domingo, 21 de novembro de 2010

O terno cuidado do amor que nunca falha


Recentemente, o governo americano propôs acrescentar aproximadamente 52 milhões de dólares aos Programas Especiais de Cuidado aos Idosos, os quais proveem apoio financeiro às famílias que cuidam de seus familiares idosos. O fato de a quantidade de americanos que cuidam de familiares idosos ter triplicado nos últimos dez anos, indica que essa é uma preocupação primordial na atualidade. É também gratificante saber que há um número crescente de pessoas engajadas nesse trabalho altruísta.
Essas informações talvez possam encorajar outras pessoas a ponderar com maior profundidade, a partir de uma perspectiva espiritual, a respeito do cuidado às pessoas em necessidade. Desse ponto de vista, poderíamos nos perguntar: “Não há em realidade apenas um cuidador constante e permanente, Deus, o Amor divino, sustentando e mantendo toda a criação”? O cuidado terno e amoroso do Pai-Mãe celestial é um amor que abrange a todos nós e nunca falha. Como a Bíblia o coloca: “De longe se me deixou ver o Senhor, dizendo: Com amor eterno eu te amei; por isso, com benignidade te atraí” (Jeremias 31:3).
Entender que Deus é o cuidador de cada um de nós, muda nossa perspectiva a respeito da fonte de todo o cuidado amoroso que expressamos, como também da energia que sustenta esse cuidado. O amor e a doação altruístas que demonstramos não se originam em nós; provêm de Deus. Como um prisma que refrata a luz e exibe um arco-íris de cores, da mesma forma todas as ternas ações que envolvem a prestação de cuidados aos outros apontam para o espectro do amor procedente do Amor. Nossas inumeráveis ações na prestação de cuidados aos nossos familiares realmente têm sua origem no Amor e, como tal, são habilitadas pelo Divino. Assim como um raio de luz não brilha por conta própria, mas é energizado pelo sol, assim nós, como cuidadores, não precisamos achar que desempenhamos esse papel apenas por meio da nossa própria iniciativa. O Amor que nos motiva é o mesmo Amor que nos energiza e nos sustenta.
Porque obedecemos à lei divina quando ajudamos um ente querido, essa ação só pode resultar em bem, tanto para o cuidador, como para o beneficiado
A Bíblia fala do “Deus de toda consolação” (2 Coríntios 1:3), o Deus “que nos conforta em toda a nossa tribulação, para podermos consolar os que estiverem em qualquer angústia, com a consolação com que nós mesmos somos contemplados por Deus” (2 Coríntios 1:4). Uma cuidadora de idosos me disse certa vez que essa compreensão pode trazer alívio à fadiga, uma vez que esse é um dos aspectos mais desafiadores dessa função, que exige estar constantemente disponível. Entretanto, ao se apoiar na presença sustentadora de Deus, que é Vida, ela encontra a força e o consolo de que necessita. A Vida divina é infinita, indivisível. Fortalecida pela energia divina do Espírito (outro nome para Deus), ninguém jamais precisa estar sujeito à exaustão.
É interessante observar o que Mary Baker Eddy escreveu sobre as pessoas que prestam cuidados aos outros: “É proverbial que Florence Nightingale e outros filantropos empenhados em obras humanitárias puderam suportar, sem sucumbir, fadigas e exposição às intempéries, as quais pessoas comuns não teriam podido suportar. A explicação está no sustento que recebiam da lei divina, que se eleva acima da lei humana. A exigência espiritual, que silencia a material, proporciona energia e resistência que superam todos os outros auxílios e obstam a penalidade que nossas crenças procuram aplicar às nossas melhores ações. ...O trabalho constante, as privações, as intempéries e todas as condições adversas, se não houver pecado, podem ser suportados sem sofrimento. Tudo o que é de teu dever, podes fazer sem te prejudicares” (Ciência e Saúde, p. 385).
Compreender o poder e a presença da lei divina exclui a possibilidade de sofrermos uma penalidade por praticar a benevolência. De fato, porque obedecemos à lei divina quando ajudamos um ente querido, essa ação só pode resultar em bem, tanto para o cuidador, como para o beneficiado. Podemos elevar os cuidados prestados a outrem para além da esfera do trabalho meramente físico e compreendê-los como um apoio à qualidade crística e à dignidade de cada homem, mulher e criança.
Deus é a única força propulsora e o Espírito age de forma a sincronizar e a harmonizar todos os aspectos da criação
Outro desafio que às vezes aparece ao cuidador é o estresse, quando ele tem de se desdobrar para cuidar de várias pessoas ao mesmo tempo, ou, no caso de parentes próximos, até mesmo ajudando-os a pagar suas contas com enfermagem em domicílio ou em uma casa de repouso. O estresse sugere a ação de duas forças opostas. Por exemplo, se empurrarmos as duas mãos fechadas em punhos uma contra a outra, haverá estresse e pressão. Mas ao retirarmos a força de uma das mãos, o estresse desaparece. À medida que compreendermos que existe apenas um único poder em nossa vida, veremos que tudo pode cooperar de forma harmoniosa. O Espírito, Deus, é a única força propulsora, que age de forma a sincronizar e a harmonizar todos os aspectos da criação em uma sinfonia harmônica. Ao reconhecermos esse Princípio coordenador como o poder inteligente em nossa vida, livramo-nos do estresse. Um hino de que gosto muito faz essa colocação:
“Dissipa nossas vãs tensões,

E mostra aos nossos corações
Quão bela é Tua paz”
(>i>Hinário da Ciência Cristã, 49).

Ao orar por aqueles que necessitam de cuidados, é útil acompanhar as manchetes do noticiário, tais como: quase meio milhão de relatórios oficiais chegam ao conhecimento das autoridades a cada ano sobre maus-tratos a idosos, incluindo negligência flagrante. Entretanto, podemos orar confiantemente e declarar que no Amor divino, a Mente única, não existe nenhuma fonte para gerar uma ação inescrupulosa. Não há nenhuma razão para que uma pessoa tente tirar vantagem de outra. Pensemos nesta bela promessa na Bíblia: “Humilhai-vos, portanto, sob a poderosa mão de Deus, para que ele, em tempo oportuno, vos exalte, lançando sobre ele toda a vossa ansiedade, porque ele tem cuidado de vós” (1 Pedro 5:6-7).
Podemos reconhecer constantemente que o amor de Deus envolve a todos, sempre
Algumas vezes, ao cuidar dos nossos entes queridos, percebemos que eles optaram por confiar, em parte ou totalmente, no tratamento médico. Muito embora talvez possamos optar por confiar exclusivamente na cura pela oração em nossa própria vida, acho importante respeitar a decisão dos outros. Isso às vezes oferece mais uma prova da nossa consideração amorosa para com eles, enquanto ponderamos silenciosamente qual a melhor abordagem para ajudá-los ainda mais. Manter nosso próprio pensamento a respeito de outrem sobre uma base espiritual é uma maneira perceptível de abençoá-lo.
Mary Baker Eddy compartilhou esta ideia: “Amados Cientistas Cristãos, conservai vossa mente tão cheia de Verdade e Amor, que o pecado, a doença e a morte nela não possam entrar. ... Os bons pensamentos são uma armadura impenetrável; assim revestidos, estais completamente resguardados contra os ataques do erro de qualquer espécie. E não só vós estais protegidos, mas também todos aqueles sobre os quais repousam vossos pensamentos, são dessa forma beneficiados” (The First Church of Christ, Scientist, and Miscellany [A Primeira Igreja de Cristo, Cientista, e Vários Escritos], p. 210).
Nossas tarefas como cuidadores nos impelem a trazer para esse trabalho o mais elevado estado mental possível. Embora não ofereçamos um tratamento metafísico específico àquele que esteja recebendo cuidados médicos, podemos reconhecer constantemente que o amor de Deus envolve a todos, sempre. Nossas mãos talvez estejam engajadas em ministrar as necessidades humanas daqueles sob nossos cuidados, mas nosso coração e nosso pensamento podem estar seguros do cuidado todo-abrangente do Amor divino por todos os Seus filhos. Podemos acalentar profundamente o verdadeiro ser de todos, feito à semelhança de Deus, como saudável, íntegro e forte.
Exatamente onde as pretensas forças da matéria tentam nos diminuir e abater, exatamente aí, a única força real é Deus, que é Vida
Embora a imagem de homens e mulheres apresentados como seres materiais, sujeitos a envelhecimento, incapacidade e degeneração, possa se apresentar a nós, podemos afirmar que essa não é, de nenhuma maneira, a verdadeira vida deles. Essa é uma concepção equivocada, mas que representa também a oportunidade para trocarmos o sentido material pelo sentido espiritual que revela o corpo verdadeiro como inteiramente espiritual. A Bíblia nos exorta a considerar esta verdade: “Acaso não sabeis que o vosso corpo é santuário do Espírito Santo, que está em vós, o qual tendes da parte de Deus, e que não sois de vós mesmos?” (1 Coríntios 6:19). Certamente nosso verdadeiro ser é a corporificação da lei da harmonia de Deus, e o controle do nosso corpo verdadeiro nunca sai das mãos de Deus, Seu criador.
Como cuidadores, podemos manter no pensamento o conceito espiritual de nossos entes queridos como seres completos, radiantes, e expressando toda a gama das qualidades de Deus. Cada um deles é o reflexo de Deus, sempre em total plenitude. Exatamente onde as pretensas forças da matéria tentam nos diminuir e nos abater, exatamente aí, a única força real é Deus, que é Vida. Essa é uma força para o bem, uma adesão e coesão que mantêm todos os aspectos de homens e mulheres completos, sãos e harmoniosos, por toda a eternidade!
As ocasiões em que temos de cuidar dos outros nos convidam a sentir profundamente este mandamento bíblico: “...daqui por diante, a ninguém conhecemos segundo a carne...” (2 Coríntios 5:16). Podemos começar a repelir a imagem da humanidade como meramente carnal, e valorizar profundamente a natureza espiritual verdadeira de todos nós, refletindo o eterno frescor da Alma.
Podemos manter erguida a luz da Vida para os nossos entes queridos, mesmo quando pareçam estar em idade avançada

Cristo Jesus nos convida a nascer de novo, a ver a nós mesmos sem nenhum ponto inicial chamado nascimento, e sem um ponto final chamado morte. Ao conversar com Nicodemos sobre o novo nascimento, Jesus o comparou ao vento que sentimos sem saber de onde vem, nem para onde vai (ver João 3:1-15). Portanto, podemos pensar em nossos entes queridos em termos de infinidade. Nos escritos de Mary Baker Eddy há uma bela descrição do cuidado de Deus: “Esse é o grande Amor do Pai que Ele nos concedeu, e que conserva o homem na Vida sem fim e no ciclo único e eterno do ser harmonioso” (Miscellaneous Writings [Escritos Diversos] 1883–1896, p. 77).

Podemos manter erguida a luz da Vida para nossos entes queridos, mesmo quando pareçam estar em idade avançada. A visão do mundo sugere a morte como inevitável. No entanto, um olhar cuidadoso sobre os ensinamentos de Jesus nos mostra que Deus nos conclama a expressar a vida eterna. Como cuidadores, podemos nos unir à mensagem do Cristo, que confirma a união consciente de todos com a Vida. Portanto, não há nenhuma pessoa, em termos individuais ou coletivos, que dê seu consentimento em morrer, porque só existe uma única Mente, com sua expressão infinita.
Há alguns anos, fui solicitada a orar por uma senhora que, na época, estava com 104 anos, e sofria de algum desconforto. A filha que cuidava dela não era Cientista Cristã, mas respeitava o desejo da mãe de recorrer ao tratamento da Ciência Cristã, quando necessário. Logo que recebi esse chamado, fui até a casa dessa senhora para visitá-la. Ao me encaminhar até seu quarto, senti o ambiente repleto de solicitude e reverência. Percebi também que seus parentes estavam prestando o mais terno e amoroso cuidado. Eles comentaram sobre sua longevidade e eu discerni que eles esperavam que o desconforto dela fosse curado espiritualmente durante minha visita.
O Amor Divino oferece, eternamente, tudo que seja necessário para nosso bem-estar

Passei algum tempo com aquela senhora, orando e mantendo o pensamento na luz da Vida. Terminei a visita, convidando-a a orar comigo o Pai Nosso em voz alta. Sua oração foi feita com total convicção, e com uma fidelidade sincera ao seu significado. De fato, naquele momento sentimos a atividade sanadora do Cristo, trazendo renovação de vida. Quando saí, ela estava se sentindo bem, feliz e em paz. Visitei-a outras vezes ao longo dos anos que se seguiram, até que me mudei daquela cidade. A cada visita, ela continuava a expressar uma grande fidelidade a Deus, e a demonstrar equilíbrio espiritual e graça. Como era animador conseguir me regozijar nesta verdade: “O homem, na Ciência, é tão perfeito e imortal agora, como quando ‘as estrelas da alva, juntas, alegremente cantavam, e rejubilavam todos os filhos de Deus’ ” (Unidade do Bem, p. 42).

Assim como a maré cheia ergue todos os navios, da mesma maneira as perspectivas espirituais mais elevadas da humanidade elevam o pensamento, partindo de uma base na matéria para um plano sobre o qual podemos ver a todos, tanto cuidadores quanto os que recebem cuidados, como sustentados pelo Amor. O Amor divino oferece, por toda a eternidade, tudo o que é necessário para nosso bem-estar. O Amor nunca nos falha, nem nos abandona.
Ao deixar que nossa solicitude em prestar cuidados aos outros se misture ao Divino, satisfaremos à necessidade humana mediante a graça divina. Acalentar nossos entes queridos como constantemente mantidos nos ternos braços do Amor inexaurível, sustentados pelo poder da Vida eterna, constitui-se no cuidado terno e amoroso que nunca falha!
Janet Clements é Praticista e Professora de Ciência Cristã em Chicago, Illinois, EUA.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Perdoe e transforme o mundo


Na margem sul (conhecida como Southbank) do rio Tâmisa, em Londres, perto do “Royal Festival Hall” (um dos maiores espaços do mundo para eventos), existe uma estátua de Nelson Mandela, de dois metros e meio de altura, que se tornou um famoso ponto de referência na cidade. Mandela é muito admirado no mundo todo, não apenas por seus esforços em desmantelar o apartheid ou o segregacionismo racial na África do Sul, mas também por seu notável espírito de reconciliação, o qual ele ajudou a promover como o primeiro Presidente pós-apartheid de seu país. Em 1995, logo após o início do mandato de Mandela como Presidente, seu governo criou uma comissão cujo objetivo era trazer um bálsamo de reconciliação às cicatrizes que vários anos de apartheid haviam deixado ao povo da África do Sul. Denominada Truth and Reconciliation Commission [Comissão de Verdade e Reconciliação] (TRC), o objetivo do grupo era, em parte, restaurar a dignidade das vítimas afetadas por décadas de separação racial legalmente sancionada, não mediante a vingança, mas de uma forma moralmente responsável. A partir daí, a nação poderia seguir em frente com uma atitude de reconciliação.
Para chefiar essa Comissão, o Presidente Mandela nomeou o arcebispo anglicano Desmond Tutu. Em seu livroNo Future Without Forgiveness [Nenhum futuro sem o perdão], o arcebispo comentou sobre a tendência natural de seus conterrâneos para o perdão: Nelson Mandela “convidou seu carcereiro branco para participar de sua posse, como um convidado de honra, o primeiro de muitos dos seus gestos magnânimos e que demonstrou sua extraordinária disposição em perdoar. ... Esse homem [Mandela], que fora vilipendiado e caçado como um perigoso fugitivo e encarcerado por quase três décadas, transformou-se na personificação do perdão e da reconciliação, e muitos daqueles que o odiaram acabaram comendo de sua mão”.
A paz global começa com o perdão individual
Como Nelson Mandela demonstrou, o papel que o perdão representa na cura dos conflitos globais e políticos, jamais pode ser subestimado. O impulso global pela paz começa com a prática individual do perdão. A partir daí, ele se propaga pelas vizinhanças e comunidades, e então seu efeito se estende por todo o globo. Contudo, o ato de perdoar muitas vezes não é uma questão simples. Para algumas pessoas, o perdão é um processo contínuo, em vez de ser um incidente isolado. Muitos outros, no entanto, descobrem que hesitam em se abrir para o perdão, porque acreditam que, ao fazê-lo, seria como que desculpar a ofensa. Mas, de acordo com meu modo de pensar, perdoar não se trata de justificar um mau comportamento ou negar que ele tenha acontecido; ao contrário, trata-se de remover o poder que aquele ato possa ter de causar dor ou raiva. O perdão concede às pessoas a cura permanente das lembranças desagradáveis e expurga a amargura de sua vida.

Houve uma época em que tive de me empenhar seriamente para me livrar de uma dolorosa lembrança. Perdoar foi o modo como cheguei lá. Enquanto crescia, no Irã, não tínhamos banheiro em casa. Como a maioria das famílias, usávamos banheiros públicos. As mulheres tomavam banho em uma ala e os homens em outra. Minha mãe lavava e secava minhas irmãs e eu, uma por uma e, em seguida, conforme nos vestia, pedia-nos para sair dali e esperar até que todas ficassem prontas.
Em uma dessas ocasiões, quando minha mãe mandou que eu saísse para aguardar, fui molestada por um homem em uma sala de espera vazia. Eu não devia ter mais do que quatro anos de idade naquela época. Era pequena demais para compreender o que estava acontecendo e, depois disso, eu reprimi completamente o ocorrido.
Não foi senão quando tive minhas próprias filhas, que esse incidente voltou à tona e passou a me provocar recorrentes pesadelos. Ficava com tanto medo pelas minhas filhas que nunca as deixava sair da minha vista, com receio de que tivessem uma experiência semelhante.
Conscientizei-me do ressentimento que havia desenvolvido
Anos mais tarde, quando comecei a estudar o livro Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras, de Mary Baker Eddy, conscientizei-me do ressentimento que havia desenvolvido com relação a todos os homens iranianos e, até mesmo, com relação à própria cultura. Isso chegou a tal extremo que eu havia até resistido a ensinar minhas filhas a falar farsi, meu idioma nativo.

Ciência e Saúde esclareceu o significado de passagens da Bíblia de uma forma que eu nunca havia entendido antes. Pela primeira vez, senti uma conexão pessoal com os ensinamentos de Cristo Jesus. Descobri que o perdão e a reconciliação são necessidades absolutas para o estudante desses ensinamentos, bem como tinha de assumir a responsabilidade de viver eu mesma esses preceitos.
A interpretação espiritual de Mary Baker Eddy para esta frase do Pai Nosso: “E perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós temos perdoado aos nossos devedores”, tocou-me de maneira especial. Ela escreveu: “E o Amor se reflete em amor” (p. 17). Além disso, eu estava aprendendo em Ciência e Saúde, que minha capacidade de expressar amor era simplesmente natural, porque Deus, sendo o próprio Amor divino, é meu Criador e, portanto, minha única fonte de ação. Também ficou claro que nada poderia jamais me separar do Amor. Para mim, essa foi uma incrível revelação a respeito da natureza e da eterna presença da realidade divina.
O perdão teria de ser um ato do coração
Pude ver que minha capacidade natural de expressar o Amor divino, inclusive minha capacidade de perdoar, era um dos maiores dons que Deus havia me outorgado. Entretanto, sabia que, para mim, o perdão teria de ser um ato do coração, um consentimento em abandonar a dor, o ressentimento e a raiva que carregava. Reconheci que, não importava o quanto eu já havia sofrido com o dano que me haviam feito, eu simplesmente não tinha o direito de pôr quem quer que fosse, nesse caso toda uma nação e seu povo, para fora do meu coração ou de julgá-los injustamente. Tratava-se de meu próprio país, meu próprio povo.

Compreendi que, no centro da palavra perdão em inglês, “forgiveness”, tem a palavra dar (give). Portanto, tinha de dar aos outros o perdão, tal como Deus o dá a mim. Não foi fácil. A cada dia, tinha de aprender a perdoar tudo novamente e a praticar um amor mais profundo. Entretanto, podia começar a partir do ponto de vista das qualidades não judiciosas ensinadas por Jesus, tais como: aceitação, perdão e amor incondicional, e tentar vivê-las.
Logo compreendi que, o fato de resistir ao perdão, havia me mantido uma vítima prisioneira. Portanto, eu tinha uma escolha: reviver aquela ofensa repetidamente ou perdoar e me libertar daquele sentimento, não apenas para o benefício de outras pessoas, mas principalmente para o meu próprio. Foi uma escolha espiritual que eu sabia que era capaz de fazer, e que poderia me libertar das mágoas do passado.
As bênçãos dessa cura foram completas
Certo dia, percebi que não precisava mais me empenhar em perdoar. O ressentimento e as dolorosas lembranças desapareceram e eu estava livre!

Isso significava que eu podia finalmente liberar minhas filhas da sentença de prisão à qual o medo havia me enredado. Eu não tinha mais de controlar a vida delas. Comecei permitindo que dormissem em casa de amigos quando havia festas. Logo, eu mesma comecei a ensinar minhas filhas a falar o farsi (idioma iraniano) e a compartilhar as belezas de meu país e seu povo. As bênçãos dessa cura foram completas. Comecei a estudar poesia e literatura persa com dois homens iranianos. Até nos tornamos bons amigos. Também tive o prazer de ajudar muitos amigos e amigas iranianos a estudarem a Ciência Cristã.
Muitos dos escritos sagrados e das tradições espirituais do mundo enfatizam a importância do perdão. Quando foi perguntado a Jesus quantas vezes temos de perdoar, ele respondeu: “setenta vezes sete” (ver Mateus 18:22). Há uma linda passagem semelhante a essa no Corão: “Peça perdão a Alá; certamente Alá está pronto para perdoar, com misericórdia”.
No prefácio de seu livro Exploring Forgiveness (Explorando o Perdão), Desmond Tutu escreveu: “O perdão não é apenas uma ideia vaga, nebulosa, que alguém pode facilmente descartar. O perdão tem a ver com a união das pessoas por meio de políticas práticas. Sem perdão não há futuro”.
O perdão é uma dádiva para nós mesmos e para os outros e ilumina nossa jornada. Suas bênçãos não param em nós. Elas começam conosco e se propagam por todas as comunidades, todas as nações e pelo mundo todo!
Marta é Praticista, Conferencista e Professora de Ciência Cristã, e mora com a família em Londres, Inglaterra.