sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Mudança para o bem

Quando estava a bordo de um avião, coloquei alguns trocados dentro de um envelope escrito em inglês: “Change for good” (Trocados para o bem), o qual estava na bolsa do encosto do assento à minha frente. Que nome maravilhoso, pensei. A palavra “change” em inglês quer dizer “troco, ou dinheiro trocado”, mas também significa “mudar, mudança”, portanto, poderíamos também ler como “Mudança para o bem”. Esse fundo de caridade da UNICEF (Fundo das Nações Unidas para Infância), destinado a crianças carentes, em parceria com as companhias aéreas, tem arrecadado milhões de dólares com as doações de passageiros como eu.
Aquele nome permaneceu comigo e me fez ponderar sobre o conceito de mudar. Frequentemente temos a impressão de que uma mudança, de qualquer tipo, é ameaçadora, até mesmo terrificante, definitivamente algo ruim. Será possível que uma transformação possa ser uma coisa boa?
Para começar, talvez devamos considerar isto: Deus é o único bem. Deus não muda. De fato, Seu terno amor e atenciosa solicitude não vêm e vão, mas são naturais e constantes em toda a Sua criação. Esse fato é verdadeiro, seja o que for que esteja ocorrendo ao nosso redor.
Um dos meus hinos favoritos diz:
“Mesmo na hora que parece mais escura
Sua bondade imutável se revelará
Através da névoa, Seu brilho resplandecerá
Deus é luz, Deus é Amor”.
(Hino 79, do Hinário da Ciência Cristã em inglês)
A ideia da bondade imutável expressa a constância do amor de Deus.
A criação de Deus é espiritual, a própria expressão e objeto de Seu amor, e isso inclui a todos nós. Portanto, é impossível estarmos separados dessa fonte celestial de bondade. Por essa razão, é possível nos sentirmos felizes com a ideia de mudança, ao invés de atemorizados.
A disposição de mudar é uma característica da confiança em Deus
Alegria e mudança nem sempre parecem caminhar juntas. Mas por que não deveriam? As crianças aprendem algo novo todos os dias e ficam contentes por dominar novas habilidades. Talvez possamos aprender com isso. Como Mary Baker Eddy, Fundadora desta revista, escreveu em Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras: “A disposição de vir a ser como uma criancinha e de deixar o velho pelo novo, torna o pensamento receptivo à ideia avançada. A satisfação de deixar os falsos marcos e a alegria de vê-los desaparecer — eis a disposição que contribui para apressar a harmonia final” (pp. 323–324).
A disposição de mudar é uma característica da confiança em Deus, da confiança no bem. Por outro lado, resistir às mudanças é como dizer que o bem acaba no horizonte ou se agarrar à própria opinião, dizendo: “Eu sei do que eu gosto e gosto do que eu sei”! O medo acerca do futuro ou do desconhecido anda lado a lado com a resistência. Entretanto, Deus é o “Amor que lança fora o medo”, e é onisciente e onipotente, já sabe aquilo que parece desconhecido e que já está presente no local para onde Ele nos conduz (ver Retrospecção e Instrospecção, p. 61).
Achei saudável examinar minha reação à perspectiva de mudança, e perguntar a mim mesma se estava sendo:
Rígida ou flexível?
Temerosa ou confiante?
Retrógrada ou progressiva?
Negativa ou positiva?
Pensemos em Abraão...
Esse tipo de escolha tem confrontado a todos que se aventuram por território desconhecido, desde Moisés, conforme a Bíblia, colocando o pé no Mar Vermelho, até Copérnico que ousou dizer que a terra gira em torno do sol. Entretanto, talvez seja justo dizer que aqueles que mudaram o destino da humanidade para melhor, seriam identificados como flexíveis, confiantes, progressivos e positivos, em vez de rígidos, temerosos, retrógrados e negativos, à medida que enfrentavam mudanças ou as criavam.
Pensemos em Abraão, que viveu centenas de anos antes de Moisés. Lemos sobre sua vida no livro do Gênesis (capítulos 12 a 25). Lá está ele, confortavelmente estabelecido com sua família na cidade de Ur dos Caldeus. Então, em um determinado dia, Deus diz: “Sai da tua terra... e vai para a terra que te mostrarei” (ver Gênesis 12: 1–4). Então, surpreendentemente, Abraão e sua família fizeram exatamente isso!
À medida que acompanhamos sua jornada de vida, descobrimos que é uma história de imprevisibilidade e mudanças em escala épica. Tudo é desconhecido. Para essa viagem não houve nenhum planejamento, ninguém para quem se pudesse ligar para saber a previsão do tempo, ninguém que pudesse informar sobre as tribos amigas e inimigas que eles talvez pudessem encontrar pelo caminho. Contudo, à medida que Abraão viaja, ele aprende a conhecer e a confiar em Deus como o único Deus verdadeiro, o Criador, um Deus amoroso com qualidades tanto maternais como paternais. Abraão ouve a promessa de Deus de que ele seria o patriarca de uma grande nação e sua esposa conceberia um filho, Isaque, quando ambos já tinham passado da idade de ter filhos. Então, quando Abraão acredita que teria de sacrificar Isaque sobre um altar, para provar sua devoção a Deus, ele aprende que essa prática cruel jamais havia sido a vontade do Amor divino imutável.
A mão de Deus está no leme
A nova compreensão que Abraão obteve sobre Deus é a maior mudança de todas. Por meio dela, ele transforma não apenas seu próprio modo de vida e de devoção, mas o de uma nação inteira. Quase 2.000 anos depois, seus descendentes ainda se lembram dele: “Pela fé, Abraão, quando chamado, obedeceu, a fim de ir para um lugar que devia receber por herança; e partiu sem saber aonde ia” (Hebreus 11:8). Ciência e Saúde também afirma que Abraão “...ilustrou o propósito do Amor de criar a confiança no bem, e demonstrou o poder da compreensão espiritual para preservar a vida” (p. 579).
A capacidade de êxito ao lidar com transformações é uma experiência de vida que resulta naturalmente da confiança no nosso relacionamento inquebrantável com Deus. A estabilidade proveniente de saber, como disse o Apóstolo Paulo, que: “...nele vivemos, e nos movemos, e existimos...” (Atos 17:28), inclui a habilidade de navegar por águas turbulentas na vida, sem perder a direção da bússola.
Muitos “marcos de transição” na vida envolvem mudanças, tais como ir para a escola pela primeira vez, a passagem do ensino médio para a faculdade, o primeiro emprego, o casamento e a aposentadoria. Cada um deles pode ser uma oportunidade de dominar o medo de mudança ou a resistência a ela. A convicção de que o Amor divino está sempre presente, abre o caminho para a vitória, não para a derrota, mesmo que haja sérios desafios durante o processo de transição.
A transformação, que reflete a ação da Mente divina, leva ao desenvolvimento e ao progresso e jamais é algo para se temer. A oração traz a calma certeza de que a mão de Deus está no leme e que Seu controle sobre os acontecimentos é seguro e certo.
Lembro-me muito vividamente de seu poder de recuperação
Tive um amigo que foi um exemplo extraordinário disso. Ele estava perto da idade de se aposentar, quando os rendimentos que deveria receber dos negócios de sua família foram dizimados por atitudes insensatas de outros. Parecia impensável para meu amigo ser privado dos benefícios de uma vida inteira de trabalho. Entretanto, lembro-me vividamente de seu poder de recuperação e excepcional capacidade de deixar o problema de lado e seguir em frente. Ele tinha certeza de que o bem tem sua fonte em Deus e que é permanente e imutável. Aceitou o cargo de Leitor na igreja filial da Ciência Cristã que frequentava e, ao mesmo tempo, ocupou-se de um trabalho temporário que beneficiava muitas pessoas. Depois disso, mudou-se para o outro lado do mundo com alguns membros de sua família e, no novo país, conseguiu um emprego em uma área em que nunca trabalhara antes. Desfrutou de sua nova vida com disposição e jamais olhou para trás com ressentimento. Trabalhou muito além da idade considerada normal para aposentadoria, mantendo um otimismo jovial e entusiasmo por novas experiências.
Às vezes, a mudança parece mais algo urgentemente necessário do que temido. Outra amiga enfrentou esse dilema, quando conseguiu seu primeiro emprego como professora em um bairro com altos índices de violência, em uma grande cidade inglesa. Apesar de seu entusiasmo e grandes expectativas, ela descobriu que sua turma representava um mundo dilacerado pela violência, que podia entrar em erupção a qualquer momento e sem qualquer aviso. Cuspiam, falavam palavrões e alguns alunos atiravam cadeiras e carteiras pela sala. Era um enorme contraste com a vida calma que levava. Ela não conseguia controlar a classe por meio de confrontação, mas ficou claro que, para o benefício de todos, havia uma necessidade premente de mudança. Ela estava firme em sua convicção do poder de Deus para curar, e sentia que fora guiada a lecionar naquela escola.
Ela perdeu a consciência das coisas caóticas ao seu redor
Certo dia, quando outro tumulto se formava na sala de aula, ela se afastou mentalmente da cena e estas palavras de Ciência e Saúde lhe vieram ao pensamento: “...o homem está livre ‘para entrar no Santo dos Santos’ — o reino de Deus” (p. 481). Por um momento, ela perdeu a consciência das coisas caóticas ao seu redor. De repente, compreendeu, de forma profunda, que ela e os alunos estavam sob o controle de Deus, e que somente filhos de Deus estavam presentes naquela sala de aula. Para sua surpresa, quando olhou novamente para a classe, todos estavam sentados silenciosamente, esperando por aquilo que ela iria dizer a seguir.
Houve mais algumas erupções durante as semanas seguintes, mas, a cada vez, ela respondia com a mesma atitude de oração. Seus colegas ficaram perplexos por ela nunca mais ter tido problemas com aquela turma. Depois disso, passou a lecionar de formas criativas, e alguns de seus alunos até seguiram carreiras nunca consideradas possíveis anteriormente. Minha amiga foi reconhecida por seu excelente ensino e foi premiada com uma bolsa de estudos, concedida pelo governo norteamericano, para estudar e lecionar nos Estados Unidos. Ela continuou a trabalhar dessa forma com jovens durante mais de 20 anos, com os mesmos resultados.
Alguns tipos de mudança parecem particularmente difíceis de aceitar, como quando novas descobertas surpreendem a sociedade e as pessoas descobrem que suas habilidades específicas não são mais atuais. Então, talvez possamos nos sentir compreensivelmente ultrapassados. Contudo, a verdade é que os filhos preciosos de Deus nunca ficam desvalorizados. O verdadeiro valor de alguém nunca pode ser diminuído por uma mudança de panorama. Os escribas medievais não se tornaram menos valiosos pelo advento da imprensa, os relojoeiros pelo uso dos cristais de quartzo ou os mineiros de carvão pela descoberta de novas fontes de energia. Nem pode a tecnologia da computação desvalorizar as habilidades não tecnológicas. Entretanto, mudanças radicais como essas realmente exigem algo de todos, tanto jovens como idosos. Elas desafiam as posturas mentais a evoluírem e oferecem oportunidades de progresso para aqueles que estão dispostos a progredir.
A habilidade não é pessoal
Também existem formas de mudanças que parecem o exato oposto do bem. Mary Baker Eddy pesquisou esse assunto, descrevendo os elementos turbulentos que parecem ameaçar a existência humana. “Este mundo material está se tornando, desde já, arena de forças em conflito”, começa uma passagem de Ciência e Saúde, referindo-se à “fome e peste, carência e desgraça, pecado, doença e morte...”. Isso incluiria turbulências pessoais repentinas, tais como: divórcio ou falência, e turbulências globais, como: terremotos, enchentes, doenças e fome. Ela continua: “De um lado haverá discórdia e consternação; de outro lado haverá Ciência e paz”. E conclui: “A crença é mutável, mas a compreensão espiritual é imutável” (p. 96). Mary Baker Eddy estava extremamente ciente desses fatos ao apresentar suas ideias ao mundo. Ela reconhecia que sem a capacidade de progredir, mental e espiritualmente, a humanidade poderia permanecer na ignorância da própria Ciência ou conhecimento do Cristo, que pode salvar todos do desespero e da destruição.
Portanto, desenvolver a capacidade de ver além das aparências negativas, a fim de perceber os fatos espirituais acerca da criação e seguir em frente, é de grande importância, não apenas para nós mesmos, mas para o mundo inteiro. Essa habilidade não é pessoal. Em seu senso mais elevado, ela reflete o amor e a bondade imutável de Deus, que resulta em cura, restauração, renovação, desenvolvimento e progresso.
É assim que o mundo muda para o bem, momento a momento, ideia a ideia, vida a vida.


Fenella Bennetts é Praticista e Professora de Ciência Cristã em Esher, Inglaterra.

Nenhum comentário:

Postar um comentário