O mundo vê a paz como sendo dada e depois tirada. Contudo, o que Deus dá é permanente, paz em vez de ódio e turbulência. Não temos de procurar pela paz ou pensar que temos de encontrá-la. A paz já está estabelecida na consciência divina.


Mary Baker Eddy disse: “É chegada a hora dos pensadores” (Ciência e Saúde, p. vii). Ela escreveu essa declaração há mais de 100 anos, mas essa hora ainda é “o agora”. À medida que nos tornarmos pensadores radicais, compreenderemos que a paz é uma dádiva de Deus. A época do Natal nos proporciona a oportunidade de pensar mais profundamente sobre a paz, não só individualmente, mas também coletivamente, incluindo o mundo inteiro.


JT: Como essa idéia de paz se traduz em maneiras práticas, quando as pessoas têm tantas preocupações, particularmente financeiras?


CWL: As circunstâncias em torno dos acontecimentos do nascimento de Jesus há mais de 2.000 anos mostram-nos a praticidade de estarmos atentos à orientação divina. A Sagrada Família, Maria, José e Jesus, e todos ligados à história do Natal, os anjos, os pastores, os reis magos, prestaram atenção à intuição espiritual que lhes sobreveio. Antes de tudo, a jovem Maria recebeu as boas-novas de que daria à luz um filho. Ela estava tão receptiva espiritualmente, que aceitou plenamente esta incrível notícia, sem questionar: “Por que eu? O que as pessoas pensarão de mim?” Ela concordou com a maneira como Deus a guiava.


Então, José também demonstrou muita bondade e não desejou infamá-la. No início, ele estava inclinado a deixá-la “secretamente”, para protegê-la da condenação pública. Entretanto, ao invés disso, ele foi guiado a compreender o significado espiritual do que acontecia. Portanto, podemos aprender com seu exemplo a ouvir a Deus, sempre que estivermos confusos ou inseguros.


JT: Assim, mesmo antes do evento real do nascimento de Jesus, a história do Natal nos fornece, de forma direta, a orientação espiritual sobre a forma de viver?


CWL: Sim, já! Ninguém na narrativa foi impedido de ouvir a mensagem espiritual. Então, Jesus nasceu e os pastores deixaram suas ovelhas porque os anjos cantavam para eles: “Glória a Deus nas maiores alturas, e paz na terra entre os homens, a quem ele quer bem” (Lucas 2:14). Eles deixaram suas ovelhas, mas não ficaram preocupados em deixá-las e depois, naturalmente, voltaram para elas. O mesmo aconteceu com os reis magos. Eles estavam atentos. Guiados por Deus, seguiram a estrela e levaram presentes perfeitos para o menino Jesus. Ouro, incenso e mirra não eram presentes extravagantes, e sim preciosos e significativos. Alguém certa vez mencionou que o ouro simbolizava que Jesus seria rei. O incenso, que seria um profeta. E a mirra que seria um sanador. À medida que os reis magos continuavam receptivos às demais orientações, provenientes de Deus, foram inspirados a não voltar ao Rei Herodes para lhe contar onde estava o bebê recém-nascido, o que protegeu Jesus da morte.


Todos esses acontecimentos da história do Natal nos mostram que podemos pôr de lado nossas ansiedades e preocupações humanas e ouvir a Deus. Podemos então sentir a paz interior que nos capacita a expressar sabedoria em nossa vida diária, em situações em que precisamos lidar com finanças, encontrar emprego, ajudar a um vizinho, ou estarmos alerta às maneiras específicas pelas quais podemos orar pelo mundo.


Você sabe, Joan, existe algo que aprecio a respeito de como as coisas se resolveram para a sagrada família. Quando Jesus nasceu, o Rei Herodes decretou a morte de todos os bebês, a fim de se livrar de Jesus. José ouviu a mensagem angelical de Deus, ou seja, ele estava receptivo, e foi guiado a sair de Belém e a buscar segurança para sua família no Egito. Esse é um exemplo que é totalmente prático hoje em dia. Ao invés de fazer malabarismos com os detalhes da vida e ficar dominado por eles, precisamos ter a humildade de ser divinamente guiados em todas as decisões.
JT: Chris, você poderia nos dar um exemplo de sua própria vida sobre esse ouvir divino?


CWL: Há alguns anos, eu era mãe, estava separada e acabava de retornar ao mercado de trabalho. Comprei uma casa pelo sistema hipotecário do banco, para pagar em 30 anos. Contava com fundos que me eram devidos para completar a transação. Contudo, os fundos não me foram pagos e amigos quiseram que eu entrasse com uma ação legal. Então, algo muito importante aconteceu em minha vida naquela mesma ocasião. Fiz o Curso Primário da Ciência Cristã e aprendi uma grande verdade, que revolucionou meu pensamento: precisava colocar a Deus em primeiro lugar.


Isso me ensinou muito sobre o débito que eu tinha. Compreendi que o verdadeiro débito, o débito primário, eu não o devia ao banco, mas sim a Deus, por todo o amor que ele havia derramado em minha vida. Devia a Ele mais atenção, mais reconhecimento, mais compreensão. Fui guiada a ouvir Sua orientação e a compreender que Ele era o provedor. Conseqüentemente, uma vez que compreendi essa verdade, o dinheiro que necessitava para a hipoteca apareceu. Contudo, ele não veio da fonte com a qual havia contado no início. Tendo em vista que a provisão real se origina no Espírito, os fundos que eu necessitava vieram da forma que jamais poderia imaginar. Além isso, outras formas de ajuda apareceram, e não tinham nada a ver com dinheiro.


Essa é a coisa maravilhosa sobre o Cristo, ele não apareceu uma única vez na forma do nascimento de Jesus. O Cristo, a Verdade, vem a nós repetidas vezes para nos lembrar do nosso relacionamento íntimo e contínuo com Deus.


JT: Você poderia falar mais sobre esse cuidado e orientação constantes em termos de compromissos financeiros? As estatísticas dão a entender que um dia de Natal se transforma em 364 dias para se pagar por ele. Certamente a passagem na Oração do Senhor “perdoa-nos as nossas dívidas” não nos dá um passe livre para se gastar demais ou incorrer em débito excessivo no cartão de crédito.


CWL: Em várias traduções bíblicas, “perdoa-nos as nossas dívidas” significa “perdoa-nos os nossos pecados”. No original grego, a palavra pecado significa “errar o alvo”, como quando alguém arremessa uma flecha. A interpretação espiritual dessa frase do Pai Nosso, escrita por Mary Baker Eddy, nos diz muito: “E o Amor se reflete em amor” (Ciência e Saúde, p. 17). Esse significado é um reconhecimento profundo de que Deus nos outorga todo o amor e sabedoria que necessitamos para administrar nossas finanças, mesmo quando elas estejam sob ameaça. Se ponderássemos especificamente sobre o Natal e a despesa com a troca de presentes, poderíamos nos perguntar: “O que estou dando? Por que estou dando”? O ato de dar um presente deveria trazer tanta alegria para a pessoa que dá como àquela que o recebe. Portanto, se gastamos mais do que temos e nos preocupamos sobre o débito acumulado, isso dificilmente trará paz interior. Não precisamos ter tudo que vemos. Pelo ouvir divino, talvez sejamos guiados a um tipo diferente de presentear no Natal, a um gesto, a alguma expressão amorosa de bem. Algo que seja realmente digno de se dar.


JT: Em consideração à nossa terra, todos nós somos encorajados a deixar cada vez menos nossas “pegadas” sobre o planeta. Isso parece ter uma interpretação espiritual inevitável. Qual sua opinião a respeito?


CWL: Isso me faz pensar imediatamente sobre a ocasião em que Jesus alimentou as multidões. Mesmo quando ele fez essa incrível demonstração da abundância infinita de Deus, e transformou os poucos pães e peixes em quantidade suficiente para alimentar mais de 5.000 pessoas, ainda houve sobras. Contudo, Jesus se certificou de que não haveria em absoluto nenhum desperdício. Ele instruiu seus discípulos: “Recolhei os pedaços que sobraram, para que nada se perca” (João 6:12). Podemos aprender muito com esse exemplo. A única coisa que Jesus deixou por onde passou foi o pensamento que abençoa os outros.


JT: Vamos falar um pouco sobre a palavra obediência. O que me vem à mente é que todos na história do Natal, Maria, José e os pastores, ouviram. E então obedeceram às mensagens divinas que vieram a eles, individualmente. Contudo, o conceito de obediência é freqüentemente visto sob uma ótica negativa, confinante, não-criativa, só trabalho e nenhuma alegria. Mas a história do nascimento de Jesus está repleta de alegria. A mensagem sobre a qual conversamos, com relação aos acontecimentos anteriores ao nascimento de Jesus, parece dizer que a alegria está realmente conectada à obediência.


CWL: Certamente. Aprender a compreender que toda intuição provém de Deus é uma tarefa jubilosa, mas devemos estar dispostos a reservar um espaço tranqüilo no pensamento para esse ouvir. Jesus mostrou ao mundo a união completa que existe entre nosso Pai-Mãe Deus e cada um de nós. Ele nos ensinou a ser ouvintes divinos. Portanto, podemos ouvir as boas-novas.


JT: Recentemente, li um artigo que se referia ao Natal com o trocadilho “Christmas”, Natal em inglês, como “Stressmas” (festa estressante). Parece que a época vem com certas expectativas para cenários humanos que acabam não se realizando. Caso se trate de um grande grupo familiar, todos “deveriam” se dar harmoniosamente. Ou talvez você já tenha ouvido falar de alguém sem família, que diz que a solidão “faz parte do pacote”. Contudo, conforme Mary Baker Eddy escreveu: “...a expectativa acelera nosso progresso” (Ciência e Saúde, p. 426). Aqui, ela certamente se referia a um tipo de “expectativa” diferente daquele que costuma motivar as festas natalinas.


CWL: Gosto da passagem na Bíblia, no início do Evangelho de João, que se refere à vinda de Jesus: “Porque todos nós temos recebido da sua plenitude e graça sobre graça” (1:16). Essa declaração nos diz que podemos esperar graça e paz absolutas nesta época, e sempre. Assim, à medida que reconhecermos a necessidade de sermos amorosos, poderemos também reconhecer que não temos de ficar presos a algum amor específico ou a “fazer” algo. Estamos sendo o amor, a própria expressão do Amor divino. Como idéia de Deus, já incluímos essa qualidade chamada amor, da mesma maneira que já incluímos a paz.


Lembra quando alguém disse a Jesus que sua mãe e seus irmãos haviam pedido para vê-lo e ele respondeu: “Quem é minha mãe e quem são meus irmãos”? Então, ele estendeu a mão para os discípulos e disse: “Porque qualquer que fizer a vontade de meu Pai celeste, esse é meu irmão, irmã e mãe” (Mateus 12:48, 50). Jesus estava nos dizendo que todos nós compartilhamos do mesmo Pai-Mãe, que é Deus; portanto, somos todos aparentados da forma mais substancial que existe. Laços de sangue são secundários e, quando compreendermos isso, vivenciaremos “...a divindade abraçando a humanidade...”, exatamente como Jesus fazia (Ciência e Saúde, p. 561). O reconhecimento desse amor universal abraçando a todos nós se estende muito além de vidas individuais, dos preparativos para a família, da compra de presentes. Ele provê aquele espaço tranqüilo sobre o qual falamos anteriormente, onde ouvimos a Deus. Isso nos leva muito além de qualquer lista “de coisas a fazer” para as festas natalinas. Não envolve apenas a nós mesmos, mas o que pode vir sob a forma da inclusão de alguém que esteja solitário nesta época do ano ou talvez venha sob a forma de uma oração profunda, permanente, por aqueles em necessidade, em nosso próprio país ou em qualquer outra parte do globo.


JT: Entendo o que você está dizendo. Uma capacidade de ir além da nossa própria experiência, porque esse amor espiritual ao qual estamos conectados se propaga pelo mundo, e inclui lugares onde as pessoas lutam contra a pobreza e a violência.


CWL: Assim, percebemos a plenitude do amor sempre presente de Deus nesses lugares, exatamente onde a pobreza e a violência estejam se manifestando. A cura pode vir por meio da compreensão de que o cuidado de Deus é o direito divino de todos. Posso lhe dar um exemplo? Quando estive no Congo há alguns anos, meu coração se comoveu por um homem africano, um estudante de Ciência Cristã. Ele me perguntou com grande sinceridade: “Por que podemos curar a nós mesmos, mas não podemos curar nossa economia”?


Essa pergunta permaneceu comigo, quando voltei para os Estados Unidos. Ao comentar isso com um colega, ele disse: “Bem, Chris, talvez devamos mudar nosso conceito sobre a África”. Isso causou um profundo efeito em mim. O que é que mantemos no pensamento? Angústia e desespero? A crença de que existam partes do mundo que estejam realmente “abandonadas por Deus”? Ou reconhecemos que a Mente divina enche todo o espaço e, portanto, governa tudo e todos?


JT: Então, em nossas orações pelo mundo, devemos estar alerta para o fato de que não estamos tentando trazer o maior para o menor?


CWL: Exatamente. Saber que o amor de Deus está presente, ativo e poderoso em todas as partes do mundo, da mesma forma que o reivindicamos para nós mesmos. É o amor universal que Jesus reiterava para o mundo. Na Bíblia, Elias predisse a chegada de uma grande seca. Ouvindo a orientação de Deus, ele fez “segundo a palavra do Senhor” (1 Reis 17:5). Como conseqüência, conforme Deus prometera, os corvos lhe traziam comida.


Durante essa mesma visita ao Congo, outro africano, estudante de Ciência Cristã, contou-me que, durante a guerra civil em seu país, ele estava em sua aldeia e bombas-foguetes caíam por toda parte. Logo, toda a aldeia resolveu evacuar, mas ele decidiu ficar. Depois de alguns dias, esse homem acabou ficando sem comida e estava prestes a morrer de fome. Ele notou que havia duas ou três galinhas ali por perto e tentou apanhá-las, mas não conseguiu. Então, decidiu entrar em sua choupana e orar. Ele orou para compreender que o amor de Deus estava em toda parte e isso significava que a provisão tinha de estar presente. Repentinamente, o som de cachorros latindo interrompeu sua oração e ele saiu para ver o que estava acontecendo. Os cachorros estavam caçando uma galinha. Eles a apanharam e a trouxeram à porta desse homem e fugiram. Ele a cozinhou e preparou a refeição que lhe era muito necessária e, depois de alguns dias, deixou a aldeia e foi para um lugar onde havia suprimentos. Para mim, essa é uma demonstração dramática, semelhante à dos corvos que alimentaram Elias. Essas histórias bíblicas são totalmente relevantes nos dias de hoje.


A “expectativa” na Ciência Cristã é sempre para o bem, não importa como apareça. Essa idéia de não delinear antecipadamente o que é o “bem”, faz-me lembrar novamente da história do Natal. A maioria das pessoas acha que o fato de Jesus ter nascido em uma manjedoura foi um começo muito modesto, ou seja, nascer em uma “humilde” manjedoura. Maria e José não conseguiram se hospedar porque “não havia lugar para eles na hospedaria” (Lucas 2:7). Entretanto, quando estive em Jerusalém há alguns anos, dando conferências sobre a Ciência Cristã, um amigo historiador me contou que, no tempo de Jesus, uma hospedaria consistia de um único grande salão do qual todos participavam, onde dormiam, comiam, e se entregavam a bebedeiras. Portanto, a vontade de Deus para o nascimento de Jesus não era guiar a sagrada família para tal atmosfera, mas a de prover a simplicidade e a tranqüilidade de um estábulo, o melhor lugar que poderia ter para o nascimento sagrado. Às vezes, o que não parece aos olhos do mundo como “bom” é, na realidade, muito bom.


JT: Mary Baker Eddy escreveu que qualquer sistema metafísico que seja: “...baseado no falso testemunho dos sentidos materiais assim como nos fatos da Mente” é “semi-metafísico” ( ver Ciência e Saúde, p. 268). Uma vez que a Ciência Cristã está fundamentada inteiramente na Mente divina, como podemos nós, em um mundo com outras incontáveis religiões e disciplinas espirituais, estarmos alerta para não adotarmos uma atitude “sou mais santo do que você”, com relação àqueles que pensam de forma diferente?


CWL: Há um ditado maravilhoso: “Existem vários caminhos para se subir a uma montanha, mas a vista do cume é a mesma para todos”. Cada um de nós, em qualquer parte que estivermos no mundo, trilha individualmente sua própria jornada espiritual. Todos nós somos movidos pelo Espírito divino rumo a uma compreensão maior do nosso relacionamento com Deus. Ninguém é mais santo do que o outro. Devemos ser cuidadosos para não adorar a Ciência Cristã em vez de adorar a Deus.


JT: Poderia falar um pouco mais sobre isso? A idéia de que podemos cair na tentação de adorar uma religião em vez de adorar a Deus?


CWL: Leio diariamente a Lição Bíblica Semanal da Ciência Cristã, freqüento os cultos dominicais e as reuniões de testemunhos às quartas-feiras. Contudo, sinto que tenho de me perguntar continuamente: Estou realmente estabelecendo minha conexão com Deus? Porque, quando verdadeiramente sentirmos essa união com a Mente divina, nunca poderemos desenvolver uma atitude “sou mais santo do que você”. As orientações da Verdade divina nunca podem nos levar a julgar os outros. A Verdade nos leva àquele reconhecimento humilde e jubiloso a respeito de todos nós, cristãos, judeus, muçulmanos, budistas, ateístas, agnósticos, etc., como idéias da Mente divina. Somos “...Sua família universal, unidos no evangelho do Amor” (Ciência e Saúde, p. 577). Cada um de nós sempre foi e sempre será a idéia de Deus. Diferenças familiares, de nacionalidade, de status econômico ou de educação são conceitos humanos que parecem nos dividir. Contudo, em Deus, a única Mente infinita, qualquer divisão é impossível.


JT: Isso me faz pensar sobre o que falávamos anteriormente, ou seja, a alegria ligada à obediência. Quando adoramos uma religião em vez de adorar a Deus, pode parecer uma obediência sem alegria.


CWL: Claro! Além disso, a alegria é tão importante! Deus já se regozija conosco. Não precisamos assumir a responsabilidade pessoal de demonstrar a Ciência Cristã: “Ó, tenho de ser mais amorosa; tenho de ser mais isso ou aquilo”. Ao contrário, precisamos apenas aceitar o fato de que “sou o instrumento do amor de Deus, da paz de Deus. Sou o instrumento através do qual Deus canta Sua alegria pela Sua criação”.


Deus não nos vê como Cientistas Cristãos, judeus ou muçulmanos. Saber isso nos traz muita libertação. Meus familiares mais próximos possuem diferentes pontos de vista com relação à religião, filosofias e sistemas de pensamento. Alguns são unitaristas, outros são católicos, outro encontra paz na espiritualidade dos índios americanos, outros na homeopatia e no ioga. Há alguns anos, tive uma cura maravilhosa sobre isso. De repente, senti-me muito grata pelo fato de que cada um em minha família estava se aproximando mais de Deus, do Espírito. A sensação de “Ó, gostaria que todos eles fossem Cientistas Cristãos” desapareceu completamente. Todos somos parte da família universal de Deus. Não temos de apenas tolerar a jornada espiritual um do outro, mas, ao contrário, podemos respeitá-la.


JT: Isso é maravilhoso, Chris. Que lembrete gentil de que “a divindade abraçando a humanidade” começa em nosso próprio quintal.


CWL: Nós todos, realmente todos, vivemos e nos movemos e temos nosso ser, conforme o versículo da Bíblia diz, dentro do Amor divino, que abraça a humanidade. Ao ouvir essa mensagem, é impossível deixar de expressar o amor pelo qual somos amados por Deus. Além disso, traz consigo uma grande alegria. Como conseqüência, podemos dar, em nossos corações, as boas-vindas ao menino sanador do Natal, a cada dia, não importa a época do ano!

Como alcancei a harmonia e fui curado

Às vezes, podemos nos sentir sem direção pelos rumos inesperados que a vida toma. Contudo, aprendi que posso contar com o infinito amor de Deus e saber que Ele sempre nos guia.
Fui para a Escola Dominical durante a infância, mas acabei deixando de frequentá-la na adolescência, porque minha família se mudou para um lugar afastado de uma igreja da Ciência Cristã.
Há cerca de quinze anos, já na fase adulta, sentia-me perdido. Dentre outras coisas, o hábito de beber e o vício de fumar me incomodavam bastante. Alguns amigos me aconselharam a fazer um curso, fundamentado em uma filosofia oriental, o qual me ajudaria a viver a vida de forma mais harmoniosa. O curso durou 15 dias, em um hotel-fazenda perto do Rio de Janeiro.
Contudo, ao término das aulas, não saí com um estado mental elevado, mas sim, deplorável. Alternava constantemente os momentos de euforia extrema e depressão profunda.
Em uma dessas situações de desespero, resolvi me volver a Deus. Lembrei-me de uns Arautos que minha avó havia me dado no passado e percebi que a leitura seria de grande importância.
Também me veio ao pensamento que, poucos dias antes, minha mãe encontrara um colega meu da Escola Dominical, e que ele tinha lhe fornecido seu número de telefone. Resolvi telefonar-lhe, pois queria o endereço atual de uma das igrejas da Ciência Cristã, para comprar Ciência e Saúde. Decidi também pedir para um Praticista da Ciência Cristã orar junto comigo. A partir daí, dediquei-me com afinco à religião.
Pela oração, percebi que nutria ressentimento pelas pessoas que haviam ministrado aquele curso. O perdão foi o começo da cura. Continuei orando junto com o praticista por dois meses, até que os altos e baixos emocionais pararam completamente e não retornaram mais.
Essa cura me marcou bastante pela transformação que trouxe à minha vida, e abriu caminho para outras curas.
À medida que estudava a Ciência Cristã, compreendia que o meu ser espiritual, à imagem de Deus é completo e que não precisa de nenhum aditivo, como o álcool e a bebida. Há uma passagem em Ciência e Saúde, que diz: “A adesão, a coesão e a atração são propriedades da Mente. Pertencem ao Princípio divino e mantêm o equilíbrio...” (p. 124). Conforme entendia que a única atração é a do Espírito e que a satisfação e felicidade genuínas são providas pelo Amor divino e não pela matéria, fui deixando esses hábitos. Faz mais de 10 anos que parei completamente de fumar e de beber.
Outra cura ocorreu há quase uma década, quando uma verruga se desenvolveu na parte interna da coxa esquerda, o que muito me incomodava, devido ao atrito entre as pernas ao caminhar. Com o passar do tempo, o aspecto da verruga se tornou muito feio, o que alarmava minha esposa, que chegou a me dizer que poderia ser uma doença grave. Então, decidi novamente buscar a cura pela Ciência Cristã e recorri a uma praticista para que me ajudasse pela oração.
A praticista me pediu para que eu fosse à sua residência para conversarmos. Achei interessante o fato de ela se recusar a ver a verruga, por achar desnecessário para suas orações. Durante todo o tempo em que estive lá, ela afirmava que Deus não havia criado a doença, pois Ele é o infinito bem e tudo o que criou é perfeito, e que eu, como Seu reflexo, manifesto apenas a perfeição divina.
Conversamos bastante e ela me recomendou a leitura de algumas passagens de Ciência e Saúde e de alguns Arautos, o que fiz ao chegar em casa. Após alguns dias, notei que a verruga havia sumido, sem deixar nenhum vestígio, e não cresceu mais.
Sou muito grato por saber que nada pode nos separar do Amor divino, nem impedir nosso progresso espiritual.


Christiano mora no Rio de Janeiro, RJ.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Mudança para o bem

Quando estava a bordo de um avião, coloquei alguns trocados dentro de um envelope escrito em inglês: “Change for good” (Trocados para o bem), o qual estava na bolsa do encosto do assento à minha frente. Que nome maravilhoso, pensei. A palavra “change” em inglês quer dizer “troco, ou dinheiro trocado”, mas também significa “mudar, mudança”, portanto, poderíamos também ler como “Mudança para o bem”. Esse fundo de caridade da UNICEF (Fundo das Nações Unidas para Infância), destinado a crianças carentes, em parceria com as companhias aéreas, tem arrecadado milhões de dólares com as doações de passageiros como eu.
Aquele nome permaneceu comigo e me fez ponderar sobre o conceito de mudar. Frequentemente temos a impressão de que uma mudança, de qualquer tipo, é ameaçadora, até mesmo terrificante, definitivamente algo ruim. Será possível que uma transformação possa ser uma coisa boa?
Para começar, talvez devamos considerar isto: Deus é o único bem. Deus não muda. De fato, Seu terno amor e atenciosa solicitude não vêm e vão, mas são naturais e constantes em toda a Sua criação. Esse fato é verdadeiro, seja o que for que esteja ocorrendo ao nosso redor.
Um dos meus hinos favoritos diz:
“Mesmo na hora que parece mais escura
Sua bondade imutável se revelará
Através da névoa, Seu brilho resplandecerá
Deus é luz, Deus é Amor”.
(Hino 79, do Hinário da Ciência Cristã em inglês)
A ideia da bondade imutável expressa a constância do amor de Deus.
A criação de Deus é espiritual, a própria expressão e objeto de Seu amor, e isso inclui a todos nós. Portanto, é impossível estarmos separados dessa fonte celestial de bondade. Por essa razão, é possível nos sentirmos felizes com a ideia de mudança, ao invés de atemorizados.
A disposição de mudar é uma característica da confiança em Deus
Alegria e mudança nem sempre parecem caminhar juntas. Mas por que não deveriam? As crianças aprendem algo novo todos os dias e ficam contentes por dominar novas habilidades. Talvez possamos aprender com isso. Como Mary Baker Eddy, Fundadora desta revista, escreveu em Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras: “A disposição de vir a ser como uma criancinha e de deixar o velho pelo novo, torna o pensamento receptivo à ideia avançada. A satisfação de deixar os falsos marcos e a alegria de vê-los desaparecer — eis a disposição que contribui para apressar a harmonia final” (pp. 323–324).
A disposição de mudar é uma característica da confiança em Deus, da confiança no bem. Por outro lado, resistir às mudanças é como dizer que o bem acaba no horizonte ou se agarrar à própria opinião, dizendo: “Eu sei do que eu gosto e gosto do que eu sei”! O medo acerca do futuro ou do desconhecido anda lado a lado com a resistência. Entretanto, Deus é o “Amor que lança fora o medo”, e é onisciente e onipotente, já sabe aquilo que parece desconhecido e que já está presente no local para onde Ele nos conduz (ver Retrospecção e Instrospecção, p. 61).
Achei saudável examinar minha reação à perspectiva de mudança, e perguntar a mim mesma se estava sendo:
Rígida ou flexível?
Temerosa ou confiante?
Retrógrada ou progressiva?
Negativa ou positiva?
Pensemos em Abraão...
Esse tipo de escolha tem confrontado a todos que se aventuram por território desconhecido, desde Moisés, conforme a Bíblia, colocando o pé no Mar Vermelho, até Copérnico que ousou dizer que a terra gira em torno do sol. Entretanto, talvez seja justo dizer que aqueles que mudaram o destino da humanidade para melhor, seriam identificados como flexíveis, confiantes, progressivos e positivos, em vez de rígidos, temerosos, retrógrados e negativos, à medida que enfrentavam mudanças ou as criavam.
Pensemos em Abraão, que viveu centenas de anos antes de Moisés. Lemos sobre sua vida no livro do Gênesis (capítulos 12 a 25). Lá está ele, confortavelmente estabelecido com sua família na cidade de Ur dos Caldeus. Então, em um determinado dia, Deus diz: “Sai da tua terra... e vai para a terra que te mostrarei” (ver Gênesis 12: 1–4). Então, surpreendentemente, Abraão e sua família fizeram exatamente isso!
À medida que acompanhamos sua jornada de vida, descobrimos que é uma história de imprevisibilidade e mudanças em escala épica. Tudo é desconhecido. Para essa viagem não houve nenhum planejamento, ninguém para quem se pudesse ligar para saber a previsão do tempo, ninguém que pudesse informar sobre as tribos amigas e inimigas que eles talvez pudessem encontrar pelo caminho. Contudo, à medida que Abraão viaja, ele aprende a conhecer e a confiar em Deus como o único Deus verdadeiro, o Criador, um Deus amoroso com qualidades tanto maternais como paternais. Abraão ouve a promessa de Deus de que ele seria o patriarca de uma grande nação e sua esposa conceberia um filho, Isaque, quando ambos já tinham passado da idade de ter filhos. Então, quando Abraão acredita que teria de sacrificar Isaque sobre um altar, para provar sua devoção a Deus, ele aprende que essa prática cruel jamais havia sido a vontade do Amor divino imutável.
A mão de Deus está no leme
A nova compreensão que Abraão obteve sobre Deus é a maior mudança de todas. Por meio dela, ele transforma não apenas seu próprio modo de vida e de devoção, mas o de uma nação inteira. Quase 2.000 anos depois, seus descendentes ainda se lembram dele: “Pela fé, Abraão, quando chamado, obedeceu, a fim de ir para um lugar que devia receber por herança; e partiu sem saber aonde ia” (Hebreus 11:8). Ciência e Saúde também afirma que Abraão “...ilustrou o propósito do Amor de criar a confiança no bem, e demonstrou o poder da compreensão espiritual para preservar a vida” (p. 579).
A capacidade de êxito ao lidar com transformações é uma experiência de vida que resulta naturalmente da confiança no nosso relacionamento inquebrantável com Deus. A estabilidade proveniente de saber, como disse o Apóstolo Paulo, que: “...nele vivemos, e nos movemos, e existimos...” (Atos 17:28), inclui a habilidade de navegar por águas turbulentas na vida, sem perder a direção da bússola.
Muitos “marcos de transição” na vida envolvem mudanças, tais como ir para a escola pela primeira vez, a passagem do ensino médio para a faculdade, o primeiro emprego, o casamento e a aposentadoria. Cada um deles pode ser uma oportunidade de dominar o medo de mudança ou a resistência a ela. A convicção de que o Amor divino está sempre presente, abre o caminho para a vitória, não para a derrota, mesmo que haja sérios desafios durante o processo de transição.
A transformação, que reflete a ação da Mente divina, leva ao desenvolvimento e ao progresso e jamais é algo para se temer. A oração traz a calma certeza de que a mão de Deus está no leme e que Seu controle sobre os acontecimentos é seguro e certo.
Lembro-me muito vividamente de seu poder de recuperação
Tive um amigo que foi um exemplo extraordinário disso. Ele estava perto da idade de se aposentar, quando os rendimentos que deveria receber dos negócios de sua família foram dizimados por atitudes insensatas de outros. Parecia impensável para meu amigo ser privado dos benefícios de uma vida inteira de trabalho. Entretanto, lembro-me vividamente de seu poder de recuperação e excepcional capacidade de deixar o problema de lado e seguir em frente. Ele tinha certeza de que o bem tem sua fonte em Deus e que é permanente e imutável. Aceitou o cargo de Leitor na igreja filial da Ciência Cristã que frequentava e, ao mesmo tempo, ocupou-se de um trabalho temporário que beneficiava muitas pessoas. Depois disso, mudou-se para o outro lado do mundo com alguns membros de sua família e, no novo país, conseguiu um emprego em uma área em que nunca trabalhara antes. Desfrutou de sua nova vida com disposição e jamais olhou para trás com ressentimento. Trabalhou muito além da idade considerada normal para aposentadoria, mantendo um otimismo jovial e entusiasmo por novas experiências.
Às vezes, a mudança parece mais algo urgentemente necessário do que temido. Outra amiga enfrentou esse dilema, quando conseguiu seu primeiro emprego como professora em um bairro com altos índices de violência, em uma grande cidade inglesa. Apesar de seu entusiasmo e grandes expectativas, ela descobriu que sua turma representava um mundo dilacerado pela violência, que podia entrar em erupção a qualquer momento e sem qualquer aviso. Cuspiam, falavam palavrões e alguns alunos atiravam cadeiras e carteiras pela sala. Era um enorme contraste com a vida calma que levava. Ela não conseguia controlar a classe por meio de confrontação, mas ficou claro que, para o benefício de todos, havia uma necessidade premente de mudança. Ela estava firme em sua convicção do poder de Deus para curar, e sentia que fora guiada a lecionar naquela escola.
Ela perdeu a consciência das coisas caóticas ao seu redor
Certo dia, quando outro tumulto se formava na sala de aula, ela se afastou mentalmente da cena e estas palavras de Ciência e Saúde lhe vieram ao pensamento: “...o homem está livre ‘para entrar no Santo dos Santos’ — o reino de Deus” (p. 481). Por um momento, ela perdeu a consciência das coisas caóticas ao seu redor. De repente, compreendeu, de forma profunda, que ela e os alunos estavam sob o controle de Deus, e que somente filhos de Deus estavam presentes naquela sala de aula. Para sua surpresa, quando olhou novamente para a classe, todos estavam sentados silenciosamente, esperando por aquilo que ela iria dizer a seguir.
Houve mais algumas erupções durante as semanas seguintes, mas, a cada vez, ela respondia com a mesma atitude de oração. Seus colegas ficaram perplexos por ela nunca mais ter tido problemas com aquela turma. Depois disso, passou a lecionar de formas criativas, e alguns de seus alunos até seguiram carreiras nunca consideradas possíveis anteriormente. Minha amiga foi reconhecida por seu excelente ensino e foi premiada com uma bolsa de estudos, concedida pelo governo norteamericano, para estudar e lecionar nos Estados Unidos. Ela continuou a trabalhar dessa forma com jovens durante mais de 20 anos, com os mesmos resultados.
Alguns tipos de mudança parecem particularmente difíceis de aceitar, como quando novas descobertas surpreendem a sociedade e as pessoas descobrem que suas habilidades específicas não são mais atuais. Então, talvez possamos nos sentir compreensivelmente ultrapassados. Contudo, a verdade é que os filhos preciosos de Deus nunca ficam desvalorizados. O verdadeiro valor de alguém nunca pode ser diminuído por uma mudança de panorama. Os escribas medievais não se tornaram menos valiosos pelo advento da imprensa, os relojoeiros pelo uso dos cristais de quartzo ou os mineiros de carvão pela descoberta de novas fontes de energia. Nem pode a tecnologia da computação desvalorizar as habilidades não tecnológicas. Entretanto, mudanças radicais como essas realmente exigem algo de todos, tanto jovens como idosos. Elas desafiam as posturas mentais a evoluírem e oferecem oportunidades de progresso para aqueles que estão dispostos a progredir.
A habilidade não é pessoal
Também existem formas de mudanças que parecem o exato oposto do bem. Mary Baker Eddy pesquisou esse assunto, descrevendo os elementos turbulentos que parecem ameaçar a existência humana. “Este mundo material está se tornando, desde já, arena de forças em conflito”, começa uma passagem de Ciência e Saúde, referindo-se à “fome e peste, carência e desgraça, pecado, doença e morte...”. Isso incluiria turbulências pessoais repentinas, tais como: divórcio ou falência, e turbulências globais, como: terremotos, enchentes, doenças e fome. Ela continua: “De um lado haverá discórdia e consternação; de outro lado haverá Ciência e paz”. E conclui: “A crença é mutável, mas a compreensão espiritual é imutável” (p. 96). Mary Baker Eddy estava extremamente ciente desses fatos ao apresentar suas ideias ao mundo. Ela reconhecia que sem a capacidade de progredir, mental e espiritualmente, a humanidade poderia permanecer na ignorância da própria Ciência ou conhecimento do Cristo, que pode salvar todos do desespero e da destruição.
Portanto, desenvolver a capacidade de ver além das aparências negativas, a fim de perceber os fatos espirituais acerca da criação e seguir em frente, é de grande importância, não apenas para nós mesmos, mas para o mundo inteiro. Essa habilidade não é pessoal. Em seu senso mais elevado, ela reflete o amor e a bondade imutável de Deus, que resulta em cura, restauração, renovação, desenvolvimento e progresso.
É assim que o mundo muda para o bem, momento a momento, ideia a ideia, vida a vida.


Fenella Bennetts é Praticista e Professora de Ciência Cristã em Esher, Inglaterra.

Cura de cálculo urinário

Solange Cravo Silveira

Ao me dirigir à igreja da Ciência Cristã de minha cidade, comecei a sentir fortes dores na região abdominal. Os pensamentos que me vinham eram aterrorizantes, mas procurei não ter medo e nutrir apenas um sentimento de amor por todas pessoas que estava prestes a encontrar.
A dor melhorou, mas mesmo assim foi difícil terminar minhas atividades na igreja. Quando fui ao banheiro, senti fortes náuseas. Isso ocorreu há aproximadamente dez anos. Na época, eu desmaiava ao ter tais enjoos, e foi exatamente o que aconteceu naquela ocasião. Uma amiga, que também estava na igreja, amparou-me e me levou para casa, onde permanecemos juntas por um período, em espírito de oração.
Depois de algum tempo, meu filho e a esposa, que deveriam estar no trabalho durante o dia, chegaram de surpresa em minha casa e ficaram muito assustados com o meu estado. Sem o meu consentimento, chamaram uma médica, que ficou muito preocupada quando tirou minha pressão e pediu que eu permanecesse em repouso.
Em seguida, minha filha, que também é Cientista Cristã, chegou e, com a minha aprovação, ligou para um Praticista da Ciência Cristã e lhe pediu que nos ajudasse em oração. O praticista lhe pediu que lesse para mim uma passagem de Ciência e Saúde, que diz: “Uma idéia espiritual não contém um só elemento do erro, e essa verdade remove convenientemente tudo quanto é nocivo” (p. 463). Ela prosseguiu com a leitura e também cantou um hino do Hinário da Ciência Cristã. Mesmo com muita dor, eu procurava assimilar aquelas ideias.
Depois de 15 minutos, percebi que a dor se deslocava para baixo. Então, tive vontade de ir ao banheiro, mas como era muito difícil caminhar, pedi que minha filha trouxesse um recipiente limpo, no qual urinei. Ao urinar, expeli uma pedra. Senti um grande alívio e a dor cessou instantânea e definitivamente. Em nenhum momento fiz uso de medicamentos nem de métodos paliativos para aliviar a dor. Visto que a cura ocorreu imediatamente após o contato com o praticista, não tenho dúvidas de que foi fruto de nossa oração.
Dois dias depois, viajei mais de dez horas de ônibus para São Paulo, a fim de participar da reunião da minha Associação de alunos da Ciência Cristã, e não senti dores.
Aquela também foi a última vez em que desmaiei após sentir náuseas. A cura foi completa e permanente.
Com essa experiência, entendi a importância do estudo sincero de Ciência e Saúde e da oração constante. Vigiar o pensamento me ajudou a manter a confiança no poder curativo de Deus. Comprovei que a Verdade realmente remove “tudo quanto é nocivo”.


Solange mora em Florianópolis, SC

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Viver na atmosfera do Amor divino

Parece que todos os anos as pessoas, independentemente do local onde vivem, diante da mudança climática de verão para inverno, começam a sentir os desagradáveis sintomas de tosse, febre, fraqueza e dores. Embora existam pontos de vista diferentes a respeito de como essas doenças são transmitidas e se proliferam, será que há alguma maneira, além de agir com sabedoria, pela qual alguém possa se proteger a si mesmo, a seus familiares e amigos desses males físicos que surgem com mais frequência no inverno? Algo que traga alívio e cura permanentes? Podemos começar a nos conscientizar de que nos encontramos agora mesmo na atmosfera do Amor divino e, conforme o vigoroso discurso do Apóstolo Paulo para a platéia no Areópago, em Atenas, “…vivemos, e nos movemos, e existimos...” no Espírito, “porque dele também somos geração” (Atos 17:28).
Essas ideias também estão expressas com muita força e clareza em um poema publicado em inglês, e que consta do Hinário da Ciência Cristã (ver hino 144). O que chama muito minha atenção no original em inglês é a imagem de que “respiramos” na “atmosfera do Amor”. Ao destruir o sentido material, trazemos à luz as maravilhas da Mente eterna. Além disso, o Princípio imortal está conosco em todo lugar e nos mantém perfeitos em Seu amor.
Viver, mover-se, respirar e desempenhar nossas atividades “na atmosfera do Amor divino” foram as palavras que me vieram ao pensamento ao ouvir, no mês de junho do ano passado, inverno no hemisfério sul, as contínuas notícias sobre doenças da estação: sinusite, rinite, gripe, resfriados, e os sofrimentos que trazem às pessoas, em especial às crianças e aos idosos. Quando compreendemos a atmosfera pura do Amor, podemos respirar totalmente livres do temor de contaminação e mal.
Nosso corpo funciona harmoniosamente sob a ação das leis espirituais do Amor divino, Deus. Quando temos a impressão de que somos um organismo enfermo, a compreensão dessas leis espirituais e a confiança nelas agem em nossa consciência e mostram que nossa identidade é espiritual, não material. Dessa forma, o corpo volta às suas funções normais.
A compreensão espiritual torna possível declarar agora mesmo que todos em nossos lares e com quem entramos em contato nas escolas, nos locais de trabalho e nas ruas vivem, respiram e existem sob a ação protetora do Amor divino. Essa declaração é uma oração científica que se contrapõe às crenças de que a mudança de clima, de contaminação e contágio são ameaças ao nosso bem-estar, e as anula.
A Bíblia e Ciência e Saúde ensinam como elevar o pensamento acima da matéria e seus conceitos limitadores sobre o corpo, e a enxergar uma atmosfera mental benigna e pura, a atmosfera espiritual. Os ensinamentos contidos nesses dois livros têm me orientado desde minha primeira infância e inúmeras são as evidências de proteção e cura das quais sou testemunha.
Segundo me relatou minha mãe, desde bebê eu apresentava uma constituição física muito vulnerável a mudanças climáticas. Meus pulmões eram os mais afetados nessas ocasiões. Dentre todos os hábitos familiares para tratar o problema, tomar canja de galinha era o meu preferido! Meus pais também faziam o uso de remédios e injeções. Mesmo assim, a cada onda de frio eu caía de cama.
Entretanto, quando começaram a estudar a Ciência Cristã, meus pais sentavam ao lado de meu berço e liam para mim. Mais tarde, percebi que liam a Lição Bíblica Semanal da Ciência Cristã, composta de passagens selecionadas da Bíblia e de Ciência e Saúde. Eles também liam o Arauto em alemão (Der Herold der Christlichen Wissenschaft), pois alemão era o único idioma que falávamos em casa.
Quando estava com aproximadamente quatro anos, fiquei doente e perdi a consciência. Nessa ocasião meus pais já haviam percebido que o uso de remédios trazia apenas um alívio temporário. Com uma compreensão espiritual mais elevada, passaram a confiar plenamente no poder de Deus, como é evidente para aqueles que leem a Bíblia. Muitas curas haviam ocorrido por meio de suas orações; minha mãe e meu pai haviam tido curas físicas, e os animais da fazenda melhoraram de saúde e de produtividade. Na região de Panambi, RS, a 450 quilômetros de Porto Alegre, parentes e vizinhos também se curavam de todo tipo de problemas, pela oração. Logo, confiar o bem-estar de seu filho ao poder de Deus não aconteceu de repente, mas foi fruto de um crescimento constante pelo estudo diário e a aplicação do que liam, até alcançar uma firmeza inabalável que os acompanhou durante toda a vida.
Após três dias de oração constante, despertei e pedi comida. A canja já estava pronta. Comi e dormi novamente, um sono natural. Acordei mais tarde e pedi mais sopa. Voltei a adormecer tranquilamente naquela noite, assim como meus pais. Todos dormimos em paz, na certeza de que a cura havia sido completa e permanente. Na manhã seguinte, levantei, tomei meu café da manhã e lá pelas onze horas eu já brincava do lado de fora da humilde casa em que morávamos.
Eu não me lembro de mais nenhuma crise séria de saúde, e os resfriados, gripes e tosses foram diminuindo ano após ano. Lembro-me de ter lido nos boletins escolares o registro de minha presença. No início, faltava até 12 dias em um ano escolar, depois dez dias, oito, cinco, e no último ano do ensino médio não faltei nem um dia. Meu desenvolvimento físico foi perfeito e cresci a uma estatura acima da média, com uma saúde normal e constante.
Em certa época de minha vida, fiz uma retrospectiva e constatei que, dos quinze aos quarenta anos, eu havia perdido apenas meio dia de trabalho por causa de gripe. Os 35 anos seguintes continuaram nessa média. Quando tenho de me expor às intempéries, as funções do meu corpo não são afetadas e me sinto bem tanto no frio como no calor, pois sempre declaro e sou consciente de que vivo e respiro na atmosfera do Amor divino. Sou grato por conhecer e compreender esse fato espiritual.
Toda verdade divina, todo fato espiritual, é a expressão da lei de Deus que opera por meio do Cristo eterno na consciência humana e eleva a compreensão ao nível do divino. Todos têm acesso a essas leis divinas, explanadas na Bíblia e em Ciência e Saúde, e podem aplicá-las às situações que ameacem afetá-los física ou emocionalmente.
Todos estamos igualmente próximos de Deus. O terno cuidado do Amor está sempre presente e envolve a todos. Sem dúvida, cada um de nós pode se conscientizar de que vivemos e respiramos “na atmosfera do Amor divino”.
Orlando Trentini é Praticista e Professor de Ciência Cristã em Chácara, MG.