terça-feira, 31 de agosto de 2010

A oração e o processo político

Ron Ballard


As eleições em todo o mundo obrigam os políticos a deixarem seus cargos, os partidos a se alternarem no poder e, consequentemente, acarretam em transformações nos planos de ação governamentais. O desejo por mudança é um refrão comum que se ouve em toda parte durante o período eleitoral. De fato, cidadãos em todo o mundo, em lugares tais como a República Checa, Coreia do Sul, Taiwan e Zimbábue, esperam por mudanças em seus governos, depois da contagem dos votos.

Ao pesquisar esse assunto mais a fundo, descobrimos que existe, por trás desse desejo global generalizado por mudança, um impulso, uma demanda muito subjacente por uma política mais eficaz, ao invés de apenas a “política corriqueira”. Por exemplo, uma pesquisa recente nos Estados Unidos sugere que, embora os cidadãos tenham expectativas elevadas para seus líderes, essas expectativas estão mescladas por um “otimismo com traços de cinismo” (ver pesquisa feita por Knowledge Networks, 18-28 de janeiro, conduzida por AP-Yahoo News Survey).

Existe uma maneira de nos livrar dessa atmosfera de cinismo e fazer um progresso real? Buscar uma compreensão mais clara sobre Deus, o Princípio divino, como a única fonte verdadeira de poder e de governo, é uma boa maneira de se começar. É cômodo ficar enredado na política de personalidade e depositar nossas esperanças em certos candidatos. Entretanto, a fim de conseguirmos um governo confiável, criativo e compassivo, é essencial volver nosso olhar para esse Princípio unificador, ao invés de focar em pessoas.

Uma promessa bíblica em Isaías enfatiza que: “...o governo está sobre os seus ombros...”(9:6). Essa passagem profetiza a vinda do Messias, ou Cristo, que veio para difundir a mensagem poderosa do amor de Deus na vida das pessoas, e que traz paz e ordem à experiência diária. Durante uma conversa, perguntaram a Jesus a quem se deveria pagar tributo. Jesus, mostrando uma moeda, perguntou de quem era a efígie que aparecia nela. A resposta foi que era de César. Jesus então explicou: “Dai, pois, a César o que é de César e a Deus o que é de Deus” (Mateus 22:21). Em termos modernos, isso poderia significar dar crédito aos propósitos práticos que sustentam o governo. Muito justo. Mas, e quanto às coisas que pertencem a Deus, como nossa felicidade, segurança, bem-estar, liberdade e autogoverno? Todas essas coisas têm sua origem nEle.

É fácil supor que o bem-estar possa ser afetado pelo partido político que detenha o poder, mas é libertador compreender que o que realmente governa não é a forma humana de governo, mas a divina. Mary Baker Eddy, a Descobridora da Ciência Cristã, enfatiza em seus escritos que a libertação final provém da compreensão das leis espirituais que governam o universo. Ela certa vez definiu a Ciência Cristã como “a lei de Deus, a lei do bem, que interpreta e demonstra o Princípio divino e o governo da harmonia universal” (Rudimentos da Ciência Divina, p. 1). Sua descoberta abriu as portas da cura para muitos que estavam sofrendo de todo tipo de doenças e imposições mentais que comprometiam seus direitos de autogoverno. Mary Baker Eddy também era frequentemente procurada na qualidade de formadora de opinião a respeito dos acontecimentos do mundo, na virada do século XX. Ao aceitar sua eleição para a Associação de Conciliação Internacional, uma organização dedicada à resolução de conflitos por meios pacíficos, ela observou: “A lei humana é correta somente na medida em que segue o modelo divino. O consolo e a paz se fundamentam no senso iluminado do governo de Deus” (The First Church of Christ, Scientist, and Miscellany [A Primeira Igreja de Cristo, Cientista, e Vários Escritos], p. 283).Um senso iluminado do governo de Deus incluiria naturalmente a totalidade de Sua natureza. A Bíblia se refere à natureza de Deus com termos como: Amor, Verdade e Mente. Conforme explicado em Ciência e Saúde, esses sinônimos essenciais nos proporcionam vislumbres da variedade infinita de maneiras como Deus governa Seu universo.

O Amor é universal e incondicional

A liderança do Amor divino abençoa a todos. Não existe nenhum perdedor sob o governo do amor, ninguém é deixado de fora ou excluído. De fato, a lei do Amor opera no melhor interesse de todos. No ambiente político, no qual os pontos de vista frequentemente se opõem, é fácil aceitar que as esperanças serão frustradas, não cumpridas ou comprometidas, a menos que um determinado candidato ganhe. Mas mesmo que o processo político contrarie nossos desejos, ele não está imune à oração. O governo divino é único e sempre proporciona o que melhor promove nosso verdadeiro bem-estar. Nossa convicção desse fato ajudará a elevar e melhorar o cenário humano Torna-se então importante nos volvermos ao Amor divino para a satisfação tanto das nossas necessidades, como das necessidades de cada cidadão de nosso país, não importando qual candidato assuma o cargo. Nunca poderá haver um lugar, alguma situação ou circunstância em que o amor de Deus não esteja presente, satisfazendo às necessidades de todos.

A Verdade é absoluta, consistente e inflexível

O governo mediante a Verdade divina expressa sabedoria, empatia e está fundamentado em padrões espirituais firmes que regem nossa vida. O fato positivo é que a verdade universal está mais distante do conjunto de opiniões humanas controversas e mais próxima das formas pelas quais as pessoas se relacionam naturalmente umas com as outras e com Deus. Em uma época em que o debate é estimulado por opiniões e tendências, muitas vezes apoiadas em acusações que envolvem questões morais, as pessoas anseiam por encontrar um critério espiritual que possam seguir e no qual possam confiar.

Tomemos a Regra Áurea da Bíblia: fazer aos outros o que desejamos nos façam (ver Mateus 7:12). A Regra Áurea aparece sob alguma forma em toda literatura sobre sabedoria do mundo e tradições religiosas. Poder-se-ia dizer o mesmo a respeito do Decálogo ou Dez Mandamentos, sobre os quais grande parte da lei está fundamentada. Por que? Seria porque essas verdades foram comumente aceitas ou porque são inatas ao coração de cada pessoa? Deus, a Verdade divina, guia os princípios e os padrões que intuitivamente compõem nossa vida e podemos recorrer a Ele por orientação. À medida que tomamos decisões sobre partidos e candidatos, podemos reconhecer que esses padrões espirituais estão dentro de nós. Esse saber consciente nos assegura que o governo está, de fato, “sobre Seus ombros”.

A Mente instila integridade, honestidade e confiabilidade

A inteligência divina nos eleva a um nível mais alto de pensamento, raciocínio e interpretação. O governo pela Mente instila integridade e valoriza a honestidade e a confiabilidade.

Na trilha das campanhas da atualidade, os “esquadrões da verdade”, que seguem no encalço das promessas feitas pelos candidatos durante discursos políticos e debates, são muito comuns e frequentemente agem por meio de sites na Internet. Esses esquadrões tentam confrontar os fatos reais com as declarações e os comentários feitos. Com frequência, comentários feitos pelos candidatos fora de contexto acabam sendo considerados como pontos de vista. No final, pontos de referência são desconsiderados e aspectos importantes de questões chave passam ignorados. Essa tática é para moldar ou manipular o pensamento público, para a vantagem de um dos lados. Infelizmente, nesse processo, a integridade é, em geral, descartada.

Entretanto, o reconhecimento do governo pela Mente divina permite que as pessoas percebam claramente as ideias, compreendam a complexidade dos conceitos e suas implicações, e apreciem uma questão por inteiro, sob todos os seus aspectos. Não existe nada oculto, sonegado, confuso ou manipulado para essa inteligência divina. Fazer escolhas com base na percepção da Mente é ir além do que simplesmente criticar um determinado candidato ou uma questão e encontrar a sabedoria que faz com que nossa decisão “...imite a divina” (Ciência e Saúde, p. 542).

Orar por mudança no campo político também traz à baila a questão: “Quais são nossos motivos”? Estamos orando para que uma pessoa ou um partido ganhe de outros ou que somente a questão do voto leve a melhor? Descobri que é extremamente necessário, embora desafiador, abandonar resultados preconcebidos e realmente buscar uma solução mais elevada. É interessante observar que, por volta da virada do século XX, Mary Baker Eddy pediu a todos os membros de sua Igreja para orarem pela resolução da guerra russo-japonesa.

Inicialmente, ela solicitou aos membros para “orarem para que Deus abençoe com paz e prosperidade aquela grande nação e aquelas ilhas do mar” (The First Church of Christ, Scientist, and Miscellany, p. 279). Entretanto, à medida que o tempo passava e antes que o conflito terminasse, ela pediu que aquela oração específica cessasse. Quando questionada a esse respeito, explicou: “Citei, como nossa necessidade atual, fé na disposição que Deus dá aos acontecimentos” (Ibidem, p. 281). Talvez ela estivesse apontando para a necessidade de as pessoas se empenharem por um objetivo ainda mais elevado do que “paz e prosperidade”, por mais desejáveis que esses objetivos fossem. Esse objetivo mais elevado talvez fosse compreender que o fator de orientação para a paz mundial reside na confiança e na fé em um Deus que é capaz de manter Sua criação de maneira ordeira, mesmo que a “disposição que Deus dá aos acontecimentos” não combine, necessariamente, com as expectativas e os cronogramas humanamente bem planejados.

Devem cessar nossas orações e nosso envolvimento com as eleições, quando os votos forem contados e o resultado determinado? De muitas maneiras, a verdadeira campanha apenas começou. A simples escolha de candidatos não encerra o envolvimento das pessoas no campo da política. Assegurar-se de que as decisões e os motivos espirituais corretos sejam continuamente considerados torna-se nossa real campanha eleitoral, um comprometimento de apoio, em espírito de oração, que permeia cada dia de nossa vida.

Ao se referir a outro conflito que seu país enfrentava (a guerra entre os Estados Unidos e a Espanha pela libertação de Cuba), Mary Baker Eddy ofereceu este incentivo de coragem sobre a questão do envolvimento: “Orai para que a presença divina possa também guiar e abençoar a autoridade máxima de nossa nação, as pessoas ligadas a esse cargo executivo de confiança, bem como o nosso sistema judiciário; e para que dê sabedoria ao nosso congresso e sustente o país com o braço direito de Sua retidão” (Christian Science versus Pantheism [A Ciência Cristã versus Panteísmo], p. 14).

Como pode alguém se proteger contra a negatividade, se o resultado de uma eleição parecer menos do que o ideal para essa pessoa? A despeito de qual “lado” ganhe a eleição, as atitudes sobre os resultados têm historicamente causado dissensão. Em décadas recentes, como também em uma escala global, os partidos que perderam eleições têm despendido muito tempo e energia desafiando e, em alguns casos, criticando aqueles no poder. Embora a crítica construtiva possa ser um agente catalisador para um governo melhor, a crítica destrutiva, especialmente do tipo que espera pelo fracasso daqueles no poder, pode ser danosa para toda uma nação. Aqueles que compreendem a importância de um governo “sobre Seus ombros” ajudarão esse governo, afastando-se da tentação de reagir a traços de personalidade, e buscando o bem comum.

Um dos grandes líderes do mundo ocidental, Abraham Lincoln, chegou à presidência extremamente despreparado para enfrentar o desafio da guerra civil em seu país. Entretanto, no final ele atribuiu o enorme crescimento de caráter e desenvolvimento moral que vivenciou enquanto esteve no poder às orações de seus conterrâneos.

À medida que os cidadãos, em todo o mundo, se reunirem para votar, esperando por uma mudança transformadora, podemos confiar sabendo que a oração por um processo político eficaz realmente faz a diferença. Não importa quem ou quais questões vençam, nada pode derrubar o fato espiritual de que Deus governa. Confiar na disposição que Deus dá aos acontecimentos expande a oração para além das fronteiras do nosso lar e faz com que todo o bem não seja somente possível, mas que seja universal.
 

Ron Ballard é Praticista e Professor de Ciência Cristã e mora em Ashland, Oregon, EUA. Também é membro do Conselho de Conferências da Ciência Cristã.

Um comentário:

  1. SE EXISTE UMA VERDADE É AQUELA DA FRASE " CADA POVO TEM O GOVERNO QUE MERESSE" POIS ELES SÃO A MANIFESTAÇÃO PSIQUICA DAQUELES QUE OS COLOCARAM LÁ SE A MAIORIA AINDA TRANSITA NA INFERIORIDADE ESPIRITUAL, SEM FÉ EM DEUS,AQUELES QUE LEGISLARÃO SOBRE NÓS TAMBEM AFINIZAM COM O PRIMITIVISMO, CORRUPÇÃO E CRIMES DE TODA SORTE SÓ SERÃO EXTERMINADOS QUANDO O HOMEN ENTENDER QUE O SEU CRESCIMENTO FARÁ GOVERNANTES MELHORES E MAIS COMPROMETIDOS.

    VISITEM NOSSO CANTINHO DO BEM.

    WWW.CASAESPIRITADRP.BLOGSPOT.COM

    ResponderExcluir