segunda-feira, 31 de agosto de 2009

A linguagem do Espírito

Uma conversa com Christiane West Little.Uma pessoa com bons conhecimentos em sete línguas aprende que a comunicação mais poderosa provém de Deus.

Christiane foi exposta aos idiomas com muita naturalidade. No início de sua infância em Genebra, Suíça, Christiane West Little aprendeu francês. Em casa, comunicava-se em alemão, porque sua avó, que vivia com a família, falava alemão e espanhol. Sempre que os adultos começavam a se expressar em espanhol, Christiane sabia que a conversa não era para ela ou sua irmã ouvirem.


A mudança da família para a Argentina deu a Christiane e a sua irmã o domínio do inglês na escola, como também do espanhol, o que lhes proporcionou então a vantagem de compreenderem todas as palavras que os adultos diziam.


A família finalmente se estabeleceu em Washington, DC, onde Christiane terminou a faculdade e se diplomou no idioma russo. Vários anos mais tarde, um colega do Conselho de Conferências da Ciência Cristã colocou a cereja no bolo lingüístico: “Você fala francês e espanhol, portanto, pode aprender italiano e português”!


“Sempre tive a sensação de não ter uma língua materna”, diz Christiane sorrindo. “Não pertenço a lugar nenhum, muito embora me sinta em casa em toda parte”. Esse pensamento se desvaneceu quando esta frase, de um artigo no Christian Science Journal, a inspirou: Jesus era fluente em sua língua mãe. A linguagem do Espírito. “Portanto, reivindiquei essa fluência para mim mesma”, conta ela.


Na época em que trabalhava com traduções no Departamento de Estado americano, na década de 1970, Christiane sentiu-se compelida a dar uma nova direção à sua vida e a entrar para a Prática Pública da cura pela Ciência Cristã. O pivô da mudança? Sua tarefa para o Departamento de Estado: traduzir para o espanhol um manual para a polícia sobre terroristas, a ser distribuído na América Latina. Uma declaração no texto a deteve: “Terroristas geralmente provêm de lares desfeitos”. “Isso se referia a mim, uma mãe separada com três filhos”, diz Christiane. “Simplesmente me rebelei diante dessa generalização”. Além do mais, Christiane não conseguia atinar com o equivalente em espanhol para “lar desfeito”, uma vez que não existia uma tradução literal. Repentinamente, veio-lhe o pensamento: “Espere um momento! Nosso ‘lar’ verdadeiro não pode ser desfeito”. Ela orava freqüentemente pela sua família, no sentido de que viviam e se moviam no Espírito divino. Se esse terno relacionamento de sua família com o Pai-Mãe Deus não podia ser desfeito, o mesmo não poderia ocorrer com ninguém.


“Compreendi, enquanto orava, que estava dando um tratamento pela Ciência Cristã e ouvindo a opinião de Deus sobre o assunto”. Naquele momento de comunicação divina, ela diz que uma coisa ficou muito clara: “Gosto da cura ainda mais do que gosto de trabalhar com idiomas”. Quanto tempo ela levou após essa compreensão para entrar na prática pública? No dia seguinte, entregou o pedido de aviso prévio para seu empregador.


Publicamos a seguir a conversa que Christiane e Joan Taylor, Redatora Sênior do Christian Science Journal, tiveram recentemente sobre a cura espiritual.


Joan Taylor: Christiane, com sua experiência de viver em muitas cidades do mundo, a diversidade de sua infância, a oportunidade de fazer parte do Conselho de Conferências da Ciência Cristã e de dar conferências por todo o planeta, como você entende a idéia de paz?


Christiane Little: A paz é passível de ser conseguida. “Glória a Deus nas maiores alturas, e paz na terra entre os homens, a quem ele quer bem” (Lucas 2:14). Essa foi a mensagem que anunciou o nascimento de Jesus aos pastores vigilantes e que os levou até à manjedoura. Esse é o discurso que ouvimos cantado e falado a cada época natalina. Contudo, é muito mais do que isso. É a eterna mensagem de Deus para a humanidade. Ela também vem em duas partes. “Glória a Deus” primeiro, ou seja, reconhecer a Deus como a fonte de toda a paz, de todo o bem e, em seguida, ver e vivenciar o efeito. A segunda parte: “paz na terra”, proveniente de Deus, como a fonte de todas as nossas bênçãos, exatamente aqui e agora e para sempre.


A paz não é um sonho irreal ou uma promessa distante, mas uma realidade espiritual presente, que vem sempre ao coração humano que anseia por ela. O exemplo de meus pais inspirou tanto a mim quanto à minha irmã (Margarita Sandelmann Thatcher, Praticista e Professora de Ciência Cristã). O tema paz, e sua necessidade absoluta, encontrou inevitavelmente seu caminho nas nossas conversas à mesa de jantar enquanto crescíamos, assim como o fato de o motivo correto de trabalhar pela paz, traz a paz suprema, a paz que advém do Cristo a cada um de nós. Como Mary Baker Eddy diz, o motivo correto é muito simples: “O amor a Deus e ao homem...” (Ciência e Saúde, p. 454).


Durante a I Guerra Mundial, houve uma batalha na Alemanha que matou quase todos, exceto três, dos 100 soldados adolescentes. Meu pai foi um dos sobreviventes. Ele encontrou refúgio em uma trincheira com outro jovem soldado britânico, que, naquela noite, deu-lhe um exemplar do Novo Testamento. Essa experiência suscitou em meu pai o desejo ardente de trabalhar pela paz. Mais tarde, depois que meus pais se casaram na Argentina, país nativo de minha mãe, eles se mudaram para Genebra, a sede da então Liga das Nações, para trabalhar pela paz. Foi lá que eles conheceram a Ciência Cristã, o que lhes proporcionou a paz interior proveniente de uma compreensão mais clara de Deus. Eles trouxeram esse foco para a vida da nossa família, portanto, a paz se tornou natural ao meu pensamento, desde a mais tenra idade.


JT: Como podemos perpetuar o poder espiritual desta época de Natal, da mensagem de “paz na terra entre os homens, a quem ele quer bem”? Perpetuá-la realmente, ao invés de apenas iludirmos a nós mesmos.


CWL: Gosto de considerar a paz como um dom que já foi concedido a cada um. O mundo vê a paz como sendo dada e depois tirada. Contudo, o que Deus dá é permanente, paz em vez de ódio e turbulência. Não temos de procurar pela paz ou pensar que temos de encontrá-la. A paz já está estabelecida na consciência divina.


Mary Baker Eddy disse: “É chegada a hora dos pensadores” (Ciência e Saúde, p. vii). Ela escreveu essa declaração há mais de 100 anos, mas essa hora ainda é “o agora”. À medida que nos tornarmos pensadores radicais, compreenderemos que a paz é uma dádiva de Deus. A época do Natal nos proporciona a oportunidade de pensar mais profundamente sobre a paz, não só individualmente, mas também coletivamente, incluindo o mundo inteiro.


JT: Como essa idéia de paz se traduz em maneiras práticas, quando as pessoas têm tantas preocupações, particularmente financeiras?


CWL: As circunstâncias em torno dos acontecimentos do nascimento de Jesus há mais de 2.000 anos mostram-nos a praticidade de estarmos atentos à orientação divina. A Sagrada Família, Maria, José e Jesus, e todos ligados à história do Natal, os anjos, os pastores, os reis magos, prestaram atenção à intuição espiritual que lhes sobreveio. Antes de tudo, a jovem Maria recebeu as boas-novas de que daria à luz um filho. Ela estava tão receptiva espiritualmente, que aceitou plenamente esta incrível notícia, sem questionar: “Por que eu? O que as pessoas pensarão de mim?” Ela concordou com a maneira como Deus a guiava.


Então, José também demonstrou muita bondade e não desejou infamá-la. No início, ele estava inclinado a deixá-la “secretamente”, para protegê-la da condenação pública. Entretanto, ao invés disso, ele foi guiado a compreender o significado espiritual do que acontecia. Portanto, podemos aprender com seu exemplo a ouvir a Deus, sempre que estivermos confusos ou inseguros.


JT: Assim, mesmo antes do evento real do nascimento de Jesus, a história do Natal nos fornece, de forma direta, a orientação espiritual sobre a forma de viver?


CWL: Sim, já! Ninguém na narrativa foi impedido de ouvir a mensagem espiritual. Então, Jesus nasceu e os pastores deixaram suas ovelhas porque os anjos cantavam para eles: “Glória a Deus nas maiores alturas, e paz na terra entre os homens, a quem ele quer bem” (Lucas 2:14). Eles deixaram suas ovelhas, mas não ficaram preocupados em deixá-las e depois, naturalmente, voltaram para elas. O mesmo aconteceu com os reis magos. Eles estavam atentos. Guiados por Deus, seguiram a estrela e levaram presentes perfeitos para o menino Jesus. Ouro, incenso e mirra não eram presentes extravagantes, e sim preciosos e significativos. Alguém certa vez mencionou que o ouro simbolizava que Jesus seria rei. O incenso, que seria um profeta. E a mirra que seria um sanador. À medida que os reis magos continuavam receptivos às demais orientações, provenientes de Deus, foram inspirados a não voltar ao Rei Herodes para lhe contar onde estava o bebê recém-nascido, o que protegeu Jesus da morte.


Todos esses acontecimentos da história do Natal nos mostram que podemos pôr de lado nossas ansiedades e preocupações humanas e ouvir a Deus. Podemos então sentir a paz interior que nos capacita a expressar sabedoria em nossa vida diária, em situações em que precisamos lidar com finanças, encontrar emprego, ajudar a um vizinho, ou estarmos alerta às maneiras específicas pelas quais podemos orar pelo mundo.


Você sabe, Joan, existe algo que aprecio a respeito de como as coisas se resolveram para a sagrada família. Quando Jesus nasceu, o Rei Herodes decretou a morte de todos os bebês, a fim de se livrar de Jesus. José ouviu a mensagem angelical de Deus, ou seja, ele estava receptivo, e foi guiado a sair de Belém e a buscar segurança para sua família no Egito. Esse é um exemplo que é totalmente prático hoje em dia. Ao invés de fazer malabarismos com os detalhes da vida e ficar dominado por eles, precisamos ter a humildade de ser divinamente guiados em todas as decisões.
JT: Chris, você poderia nos dar um exemplo de sua própria vida sobre esse ouvir divino?


CWL: Há alguns anos, eu era mãe, estava separada e acabava de retornar ao mercado de trabalho. Comprei uma casa pelo sistema hipotecário do banco, para pagar em 30 anos. Contava com fundos que me eram devidos para completar a transação. Contudo, os fundos não me foram pagos e amigos quiseram que eu entrasse com uma ação legal. Então, algo muito importante aconteceu em minha vida naquela mesma ocasião. Fiz o Curso Primário da Ciência Cristã e aprendi uma grande verdade, que revolucionou meu pensamento: precisava colocar a Deus em primeiro lugar.


Isso me ensinou muito sobre o débito que eu tinha. Compreendi que o verdadeiro débito, o débito primário, eu não o devia ao banco, mas sim a Deus, por todo o amor que ele havia derramado em minha vida. Devia a Ele mais atenção, mais reconhecimento, mais compreensão. Fui guiada a ouvir Sua orientação e a compreender que Ele era o provedor. Conseqüentemente, uma vez que compreendi essa verdade, o dinheiro que necessitava para a hipoteca apareceu. Contudo, ele não veio da fonte com a qual havia contado no início. Tendo em vista que a provisão real se origina no Espírito, os fundos que eu necessitava vieram da forma que jamais poderia imaginar. Além isso, outras formas de ajuda apareceram, e não tinham nada a ver com dinheiro.


Essa é a coisa maravilhosa sobre o Cristo, ele não apareceu uma única vez na forma do nascimento de Jesus. O Cristo, a Verdade, vem a nós repetidas vezes para nos lembrar do nosso relacionamento íntimo e contínuo com Deus.


JT: Você poderia falar mais sobre esse cuidado e orientação constantes em termos de compromissos financeiros? As estatísticas dão a entender que um dia de Natal se transforma em 364 dias para se pagar por ele. Certamente a passagem na Oração do Senhor “perdoa-nos as nossas dívidas” não nos dá um passe livre para se gastar demais ou incorrer em débito excessivo no cartão de crédito.


CWL: Em várias traduções bíblicas, “perdoa-nos as nossas dívidas” significa “perdoa-nos os nossos pecados”. No original grego, a palavra pecado significa “errar o alvo”, como quando alguém arremessa uma flecha. A interpretação espiritual dessa frase do Pai Nosso, escrita por Mary Baker Eddy, nos diz muito: “E o Amor se reflete em amor” (Ciência e Saúde, p. 17). Esse significado é um reconhecimento profundo de que Deus nos outorga todo o amor e sabedoria que necessitamos para administrar nossas finanças, mesmo quando elas estejam sob ameaça. Se ponderássemos especificamente sobre o Natal e a despesa com a troca de presentes, poderíamos nos perguntar: “O que estou dando? Por que estou dando”? O ato de dar um presente deveria trazer tanta alegria para a pessoa que dá como àquela que o recebe. Portanto, se gastamos mais do que temos e nos preocupamos sobre o débito acumulado, isso dificilmente trará paz interior. Não precisamos ter tudo que vemos. Pelo ouvir divino, talvez sejamos guiados a um tipo diferente de presentear no Natal, a um gesto, a alguma expressão amorosa de bem. Algo que seja realmente digno de se dar.


JT: Em consideração à nossa terra, todos nós somos encorajados a deixar cada vez menos nossas “pegadas” sobre o planeta. Isso parece ter uma interpretação espiritual inevitável. Qual sua opinião a respeito?


CWL: Isso me faz pensar imediatamente sobre a ocasião em que Jesus alimentou as multidões. Mesmo quando ele fez essa incrível demonstração da abundância infinita de Deus, e transformou os poucos pães e peixes em quantidade suficiente para alimentar mais de 5.000 pessoas, ainda houve sobras. Contudo, Jesus se certificou de que não haveria em absoluto nenhum desperdício. Ele instruiu seus discípulos: “Recolhei os pedaços que sobraram, para que nada se perca” (João 6:12). Podemos aprender muito com esse exemplo. A única coisa que Jesus deixou por onde passou foi o pensamento que abençoa os outros.


JT: Vamos falar um pouco sobre a palavra obediência. O que me vem à mente é que todos na história do Natal, Maria, José e os pastores, ouviram. E então obedeceram às mensagens divinas que vieram a eles, individualmente. Contudo, o conceito de obediência é freqüentemente visto sob uma ótica negativa, confinante, não-criativa, só trabalho e nenhuma alegria. Mas a história do nascimento de Jesus está repleta de alegria. A mensagem sobre a qual conversamos, com relação aos acontecimentos anteriores ao nascimento de Jesus, parece dizer que a alegria está realmente conectada à obediência.


CWL: Certamente. Aprender a compreender que toda intuição provém de Deus é uma tarefa jubilosa, mas devemos estar dispostos a reservar um espaço tranqüilo no pensamento para esse ouvir. Jesus mostrou ao mundo a união completa que existe entre nosso Pai-Mãe Deus e cada um de nós. Ele nos ensinou a ser ouvintes divinos. Portanto, podemos ouvir as boas-novas.


JT: Recentemente, li um artigo que se referia ao Natal com o trocadilho “Christmas”, Natal em inglês, como “Stressmas” (festa estressante). Parece que a época vem com certas expectativas para cenários humanos que acabam não se realizando. Caso se trate de um grande grupo familiar, todos “deveriam” se dar harmoniosamente. Ou talvez você já tenha ouvido falar de alguém sem família, que diz que a solidão “faz parte do pacote”. Contudo, conforme Mary Baker Eddy escreveu: “...a expectativa acelera nosso progresso” (Ciência e Saúde, p. 426). Aqui, ela certamente se referia a um tipo de “expectativa” diferente daquele que costuma motivar as festas natalinas.


CWL: Gosto da passagem na Bíblia, no início do Evangelho de João, que se refere à vinda de Jesus: “Porque todos nós temos recebido da sua plenitude e graça sobre graça” (1:16). Essa declaração nos diz que podemos esperar graça e paz absolutas nesta época, e sempre. Assim, à medida que reconhecermos a necessidade de sermos amorosos, poderemos também reconhecer que não temos de ficar presos a algum amor específico ou a “fazer” algo. Estamos sendo o amor, a própria expressão do Amor divino. Como idéia de Deus, já incluímos essa qualidade chamada amor, da mesma maneira que já incluímos a paz.


Lembra quando alguém disse a Jesus que sua mãe e seus irmãos haviam pedido para vê-lo e ele respondeu: “Quem é minha mãe e quem são meus irmãos”? Então, ele estendeu a mão para os discípulos e disse: “Porque qualquer que fizer a vontade de meu Pai celeste, esse é meu irmão, irmã e mãe” (Mateus 12:48, 50). Jesus estava nos dizendo que todos nós compartilhamos do mesmo Pai-Mãe, que é Deus; portanto, somos todos aparentados da forma mais substancial que existe. Laços de sangue são secundários e, quando compreendermos isso, vivenciaremos “...a divindade abraçando a humanidade...”, exatamente como Jesus fazia (Ciência e Saúde, p. 561). O reconhecimento desse amor universal abraçando a todos nós se estende muito além de vidas individuais, dos preparativos para a família, da compra de presentes. Ele provê aquele espaço tranqüilo sobre o qual falamos anteriormente, onde ouvimos a Deus. Isso nos leva muito além de qualquer lista “de coisas a fazer” para as festas natalinas. Não envolve apenas a nós mesmos, mas o que pode vir sob a forma da inclusão de alguém que esteja solitário nesta época do ano ou talvez venha sob a forma de uma oração profunda, permanente, por aqueles em necessidade, em nosso próprio país ou em qualquer outra parte do globo.


JT: Entendo o que você está dizendo. Uma capacidade de ir além da nossa própria experiência, porque esse amor espiritual ao qual estamos conectados se propaga pelo mundo, e inclui lugares onde as pessoas lutam contra a pobreza e a violência.


CWL: Assim, percebemos a plenitude do amor sempre presente de Deus nesses lugares, exatamente onde a pobreza e a violência estejam se manifestando. A cura pode vir por meio da compreensão de que o cuidado de Deus é o direito divino de todos. Posso lhe dar um exemplo? Quando estive no Congo há alguns anos, meu coração se comoveu por um homem africano, um estudante de Ciência Cristã. Ele me perguntou com grande sinceridade: “Por que podemos curar a nós mesmos, mas não podemos curar nossa economia”?


Essa pergunta permaneceu comigo, quando voltei para os Estados Unidos. Ao comentar isso com um colega, ele disse: “Bem, Chris, talvez devamos mudar nosso conceito sobre a África”. Isso causou um profundo efeito em mim. O que é que mantemos no pensamento? Angústia e desespero? A crença de que existam partes do mundo que estejam realmente “abandonadas por Deus”? Ou reconhecemos que a Mente divina enche todo o espaço e, portanto, governa tudo e todos?


JT: Então, em nossas orações pelo mundo, devemos estar alerta para o fato de que não estamos tentando trazer o maior para o menor?


CWL: Exatamente. Saber que o amor de Deus está presente, ativo e poderoso em todas as partes do mundo, da mesma forma que o reivindicamos para nós mesmos. É o amor universal que Jesus reiterava para o mundo. Na Bíblia, Elias predisse a chegada de uma grande seca. Ouvindo a orientação de Deus, ele fez “segundo a palavra do Senhor” (1 Reis 17:5). Como conseqüência, conforme Deus prometera, os corvos lhe traziam comida.


Durante essa mesma visita ao Congo, outro africano, estudante de Ciência Cristã, contou-me que, durante a guerra civil em seu país, ele estava em sua aldeia e bombas-foguetes caíam por toda parte. Logo, toda a aldeia resolveu evacuar, mas ele decidiu ficar. Depois de alguns dias, esse homem acabou ficando sem comida e estava prestes a morrer de fome. Ele notou que havia duas ou três galinhas ali por perto e tentou apanhá-las, mas não conseguiu. Então, decidiu entrar em sua choupana e orar. Ele orou para compreender que o amor de Deus estava em toda parte e isso significava que a provisão tinha de estar presente. Repentinamente, o som de cachorros latindo interrompeu sua oração e ele saiu para ver o que estava acontecendo. Os cachorros estavam caçando uma galinha. Eles a apanharam e a trouxeram à porta desse homem e fugiram. Ele a cozinhou e preparou a refeição que lhe era muito necessária e, depois de alguns dias, deixou a aldeia e foi para um lugar onde havia suprimentos. Para mim, essa é uma demonstração dramática, semelhante à dos corvos que alimentaram Elias. Essas histórias bíblicas são totalmente relevantes nos dias de hoje.


A “expectativa” na Ciência Cristã é sempre para o bem, não importa como apareça. Essa idéia de não delinear antecipadamente o que é o “bem”, faz-me lembrar novamente da história do Natal. A maioria das pessoas acha que o fato de Jesus ter nascido em uma manjedoura foi um começo muito modesto, ou seja, nascer em uma “humilde” manjedoura. Maria e José não conseguiram se hospedar porque “não havia lugar para eles na hospedaria” (Lucas 2:7). Entretanto, quando estive em Jerusalém há alguns anos, dando conferências sobre a Ciência Cristã, um amigo historiador me contou que, no tempo de Jesus, uma hospedaria consistia de um único grande salão do qual todos participavam, onde dormiam, comiam, e se entregavam a bebedeiras. Portanto, a vontade de Deus para o nascimento de Jesus não era guiar a sagrada família para tal atmosfera, mas a de prover a simplicidade e a tranqüilidade de um estábulo, o melhor lugar que poderia ter para o nascimento sagrado. Às vezes, o que não parece aos olhos do mundo como “bom” é, na realidade, muito bom.


JT: Mary Baker Eddy escreveu que qualquer sistema metafísico que seja: “...baseado no falso testemunho dos sentidos materiais assim como nos fatos da Mente” é “semi-metafísico” ( ver Ciência e Saúde, p. 268). Uma vez que a Ciência Cristã está fundamentada inteiramente na Mente divina, como podemos nós, em um mundo com outras incontáveis religiões e disciplinas espirituais, estarmos alerta para não adotarmos uma atitude “sou mais santo do que você”, com relação àqueles que pensam de forma diferente?


CWL: Há um ditado maravilhoso: “Existem vários caminhos para se subir a uma montanha, mas a vista do cume é a mesma para todos”. Cada um de nós, em qualquer parte que estivermos no mundo, trilha individualmente sua própria jornada espiritual. Todos nós somos movidos pelo Espírito divino rumo a uma compreensão maior do nosso relacionamento com Deus. Ninguém é mais santo do que o outro. Devemos ser cuidadosos para não adorar a Ciência Cristã em vez de adorar a Deus.


JT: Poderia falar um pouco mais sobre isso? A idéia de que podemos cair na tentação de adorar uma religião em vez de adorar a Deus?


CWL: Leio diariamente a Lição Bíblica Semanal da Ciência Cristã, freqüento os cultos dominicais e as reuniões de testemunhos às quartas-feiras. Contudo, sinto que tenho de me perguntar continuamente: Estou realmente estabelecendo minha conexão com Deus? Porque, quando verdadeiramente sentirmos essa união com a Mente divina, nunca poderemos desenvolver uma atitude “sou mais santo do que você”. As orientações da Verdade divina nunca podem nos levar a julgar os outros. A Verdade nos leva àquele reconhecimento humilde e jubiloso a respeito de todos nós, cristãos, judeus, muçulmanos, budistas, ateístas, agnósticos, etc., como idéias da Mente divina. Somos “...Sua família universal, unidos no evangelho do Amor” (Ciência e Saúde, p. 577). Cada um de nós sempre foi e sempre será a idéia de Deus. Diferenças familiares, de nacionalidade, de status econômico ou de educação são conceitos humanos que parecem nos dividir. Contudo, em Deus, a única Mente infinita, qualquer divisão é impossível.


JT: Isso me faz pensar sobre o que falávamos anteriormente, ou seja, a alegria ligada à obediência. Quando adoramos uma religião em vez de adorar a Deus, pode parecer uma obediência sem alegria.


CWL: Claro! Além disso, a alegria é tão importante! Deus já se regozija conosco. Não precisamos assumir a responsabilidade pessoal de demonstrar a Ciência Cristã: “Ó, tenho de ser mais amorosa; tenho de ser mais isso ou aquilo”. Ao contrário, precisamos apenas aceitar o fato de que “sou o instrumento do amor de Deus, da paz de Deus. Sou o instrumento através do qual Deus canta Sua alegria pela Sua criação”.


Deus não nos vê como Cientistas Cristãos, judeus ou muçulmanos. Saber isso nos traz muita libertação. Meus familiares mais próximos possuem diferentes pontos de vista com relação à religião, filosofias e sistemas de pensamento. Alguns são unitaristas, outros são católicos, outro encontra paz na espiritualidade dos índios americanos, outros na homeopatia e no ioga. Há alguns anos, tive uma cura maravilhosa sobre isso. De repente, senti-me muito grata pelo fato de que cada um em minha família estava se aproximando mais de Deus, do Espírito. A sensação de “Ó, gostaria que todos eles fossem Cientistas Cristãos” desapareceu completamente. Todos somos parte da família universal de Deus. Não temos de apenas tolerar a jornada espiritual um do outro, mas, ao contrário, podemos respeitá-la.


JT: Isso é maravilhoso, Chris. Que lembrete gentil de que “a divindade abraçando a humanidade” começa em nosso próprio quintal.


CWL: Nós todos, realmente todos, vivemos e nos movemos e temos nosso ser, conforme o versículo da Bíblia diz, dentro do Amor divino, que abraça a humanidade. Ao ouvir essa mensagem, é impossível deixar de expressar o amor pelo qual somos amados por Deus. Além disso, traz consigo uma grande alegria. Como conseqüência, podemos dar, em nossos corações, as boas-vindas ao menino sanador do Natal, a cada dia, não importa a época do ano!

Um comentário:

  1. Gostaria de presenteá-lo com o "Prêmio Dardos", está em meu blog a sua espera. Namastê.

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