quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Cura de doença cardíaca

Havia chegado ali para reverter completamente meu pensamento a respeito da doença de minha mãe...”. Todos os dias, nós a levávamos do quarto para a sala e gentilmente a colocávamos em uma poltrona. Algumas vezes, a levávamos para tomar sol. Ela permanecia imóvel, até que minha esposa ou eu a levássemos de volta para o quarto, para ser alimentada ou para tomar banho.
Esse era o estado de minha mãe havia três anos. O diagnóstico era de uma cardiomegalia, um crescimento do coração, e o tratamento, conforme descrito pelo médico, era tomar a medicação durante toda a vida. A doença fazia com que todo o seu corpo inchasse, dos dedos dos pés ao rosto.
Embora orasse por ela durante todo o tempo, ela não era Cientista Cristã e respeitávamos sua decisão de ir com frequência ao médico e tomar os medicamentos. Depois de uma de suas visitas ao médico, ela me disse que não iria vê-lo novamente e, a partir daí, recusou-se a tomar a medicação. Ela e eu costumávamos orar juntos diariamente, antes de ela se deitar, mas nesse dia ela nem mesmo quis orar. Disse-me que seu corpo estava todo tomado pela doença, e que não havia nada mais a fazer. Como Cientista Cristão, surpreendi-me respondendo que ela refletia a Deus e, como Sua ideia, não podia saber nada sobre perder o interesse pela vida, uma vez que “nele vivemos, e nos movemos...” livremente (Atos 17:28).
Tinha uma decisão a tomar. Eu a amava muito e admirava seu papel em minha vida. Desde o falecimento de meu pai, quando eu tinha apenas um ano, ela havia criado sozinha meus irmãos e a mim. Naquela noite, antes de ir para a cama, sentia-me oprimido e quebrantado, mas reafirmei que o Pai-Mãe Deus, que tudo sabe, é responsável por todos nós. Ele sabe o que é bom para cada um de nós em qualquer situação. Sabia que tudo que fosse necessário seria revelado a mim. Naquela noite, acordei assustado duas vezes e, em ambas as vezes, orei para reconhecer o caráter perfeito de Deus, de minha mãe e de todos. A ideia de domínio me veio fortemente à mente.
No dia seguinte, acordei mais cedo do que de costume, fiz minhas orações matutinas, e fui direto para a casa da minha mãe. Minha filha mais velha, que havia passado a noite com ela, abriu a porta e perguntou por que eu acordara tão cedo. Fui direto para a cabeceira da cama de minha mãe e percebi que havia chegado ali para reverter completamente meu pensamento a respeito de sua doença, como também para ver que ela refletia a Deus sob todos os ângulos. Eliminei todo o pensamento de piedade e desespero, e reconheci Sua presença, amor e bondade enchendo todo o quarto. Veio-me ao pensamento “a exposição científica do ser”, que se encontra no Ciência e Saúde: “Não há vida, verdade, inteligência, nem substância na matéria...” (p. 468). Minha mãe não podia ser material porque a Mente infinita governa. À medida que orava, recusava-me a ver minha mãe como uma pessoa doente na cama. A única mãe que conheço é a filha perfeita de Deus, intacta e sem deformidade, radiante, sempre manifestando Suas qualidades de harmonia e saúde. Senti um amor muito profundo por ela naquele momento. De repente, fui surpreendido pelo chamado dela. Ela tentava sentar-se na cama.
Ajudei-a e lhe dei a mão. Pela primeira vez em um ano de confinamento na cama, caminhamos juntos até a sala. Repetimos o Pai Nosso, e então preparei seu chá e fui para o trabalho. Quando retornei à noite, ela estava fora e se apoiava em uma bengala. O inchaço no corpo havia desaparecido, e eu estava transbordante de amor e gratidão a Deus. Ela se restabeleceu completamente e tem estado ativa desde aquele dia.
Minha mãe recentemente me disse que acredita no poder da oração. É meu profundo desejo servir e amar a humanidade por meio da cura. Saber a verdade, apoiar-me nela e caminhar com ela. Então, a vitória é garantida.


Richard Guda Ndong’a, Ahero, Kenya

terça-feira, 15 de setembro de 2009

O voo 447 da Air France e um salmo de consolo

Rosalie E. Dunbar

Crédito: Tony Lobl

O desaparecimento do avião da Air France na rota Rio de Janeiro-Paris deixou os especialistas em aviação confundidos e as famílias desoladas. É difícil compreender como uma aeronave, relativamente nova e bem conservada, pode repentinamente desaparecer do céu. Mesmo que as questões técnicas sejam todas respondidas, apesar do desafio de encontrar destroços nas águas do oceano que podem chegar a quase 7000 metros de profundidade, ainda haverá a necessidade de curar os corações e recuperar a esperança no futuro.
Uma das passagens que tem me ajudado é do Salmo 139: “se tomo as asas da alvorada e me detenho nos confins dos mares, ainda lá me haverá de guiar a tua mão, e a tua destra me susterá” (versículos 9 e 10). Esse senso da onipresença de Deus, Seu terno amor orientando cada um de Seus filhos, proporciona a garantia de que nenhum deles está fora de Seu cuidado, mesmo em tempos de tragédia. Não podemos saber como cada um reagiu ao desastre, mas nossas orações podem nos dar a confiança de que exatamente ali, nos momentos de medo, a destra de Deus os sustentou e os guiou ao reconhecimento de Sua presença consistente e consoladora.
Essas “asas da alvorada” podem representar mais do que apenas uma bela metáfora. Em seu livro Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras, a fundadora do Arauto, Mary Baker Eddy, deu à palavra “manhã” (alvorada) esta definição espiritual: “Luz; símbolo da Verdade; revelação e progresso” (p. 591). Essa ideia de um novo começo, ao invés de um fim trágico, pode começar a volver o pensamento rumo à natureza espiritual de cada filho e filha de Deus, levados pelas asas de uma luz que nunca cessa de brilhar.
Essas asas da alvorada podem também ajudar os que ficaram para trás, capacitando-os a perceber, mesmo que somente até certo grau, que seus entes queridos são os filhos espirituais de Deus e que, exatamente como a Vida divina continua, eles continuam também. Seu Cristo, a mensagem espiritual do amor de Deus a cada um, fala às famílias da maneira como elas possam compreender. Para alguns, talvez isso signifique uma sensação de consolo; para outros, talvez seja uma orientação inspirada de como cuidar da família. Talvez seja a força necessária para enfrentar novas demandas.
O Salmo 139 também inclui versículos que ajudam a sustentar o esforço de recuperação. “Se eu digo: as trevas, com efeito, me encobrirão, e a luz ao redor de mim se fará noite, até as próprias trevas não te serão escuras: as trevas e a luz são a mesma cousa” (versículos 11, 12).
As profundezas do oceano talvez sejam muito escuras e pareçam impenetráveis, mas a luz da Verdade, de “revelação e progresso”, pode guiar aqueles encarregados de resolver o mistério. Eles podem ser fortalecidos a persistir diante de condições desafiadoras, inspirados a adotar novos métodos para a busca, se necessário, e ser inteligentes em seus esforços por encontrar respostas. Cada um pode responder à intuição espiritual, que é natural aos filhos de Deus, a ser sábio e a estar alerta aos perigos, à medida que explorarem as profundezas.
Ao longo dos anos, os esforços na recuperação de partes de aeronaves que parecem perdidas quando um avião desaparece sob as águas, têm sido bem sucedidos. Nossa oração individual pode ajudar o pensamento inspirado a vencer o que parece ser impossível.
Quer ou não uma quantidade suficiente de peças da aeronave seja encontrada para que a razão do acidente possa ser revelada, cada pessoa merece usufruir a sensação de paz e equilíbrio. Jesus, que viveu em tempos violentos e sofreu tratamento violento, disse aos seus seguidores: “Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou... Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize” (João 14:27).
Cada pessoa afligida por essa tragédia, ou por alguma outra, pode volver-se à mensagem de Vida que Jesus expôs com tanta clareza e buscar sentir essa presença crística, vivê-la e amá-la. Sempre que a tristeza, a raiva ou a amargura aparecerem, podemos nos volver à verdade da nossa espiritualidade e inseparabilidade de Deus e deixar esse terno poder permear nossos pensamentos. Então, não somente teremos paz, mas conseguiremos trazer paz aos outros.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

CARTA DE JOEL S. GOLDSMITH A SEU FILHO SAMMY

Ofereço-te aqui, Sammy, uma lição importante, não só para um dia, mas suficiente para toda tua existência, se a praticares fielmente - ainda que não recebesses nenhuma outra de mim ou de qualquer instrutor espiritual. Se a gravares no íntimo, ainda que ficasses só num deserto ou num barquinho, no meio do oceano, sem qualquer pessoa ou livro por perto, poderias sobreviver, encontrando salvação e segurança, alimento e vestuário, paz e tudo o mais que te fosse necessário. Quero revelar-te o segredo de minha felicidade, alegria, êxito, prosperidade e capacidade de servir a crianças e adultos ao redor do mundo inteiro, como sabes. Desejo que conheças este segredo, para que possas agir como eu. Em primeiro lugar, quando defrontares algum problema, seja de saúde, estudos, desentendimentos com os colegas ou mestres, retira-te a um lugar tranqüilo, senta-te com os pés no chão e mãos descansando nas coxas, fecha os olhos e lembra-te de que Deus está mais perto do que tua respiração: mais próximo do que teus pés e mãos. Ele está exatamente onde estiveres. Aquieta-te por um momento e Deus resolverá teu problema. Pode parecer estranho que não tenhas, pelo menos mentalmente, de expor teu caso a Deus, de não pedir-Lhe nada e nem fazeres qualquer afirmação.No entanto, basta fechar os olhos, aquietar-te por um momento e saber que Deus está bem perto de ti: no centro de teu ser. Depois, sem ansiedade ou pressa, espera alguns minutos. O Espírito, Ele mesmo, se incumbirá de tudo. Se for um problema ou fórmula que não entendes, Ele te esclarecerá, como sucedeu uma vez aqui em casa, em que pediste ajuda em matemática: sentamo-nos e meditamos e quando voltaste ao livro, encontraste a resposta plena, como se a tivessem escrito ali para ti. Sempre que tiveres alguma dificuldade, pára o que estavas fazendo e conscientiza Deus exatamente ali onde estás, em teu íntimo. Espera alguns minutos e verás que Ele é a Inteligência de teu ser e sabe por que O estás rocurando. Não receies: de bom grado Ele sempre te responderá, se estiveres "ligado". Se Lhe perderes a sintonia, não poderás receber ajuda. Isto é compreensível. Digamos que estivesses aqui perto de mim, recebendo instrução espiritual. Se te distraísses, pensando em outra coisa ou saísses a passear, como poderia receber a lição que eu tinha a oferecer-te gostosamente? Como pai humano, bem gostaria de oferecer-te cada segredo espiritual que possuo, como dou dinheiro quando dele necessitas. Mas não lhos poderei dar, se não estiveres receptivo e atento.A mesma coisa se dá em nossa relação com Deus: temos que dar-Lhe plena atenção, amor, obediência e gratidão. Não é propriamente amar um Deus que não vês, senão amá-Lo nos colegas e professores com quem convives. Ainda que Deus esteja em teu íntimo, só Lhe podes receber a graça se tiveres amor, júbilo e respeito, em tua mente, em teu coração e em tua alma. Cada pessoa é responsável por si mesma. Não há um Deus sentado no céu a olhar e julgar os que estão aqui em baixo. A Consciência divina está em nosso íntimo e sabe tudo o que pensamos, sentimos, falamos e fazemos, atraindo imediatamente de fora tudo o que mandamos para lá. Portanto, o amor e respeito que exprimes aos outros, logo os recebes de volta. Mas, tudo isto ainda é pouco. Mesmo que sejas humanamente bom em todos os sentidos, estás simplesmente cumprindo os Dez Mandamentos. Agora te estou instruindo a cumprir o Sermão da Montanha, pois o Caminho espiritual é uma revelação mais alta: diz que não precisas de falar com Deus, senão apenas reservar pequenos períodos, durante o dia e à noite, para ouvi-Lo dentro de ti. Mesmo que não ouças literalmente uma voz, ao abrir os ouvidos a Deus e silenciar por um minuto ou dois, permitir-me-á s encher o vácuo que formaste internamente.Atenta bem para o que deves fazer, para formar este vazio expectante: logo ao acordar senta-te confortavelmente, pés no chão, braços apoiados relaxadamente nas coxas, olhos fechados, sintonizando o Cristo interno em silêncio, escutando o íntimo por alguns minutos. Em seguida, lembra-te de que o dia que se estende diante de ti será governado e protegido por Deus. Serás então mantido e inspirado por Ele, porque abriste, anelante e conscientemente, tua consciência à Presença e Direção de Deus. Mas se não fizeres cada manhã, fielmente, teu contato com Deus, o teu encontro com o mundo será como de um ser humano comum, sujeito a todas as surpresas e desencontros da vida, sem a assistência divina. Em tua idade atual, com o preparo que já recebeste aqui, estás apto a quatro pequenos exercícios diários: de manhã cedo, ao meio-dia, ao anoitecer e antes de dormir. Sentado, relaxado e quieto, podes dedicar dois minutos de cada vez a Deus. Inicialmente, para facilitar, podes mentalmente dizer: "Aqui estou, Pai. Fala que Teu filho escuta. Desejo fazer a Tua vontade". Em seguida, aquieta-te. Se fores fiel nesta prática, garanto que tua vida na universidade e de modo geral, será um sucesso e ainda mais do que isso: uma bênção. Estarás preparando os fundamentos para uma vida inteiramente governada por Deus. Procure estar em harmonia com teus colegas em tudo que seja bom. Se te convidarem a cerimônias religiosas, sugiro que os acompanhes. Entra em cada templo com a mente aberta, agradecendo à oportunidade de aquietar e ouvir a "pequenina e silenciosa voz".Não te esqueças de que a sintonia com Deus é mais importante que o ritual. A união com os colegas no que seja construtivo suscita o bem, embora o verdadeiro bem te venha porque reconheces a graça e a glória de Deus em tudo e em todos. A coisa mais importante que desejo sublinhar-te é que, em qualquer instante do dia ou da noite, Deus é instantaneamente acessível. Basta que O sintonizes e ouças. Enfatizo este ponto para que compreendas que não precisas falar, de fazer afirmações ou lembrar a Deus tuas necessidades. O segredo que recebi é que Deus, como Inteligência infinita, já conhece tuas necessidades, antes mesmo de Lhas pedires. Ele vê nosso íntimo quando Lho abrimos em atitude receptiva e confiante. Não é por nosso falar ou pensar, pois o Mestre ensinou: "não vos preocupeis por vossa vida, pelo que tendes de comer: nem por vosso corpo, pelo que tendes de vestir. Vosso Pai sabe que necessitais destas coisas. É do bom agrado d'Ele dar-vos todas elas". Compreendes, Sammy? É do agrado do Pai dar-te o Reino! Deus não te castiga quando te arrependes sinceramente do erro ou pecado que acaso cometas. No instante em que reconheces que não agiste bem, estás perdoado. Não carregarás a penalidade quando em teu coração vibra o reconhecimento do mal que fizeste e te arrependeres. Mas deves compreender que ao reconhecer as falhas, não deves repeti-las. Caso contrário, perderás a sintonia com a graça divina. Tu mesmo é que te cortas dela. Quando isto acontecer, procura reatar com a graça, reconhecendo verdadeiramente: "Sei que errei!" ou talvez: "Não sei se agi erradamente, mas se o fiz, ajuda-me a compreender e limpa isto de mim, Pai. Não tive má intenção. Não quero fazer o mal. Ao contrário, desejo fazer aos outros o que gostaria que me fizessem".Dessa maneira te purificas. Tenho-me curado de diversas enfermidades, pedindo simplesmente a Deus perdão por meus pecados. É claro que meus pecados não são graves. Conheces nosso modo de viver. Mas sempre que cedemos à crítica e condenação, não estamos amando e perdoando suficientemente. Assim, é recomendável que nos voltemos de vez em quando e digamos: "Reconheço, Pai, que não estou agindo perfeitamente. Perdoa meus pecados. Limpa as minhas transgressões, para eu começar tudo de novo". Grava bem, Sammy, a mais importante lição que me foi dada: "que o lugar em que estás é solo santo", ou seja, Deus está exatamente onde estás, disponível, no instante em que paras de pensar, de falar e de te identificar com as coisas externas, e te voltas ao íntimo, reconhecendo- Lhe o Poder e a graça. Conscientiza o Espírito de Deus em ti e, em seguida, relaxa-te por um ou dois minutos, deixando que Ele Se manifeste. Isto é tudo. Todo o nosso propósito é de levar as pessoas à realização da onipresença de Deus e sua constante disponibilidade; de nos dirigir a Ele sem pensamento nem palavras:basta a humildade de sentar-nos (ou mesmo em pé ou deitado), fechar os olhos e reconhecer: "Eu, de mim mesmo, nada posso. O Pai, em mim, é Quem faz as obras. Fala, Senhor, que teu filho escuta". Em seguida, aguardar um ou dois minutos em silêncio expectante, antes de levantar e prosseguir as tarefas. Se prenderes a praticar corretamente este exercício quatro vezes ao dia, como lhe estou sugerindo, não demorará muito para que o faças mais vezes ao dia, para teu inteiro benefício.
Assunto: CARTA DE JOEL S. GOLDSMITH A SEU FILHO SAMMY

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

A linguagem do Espírito

Uma conversa com Christiane West Little.Uma pessoa com bons conhecimentos em sete línguas aprende que a comunicação mais poderosa provém de Deus.

Christiane foi exposta aos idiomas com muita naturalidade. No início de sua infância em Genebra, Suíça, Christiane West Little aprendeu francês. Em casa, comunicava-se em alemão, porque sua avó, que vivia com a família, falava alemão e espanhol. Sempre que os adultos começavam a se expressar em espanhol, Christiane sabia que a conversa não era para ela ou sua irmã ouvirem.


A mudança da família para a Argentina deu a Christiane e a sua irmã o domínio do inglês na escola, como também do espanhol, o que lhes proporcionou então a vantagem de compreenderem todas as palavras que os adultos diziam.


A família finalmente se estabeleceu em Washington, DC, onde Christiane terminou a faculdade e se diplomou no idioma russo. Vários anos mais tarde, um colega do Conselho de Conferências da Ciência Cristã colocou a cereja no bolo lingüístico: “Você fala francês e espanhol, portanto, pode aprender italiano e português”!


“Sempre tive a sensação de não ter uma língua materna”, diz Christiane sorrindo. “Não pertenço a lugar nenhum, muito embora me sinta em casa em toda parte”. Esse pensamento se desvaneceu quando esta frase, de um artigo no Christian Science Journal, a inspirou: Jesus era fluente em sua língua mãe. A linguagem do Espírito. “Portanto, reivindiquei essa fluência para mim mesma”, conta ela.


Na época em que trabalhava com traduções no Departamento de Estado americano, na década de 1970, Christiane sentiu-se compelida a dar uma nova direção à sua vida e a entrar para a Prática Pública da cura pela Ciência Cristã. O pivô da mudança? Sua tarefa para o Departamento de Estado: traduzir para o espanhol um manual para a polícia sobre terroristas, a ser distribuído na América Latina. Uma declaração no texto a deteve: “Terroristas geralmente provêm de lares desfeitos”. “Isso se referia a mim, uma mãe separada com três filhos”, diz Christiane. “Simplesmente me rebelei diante dessa generalização”. Além do mais, Christiane não conseguia atinar com o equivalente em espanhol para “lar desfeito”, uma vez que não existia uma tradução literal. Repentinamente, veio-lhe o pensamento: “Espere um momento! Nosso ‘lar’ verdadeiro não pode ser desfeito”. Ela orava freqüentemente pela sua família, no sentido de que viviam e se moviam no Espírito divino. Se esse terno relacionamento de sua família com o Pai-Mãe Deus não podia ser desfeito, o mesmo não poderia ocorrer com ninguém.


“Compreendi, enquanto orava, que estava dando um tratamento pela Ciência Cristã e ouvindo a opinião de Deus sobre o assunto”. Naquele momento de comunicação divina, ela diz que uma coisa ficou muito clara: “Gosto da cura ainda mais do que gosto de trabalhar com idiomas”. Quanto tempo ela levou após essa compreensão para entrar na prática pública? No dia seguinte, entregou o pedido de aviso prévio para seu empregador.


Publicamos a seguir a conversa que Christiane e Joan Taylor, Redatora Sênior do Christian Science Journal, tiveram recentemente sobre a cura espiritual.


Joan Taylor: Christiane, com sua experiência de viver em muitas cidades do mundo, a diversidade de sua infância, a oportunidade de fazer parte do Conselho de Conferências da Ciência Cristã e de dar conferências por todo o planeta, como você entende a idéia de paz?


Christiane Little: A paz é passível de ser conseguida. “Glória a Deus nas maiores alturas, e paz na terra entre os homens, a quem ele quer bem” (Lucas 2:14). Essa foi a mensagem que anunciou o nascimento de Jesus aos pastores vigilantes e que os levou até à manjedoura. Esse é o discurso que ouvimos cantado e falado a cada época natalina. Contudo, é muito mais do que isso. É a eterna mensagem de Deus para a humanidade. Ela também vem em duas partes. “Glória a Deus” primeiro, ou seja, reconhecer a Deus como a fonte de toda a paz, de todo o bem e, em seguida, ver e vivenciar o efeito. A segunda parte: “paz na terra”, proveniente de Deus, como a fonte de todas as nossas bênçãos, exatamente aqui e agora e para sempre.


A paz não é um sonho irreal ou uma promessa distante, mas uma realidade espiritual presente, que vem sempre ao coração humano que anseia por ela. O exemplo de meus pais inspirou tanto a mim quanto à minha irmã (Margarita Sandelmann Thatcher, Praticista e Professora de Ciência Cristã). O tema paz, e sua necessidade absoluta, encontrou inevitavelmente seu caminho nas nossas conversas à mesa de jantar enquanto crescíamos, assim como o fato de o motivo correto de trabalhar pela paz, traz a paz suprema, a paz que advém do Cristo a cada um de nós. Como Mary Baker Eddy diz, o motivo correto é muito simples: “O amor a Deus e ao homem...” (Ciência e Saúde, p. 454).


Durante a I Guerra Mundial, houve uma batalha na Alemanha que matou quase todos, exceto três, dos 100 soldados adolescentes. Meu pai foi um dos sobreviventes. Ele encontrou refúgio em uma trincheira com outro jovem soldado britânico, que, naquela noite, deu-lhe um exemplar do Novo Testamento. Essa experiência suscitou em meu pai o desejo ardente de trabalhar pela paz. Mais tarde, depois que meus pais se casaram na Argentina, país nativo de minha mãe, eles se mudaram para Genebra, a sede da então Liga das Nações, para trabalhar pela paz. Foi lá que eles conheceram a Ciência Cristã, o que lhes proporcionou a paz interior proveniente de uma compreensão mais clara de Deus. Eles trouxeram esse foco para a vida da nossa família, portanto, a paz se tornou natural ao meu pensamento, desde a mais tenra idade.


JT: Como podemos perpetuar o poder espiritual desta época de Natal, da mensagem de “paz na terra entre os homens, a quem ele quer bem”? Perpetuá-la realmente, ao invés de apenas iludirmos a nós mesmos.


CWL: Gosto de considerar a paz como um dom que já foi concedido a cada um. O mundo vê a paz como sendo dada e depois tirada. Contudo, o que Deus dá é permanente, paz em vez de ódio e turbulência. Não temos de procurar pela paz ou pensar que temos de encontrá-la. A paz já está estabelecida na consciência divina.


Mary Baker Eddy disse: “É chegada a hora dos pensadores” (Ciência e Saúde, p. vii). Ela escreveu essa declaração há mais de 100 anos, mas essa hora ainda é “o agora”. À medida que nos tornarmos pensadores radicais, compreenderemos que a paz é uma dádiva de Deus. A época do Natal nos proporciona a oportunidade de pensar mais profundamente sobre a paz, não só individualmente, mas também coletivamente, incluindo o mundo inteiro.


JT: Como essa idéia de paz se traduz em maneiras práticas, quando as pessoas têm tantas preocupações, particularmente financeiras?


CWL: As circunstâncias em torno dos acontecimentos do nascimento de Jesus há mais de 2.000 anos mostram-nos a praticidade de estarmos atentos à orientação divina. A Sagrada Família, Maria, José e Jesus, e todos ligados à história do Natal, os anjos, os pastores, os reis magos, prestaram atenção à intuição espiritual que lhes sobreveio. Antes de tudo, a jovem Maria recebeu as boas-novas de que daria à luz um filho. Ela estava tão receptiva espiritualmente, que aceitou plenamente esta incrível notícia, sem questionar: “Por que eu? O que as pessoas pensarão de mim?” Ela concordou com a maneira como Deus a guiava.


Então, José também demonstrou muita bondade e não desejou infamá-la. No início, ele estava inclinado a deixá-la “secretamente”, para protegê-la da condenação pública. Entretanto, ao invés disso, ele foi guiado a compreender o significado espiritual do que acontecia. Portanto, podemos aprender com seu exemplo a ouvir a Deus, sempre que estivermos confusos ou inseguros.


JT: Assim, mesmo antes do evento real do nascimento de Jesus, a história do Natal nos fornece, de forma direta, a orientação espiritual sobre a forma de viver?


CWL: Sim, já! Ninguém na narrativa foi impedido de ouvir a mensagem espiritual. Então, Jesus nasceu e os pastores deixaram suas ovelhas porque os anjos cantavam para eles: “Glória a Deus nas maiores alturas, e paz na terra entre os homens, a quem ele quer bem” (Lucas 2:14). Eles deixaram suas ovelhas, mas não ficaram preocupados em deixá-las e depois, naturalmente, voltaram para elas. O mesmo aconteceu com os reis magos. Eles estavam atentos. Guiados por Deus, seguiram a estrela e levaram presentes perfeitos para o menino Jesus. Ouro, incenso e mirra não eram presentes extravagantes, e sim preciosos e significativos. Alguém certa vez mencionou que o ouro simbolizava que Jesus seria rei. O incenso, que seria um profeta. E a mirra que seria um sanador. À medida que os reis magos continuavam receptivos às demais orientações, provenientes de Deus, foram inspirados a não voltar ao Rei Herodes para lhe contar onde estava o bebê recém-nascido, o que protegeu Jesus da morte.


Todos esses acontecimentos da história do Natal nos mostram que podemos pôr de lado nossas ansiedades e preocupações humanas e ouvir a Deus. Podemos então sentir a paz interior que nos capacita a expressar sabedoria em nossa vida diária, em situações em que precisamos lidar com finanças, encontrar emprego, ajudar a um vizinho, ou estarmos alerta às maneiras específicas pelas quais podemos orar pelo mundo.


Você sabe, Joan, existe algo que aprecio a respeito de como as coisas se resolveram para a sagrada família. Quando Jesus nasceu, o Rei Herodes decretou a morte de todos os bebês, a fim de se livrar de Jesus. José ouviu a mensagem angelical de Deus, ou seja, ele estava receptivo, e foi guiado a sair de Belém e a buscar segurança para sua família no Egito. Esse é um exemplo que é totalmente prático hoje em dia. Ao invés de fazer malabarismos com os detalhes da vida e ficar dominado por eles, precisamos ter a humildade de ser divinamente guiados em todas as decisões.
JT: Chris, você poderia nos dar um exemplo de sua própria vida sobre esse ouvir divino?


CWL: Há alguns anos, eu era mãe, estava separada e acabava de retornar ao mercado de trabalho. Comprei uma casa pelo sistema hipotecário do banco, para pagar em 30 anos. Contava com fundos que me eram devidos para completar a transação. Contudo, os fundos não me foram pagos e amigos quiseram que eu entrasse com uma ação legal. Então, algo muito importante aconteceu em minha vida naquela mesma ocasião. Fiz o Curso Primário da Ciência Cristã e aprendi uma grande verdade, que revolucionou meu pensamento: precisava colocar a Deus em primeiro lugar.


Isso me ensinou muito sobre o débito que eu tinha. Compreendi que o verdadeiro débito, o débito primário, eu não o devia ao banco, mas sim a Deus, por todo o amor que ele havia derramado em minha vida. Devia a Ele mais atenção, mais reconhecimento, mais compreensão. Fui guiada a ouvir Sua orientação e a compreender que Ele era o provedor. Conseqüentemente, uma vez que compreendi essa verdade, o dinheiro que necessitava para a hipoteca apareceu. Contudo, ele não veio da fonte com a qual havia contado no início. Tendo em vista que a provisão real se origina no Espírito, os fundos que eu necessitava vieram da forma que jamais poderia imaginar. Além isso, outras formas de ajuda apareceram, e não tinham nada a ver com dinheiro.


Essa é a coisa maravilhosa sobre o Cristo, ele não apareceu uma única vez na forma do nascimento de Jesus. O Cristo, a Verdade, vem a nós repetidas vezes para nos lembrar do nosso relacionamento íntimo e contínuo com Deus.


JT: Você poderia falar mais sobre esse cuidado e orientação constantes em termos de compromissos financeiros? As estatísticas dão a entender que um dia de Natal se transforma em 364 dias para se pagar por ele. Certamente a passagem na Oração do Senhor “perdoa-nos as nossas dívidas” não nos dá um passe livre para se gastar demais ou incorrer em débito excessivo no cartão de crédito.


CWL: Em várias traduções bíblicas, “perdoa-nos as nossas dívidas” significa “perdoa-nos os nossos pecados”. No original grego, a palavra pecado significa “errar o alvo”, como quando alguém arremessa uma flecha. A interpretação espiritual dessa frase do Pai Nosso, escrita por Mary Baker Eddy, nos diz muito: “E o Amor se reflete em amor” (Ciência e Saúde, p. 17). Esse significado é um reconhecimento profundo de que Deus nos outorga todo o amor e sabedoria que necessitamos para administrar nossas finanças, mesmo quando elas estejam sob ameaça. Se ponderássemos especificamente sobre o Natal e a despesa com a troca de presentes, poderíamos nos perguntar: “O que estou dando? Por que estou dando”? O ato de dar um presente deveria trazer tanta alegria para a pessoa que dá como àquela que o recebe. Portanto, se gastamos mais do que temos e nos preocupamos sobre o débito acumulado, isso dificilmente trará paz interior. Não precisamos ter tudo que vemos. Pelo ouvir divino, talvez sejamos guiados a um tipo diferente de presentear no Natal, a um gesto, a alguma expressão amorosa de bem. Algo que seja realmente digno de se dar.


JT: Em consideração à nossa terra, todos nós somos encorajados a deixar cada vez menos nossas “pegadas” sobre o planeta. Isso parece ter uma interpretação espiritual inevitável. Qual sua opinião a respeito?


CWL: Isso me faz pensar imediatamente sobre a ocasião em que Jesus alimentou as multidões. Mesmo quando ele fez essa incrível demonstração da abundância infinita de Deus, e transformou os poucos pães e peixes em quantidade suficiente para alimentar mais de 5.000 pessoas, ainda houve sobras. Contudo, Jesus se certificou de que não haveria em absoluto nenhum desperdício. Ele instruiu seus discípulos: “Recolhei os pedaços que sobraram, para que nada se perca” (João 6:12). Podemos aprender muito com esse exemplo. A única coisa que Jesus deixou por onde passou foi o pensamento que abençoa os outros.


JT: Vamos falar um pouco sobre a palavra obediência. O que me vem à mente é que todos na história do Natal, Maria, José e os pastores, ouviram. E então obedeceram às mensagens divinas que vieram a eles, individualmente. Contudo, o conceito de obediência é freqüentemente visto sob uma ótica negativa, confinante, não-criativa, só trabalho e nenhuma alegria. Mas a história do nascimento de Jesus está repleta de alegria. A mensagem sobre a qual conversamos, com relação aos acontecimentos anteriores ao nascimento de Jesus, parece dizer que a alegria está realmente conectada à obediência.


CWL: Certamente. Aprender a compreender que toda intuição provém de Deus é uma tarefa jubilosa, mas devemos estar dispostos a reservar um espaço tranqüilo no pensamento para esse ouvir. Jesus mostrou ao mundo a união completa que existe entre nosso Pai-Mãe Deus e cada um de nós. Ele nos ensinou a ser ouvintes divinos. Portanto, podemos ouvir as boas-novas.


JT: Recentemente, li um artigo que se referia ao Natal com o trocadilho “Christmas”, Natal em inglês, como “Stressmas” (festa estressante). Parece que a época vem com certas expectativas para cenários humanos que acabam não se realizando. Caso se trate de um grande grupo familiar, todos “deveriam” se dar harmoniosamente. Ou talvez você já tenha ouvido falar de alguém sem família, que diz que a solidão “faz parte do pacote”. Contudo, conforme Mary Baker Eddy escreveu: “...a expectativa acelera nosso progresso” (Ciência e Saúde, p. 426). Aqui, ela certamente se referia a um tipo de “expectativa” diferente daquele que costuma motivar as festas natalinas.


CWL: Gosto da passagem na Bíblia, no início do Evangelho de João, que se refere à vinda de Jesus: “Porque todos nós temos recebido da sua plenitude e graça sobre graça” (1:16). Essa declaração nos diz que podemos esperar graça e paz absolutas nesta época, e sempre. Assim, à medida que reconhecermos a necessidade de sermos amorosos, poderemos também reconhecer que não temos de ficar presos a algum amor específico ou a “fazer” algo. Estamos sendo o amor, a própria expressão do Amor divino. Como idéia de Deus, já incluímos essa qualidade chamada amor, da mesma maneira que já incluímos a paz.


Lembra quando alguém disse a Jesus que sua mãe e seus irmãos haviam pedido para vê-lo e ele respondeu: “Quem é minha mãe e quem são meus irmãos”? Então, ele estendeu a mão para os discípulos e disse: “Porque qualquer que fizer a vontade de meu Pai celeste, esse é meu irmão, irmã e mãe” (Mateus 12:48, 50). Jesus estava nos dizendo que todos nós compartilhamos do mesmo Pai-Mãe, que é Deus; portanto, somos todos aparentados da forma mais substancial que existe. Laços de sangue são secundários e, quando compreendermos isso, vivenciaremos “...a divindade abraçando a humanidade...”, exatamente como Jesus fazia (Ciência e Saúde, p. 561). O reconhecimento desse amor universal abraçando a todos nós se estende muito além de vidas individuais, dos preparativos para a família, da compra de presentes. Ele provê aquele espaço tranqüilo sobre o qual falamos anteriormente, onde ouvimos a Deus. Isso nos leva muito além de qualquer lista “de coisas a fazer” para as festas natalinas. Não envolve apenas a nós mesmos, mas o que pode vir sob a forma da inclusão de alguém que esteja solitário nesta época do ano ou talvez venha sob a forma de uma oração profunda, permanente, por aqueles em necessidade, em nosso próprio país ou em qualquer outra parte do globo.


JT: Entendo o que você está dizendo. Uma capacidade de ir além da nossa própria experiência, porque esse amor espiritual ao qual estamos conectados se propaga pelo mundo, e inclui lugares onde as pessoas lutam contra a pobreza e a violência.


CWL: Assim, percebemos a plenitude do amor sempre presente de Deus nesses lugares, exatamente onde a pobreza e a violência estejam se manifestando. A cura pode vir por meio da compreensão de que o cuidado de Deus é o direito divino de todos. Posso lhe dar um exemplo? Quando estive no Congo há alguns anos, meu coração se comoveu por um homem africano, um estudante de Ciência Cristã. Ele me perguntou com grande sinceridade: “Por que podemos curar a nós mesmos, mas não podemos curar nossa economia”?


Essa pergunta permaneceu comigo, quando voltei para os Estados Unidos. Ao comentar isso com um colega, ele disse: “Bem, Chris, talvez devamos mudar nosso conceito sobre a África”. Isso causou um profundo efeito em mim. O que é que mantemos no pensamento? Angústia e desespero? A crença de que existam partes do mundo que estejam realmente “abandonadas por Deus”? Ou reconhecemos que a Mente divina enche todo o espaço e, portanto, governa tudo e todos?


JT: Então, em nossas orações pelo mundo, devemos estar alerta para o fato de que não estamos tentando trazer o maior para o menor?


CWL: Exatamente. Saber que o amor de Deus está presente, ativo e poderoso em todas as partes do mundo, da mesma forma que o reivindicamos para nós mesmos. É o amor universal que Jesus reiterava para o mundo. Na Bíblia, Elias predisse a chegada de uma grande seca. Ouvindo a orientação de Deus, ele fez “segundo a palavra do Senhor” (1 Reis 17:5). Como conseqüência, conforme Deus prometera, os corvos lhe traziam comida.


Durante essa mesma visita ao Congo, outro africano, estudante de Ciência Cristã, contou-me que, durante a guerra civil em seu país, ele estava em sua aldeia e bombas-foguetes caíam por toda parte. Logo, toda a aldeia resolveu evacuar, mas ele decidiu ficar. Depois de alguns dias, esse homem acabou ficando sem comida e estava prestes a morrer de fome. Ele notou que havia duas ou três galinhas ali por perto e tentou apanhá-las, mas não conseguiu. Então, decidiu entrar em sua choupana e orar. Ele orou para compreender que o amor de Deus estava em toda parte e isso significava que a provisão tinha de estar presente. Repentinamente, o som de cachorros latindo interrompeu sua oração e ele saiu para ver o que estava acontecendo. Os cachorros estavam caçando uma galinha. Eles a apanharam e a trouxeram à porta desse homem e fugiram. Ele a cozinhou e preparou a refeição que lhe era muito necessária e, depois de alguns dias, deixou a aldeia e foi para um lugar onde havia suprimentos. Para mim, essa é uma demonstração dramática, semelhante à dos corvos que alimentaram Elias. Essas histórias bíblicas são totalmente relevantes nos dias de hoje.


A “expectativa” na Ciência Cristã é sempre para o bem, não importa como apareça. Essa idéia de não delinear antecipadamente o que é o “bem”, faz-me lembrar novamente da história do Natal. A maioria das pessoas acha que o fato de Jesus ter nascido em uma manjedoura foi um começo muito modesto, ou seja, nascer em uma “humilde” manjedoura. Maria e José não conseguiram se hospedar porque “não havia lugar para eles na hospedaria” (Lucas 2:7). Entretanto, quando estive em Jerusalém há alguns anos, dando conferências sobre a Ciência Cristã, um amigo historiador me contou que, no tempo de Jesus, uma hospedaria consistia de um único grande salão do qual todos participavam, onde dormiam, comiam, e se entregavam a bebedeiras. Portanto, a vontade de Deus para o nascimento de Jesus não era guiar a sagrada família para tal atmosfera, mas a de prover a simplicidade e a tranqüilidade de um estábulo, o melhor lugar que poderia ter para o nascimento sagrado. Às vezes, o que não parece aos olhos do mundo como “bom” é, na realidade, muito bom.


JT: Mary Baker Eddy escreveu que qualquer sistema metafísico que seja: “...baseado no falso testemunho dos sentidos materiais assim como nos fatos da Mente” é “semi-metafísico” ( ver Ciência e Saúde, p. 268). Uma vez que a Ciência Cristã está fundamentada inteiramente na Mente divina, como podemos nós, em um mundo com outras incontáveis religiões e disciplinas espirituais, estarmos alerta para não adotarmos uma atitude “sou mais santo do que você”, com relação àqueles que pensam de forma diferente?


CWL: Há um ditado maravilhoso: “Existem vários caminhos para se subir a uma montanha, mas a vista do cume é a mesma para todos”. Cada um de nós, em qualquer parte que estivermos no mundo, trilha individualmente sua própria jornada espiritual. Todos nós somos movidos pelo Espírito divino rumo a uma compreensão maior do nosso relacionamento com Deus. Ninguém é mais santo do que o outro. Devemos ser cuidadosos para não adorar a Ciência Cristã em vez de adorar a Deus.


JT: Poderia falar um pouco mais sobre isso? A idéia de que podemos cair na tentação de adorar uma religião em vez de adorar a Deus?


CWL: Leio diariamente a Lição Bíblica Semanal da Ciência Cristã, freqüento os cultos dominicais e as reuniões de testemunhos às quartas-feiras. Contudo, sinto que tenho de me perguntar continuamente: Estou realmente estabelecendo minha conexão com Deus? Porque, quando verdadeiramente sentirmos essa união com a Mente divina, nunca poderemos desenvolver uma atitude “sou mais santo do que você”. As orientações da Verdade divina nunca podem nos levar a julgar os outros. A Verdade nos leva àquele reconhecimento humilde e jubiloso a respeito de todos nós, cristãos, judeus, muçulmanos, budistas, ateístas, agnósticos, etc., como idéias da Mente divina. Somos “...Sua família universal, unidos no evangelho do Amor” (Ciência e Saúde, p. 577). Cada um de nós sempre foi e sempre será a idéia de Deus. Diferenças familiares, de nacionalidade, de status econômico ou de educação são conceitos humanos que parecem nos dividir. Contudo, em Deus, a única Mente infinita, qualquer divisão é impossível.


JT: Isso me faz pensar sobre o que falávamos anteriormente, ou seja, a alegria ligada à obediência. Quando adoramos uma religião em vez de adorar a Deus, pode parecer uma obediência sem alegria.


CWL: Claro! Além disso, a alegria é tão importante! Deus já se regozija conosco. Não precisamos assumir a responsabilidade pessoal de demonstrar a Ciência Cristã: “Ó, tenho de ser mais amorosa; tenho de ser mais isso ou aquilo”. Ao contrário, precisamos apenas aceitar o fato de que “sou o instrumento do amor de Deus, da paz de Deus. Sou o instrumento através do qual Deus canta Sua alegria pela Sua criação”.


Deus não nos vê como Cientistas Cristãos, judeus ou muçulmanos. Saber isso nos traz muita libertação. Meus familiares mais próximos possuem diferentes pontos de vista com relação à religião, filosofias e sistemas de pensamento. Alguns são unitaristas, outros são católicos, outro encontra paz na espiritualidade dos índios americanos, outros na homeopatia e no ioga. Há alguns anos, tive uma cura maravilhosa sobre isso. De repente, senti-me muito grata pelo fato de que cada um em minha família estava se aproximando mais de Deus, do Espírito. A sensação de “Ó, gostaria que todos eles fossem Cientistas Cristãos” desapareceu completamente. Todos somos parte da família universal de Deus. Não temos de apenas tolerar a jornada espiritual um do outro, mas, ao contrário, podemos respeitá-la.


JT: Isso é maravilhoso, Chris. Que lembrete gentil de que “a divindade abraçando a humanidade” começa em nosso próprio quintal.


CWL: Nós todos, realmente todos, vivemos e nos movemos e temos nosso ser, conforme o versículo da Bíblia diz, dentro do Amor divino, que abraça a humanidade. Ao ouvir essa mensagem, é impossível deixar de expressar o amor pelo qual somos amados por Deus. Além disso, traz consigo uma grande alegria. Como conseqüência, podemos dar, em nossos corações, as boas-vindas ao menino sanador do Natal, a cada dia, não importa a época do ano!