sábado, 12 de fevereiro de 2011

Nenhum temor pela geração futura


Robin Hoagland
O noticiário daquela noite me abalou. Um ataque com armas químicas fora lançado em uma área de civis. Apertei mais firmemente meu filhinho, que estava em meus braços, e olhei na direção da minha filha, de apenas três anos, que brincava no chão, perto de nós. Muito embora esses acontecimentos estivessem se desenvolvendo do outro lado do oceano, surpreendi-me tentando conter as lágrimas que surgiram com uma súbita onda de tristeza e sensação de desamparo. Tudo o que podia pensar era: “Que mundo estamos trazendo para essas crianças?”
Quando coloquei meus filhos na cama, estava nitidamente corroída de medo pelos perigos desconhecidos aos quais estariam expostos durante a vida. A oração foi o único meio de encontrar refúgio naquela terrível noite. Por conseguinte, durante mais de uma hora, eu orava um pouco, e suplicava a um ouvido divino que cuidasse daquelas pessoas do noticiário; também que aqueles, sob o meu próprio teto, pudessem crescer em segurança.
Gradualmente, meu desejo dorido por um pouco de esperança e consolo foi encontrando a convicção divina pela qual ansiava. O que eu havia aprendido sobre Deus como o bem onipotente em meu estudo da Ciência Cristã, começara a acalmar meus temores. Consegui reconhecer que a própria natureza de Deus provê um porto seguro para cada um e para todos.
Deus estava exatamente ali comigo
Deus, sendo infinito, estava exatamente ali comigo, na escuridão do meu quarto, mas também estava lá com aqueles sob ataque. Deus é o próprio Amor, que está extinguindo todo o medo e ódio. Quanto mais consciente eu me tornava da presença e do poder de Deus, menos pavor sentia do futuro.
Pela manhã as notícias já eram diferentes. O ataque não havia envolvido a disseminação de substâncias químicas, e houve grande alívio quando constataram que o impacto causado pelo míssil lançado fora mínimo. Aquela região ainda estava sob risco de ataques, mas o horrível prognóstico da noite anterior já havia cedido lugar a possibilidades mais otimistas.
Nossos filhos, absolutamente intocados pelos acontecimentos das últimas 12 horas que haviam abalado o mundo, deram início à sua rotina diária demonstrando entusiasmo, alegria e prazer nas coisas mais simples. Várias vezes fizeram com que eu sorrisse e, até mesmo, desse gargalhadas. Tudo o que acontecia a eles de maneira natural, modificou gentilmente os resquícios de ansiedade que ainda sentia.
Então, compreendi que a pergunta que precisava me fazer não era sobre que tipo de mundo estávamos trazendo para nossos filhos, mas ao contrário: “Que tipo de filhos estamos trazendo ao mundo”?
“Ó, crianças”, escreveu Mary Baker Eddy, “vós sois os baluartes da liberdade, o cimento da sociedade, a esperança da nossa raça!” (Pulpit and Press [Púlpito e Imprensa], p. 9)
Nossos filhos podem enfrentar construtivamente o futuro
À medida que reconhecemos a força da infância, ao invés de suas vulnerabilidades, estabelecemos o cenário para que as crianças enfrentem de maneira construtiva qualquer coisa que as possa confrontar. Ao familiarizá-las com os recursos divinos advindos de Deus, que sempre está com elas, onde quer que estejam, veremos nossos filhos darem forma aos futuros acontecimentos, e não serem moldados por eles. Essas oportunidades sempre existem em todas as gerações.
Há mais de três milênios, Moisés nasceu em uma família de escravos, no Egito, na época em que o faraó havia decretado a morte de todas as crianças hebreias do sexo masculino. Que profunda fé deve ter tido a mãe de Moisés quando o colocou em um cesto para que flutuasse correnteza abaixo no Rio Nilo! Consequentemente, essa fé foi recompensada quando a própria filha do faraó retirou o pequeno bebê das águas do rio, salvando sua vida e garantindo seu bem-estar.
Enquanto Moisés mais tarde despontou como o grande líder de seu povo, tanto sua irmã Miriã quanto seu irmão Arão, também se tornaram consagrados profetas. Imaginem as expectativas e a confiança em Deus que seus pais devem ter cultivado neles durante a infância, apesar de todas as condições desanimadoras que tiveram de enfrentar.
O que importava era o que Jesus ofereceu ao mundo
Centenas de anos depois, outra jovem mãe recebeu mensagens angelicais, que ela escondeu em seu íntimo, de que seu filho também seria um grande líder, até mesmo o cumprimento de uma profecia. Também seu filho, Jesus, nasceu em um país ocupado por outro povo, os romanos, e em uma família que não pertencia à classe governante, aristocrata e culta. Não foi o que o mundo ofereceu a Jesus o que importava, mas o que Jesus ofereceu ao mundo.
O Evangelho de João coloca isso desta forma: “Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que julgasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele” (João 3:17). Diante do ódio e da violência dirigidos a ele mesmo e à sua sagrada missão, ele corajosamente apresentou o Cristo à humanidade.
“O Cristo, a Verdade”, escreveu Mary Baker Eddy, “foi demonstrado por meio de Jesus, para provar o poder do Espírito sobre a carne — para mostrar que a Verdade se manifesta por seus efeitos sobre a mente e o corpo humanos, curando a doença e destruindo o pecado” (Ciência e Saúde, p. 316).
Durante sua breve carreira, Jesus tocou e transformou a vida de muitas pessoas, inclusive de pais desesperados por não verem nenhum futuro para seus filhos: uma angustiada viúva teve seu filho ressuscitado por Jesus durante o funeral; um pai desesperado suplicou a Jesus pela vida de seu filho que estava à morte, e encontrou o menino curado quando voltou para casa; o chefe de uma sinagoga assistiu com sua mulher a Jesus ressuscitando da morte a filha deles de doze anos; outro pai também desesperado trouxe seu filho epilético até Jesus e o rapaz foi curado (ver: Lucas 7:12–15; Marcos 5:38–43; João 4:47–53; Marcos 9:17–27).
A sociedade ainda sente o efeito transformador do Cristo
A sociedade, com suas expectativas focadas na causa e efeito, nas leis genéticas e nas limitações, sentiu e ainda sente o efeito transformador do Cristo como Jesus o viveu. Ele alterou radicalmente o ponto de vista temeroso, limitado e material da humanidade, para uma perspectiva divina e, desse modo, lançou luz sobre os infinitos recursos do Espírito e sobre a onipotência do Amor. Não admira que ele tenha sido considerado por muitos como o ponto principal da história humana.
O que talvez seja mais surpreendente, é que Jesus não se baseou nos adultos experientes e cultos ao redor dele, como modelos para a mudança extremamente necessária ao mundo. Ao contrário; quando seus discípulos tentaram manter as crianças afastadas dele, Jesus colocou uma delas em frente de todos, dizendo: “Em verdade vos digo: Quem não receber o reino de Deus como uma criança de maneira nenhuma entrará nele” (Marcos 10:15).
Longe de serem fracas e vulneráveis, qualidades como honestidade, coragem e amor espontâneo de uma criança são derivadas de Deus e, portanto, têm poder para transformar a vida das pessoas e das comunidades. Poder para remodelar a verdadeira face do futuro para melhor.
Quando nosso filho era um garotinho ativo de dois anos, ele avistou no playground um pequeno grupo de meninos do ensino fundamental. Acostumado a ficar sempre perto de seus primos maiores, que gostavam muito dele, ele esperava ser incluído na brincadeira dos garotos. Em vez disso, ele se viu como o objeto de um deboche e que, rapidamente, estava se transformando em um bullying, ou assédio moral, explícito.
Quando percebi que a situação começava a piorar, apertei o passo em direção a ele. Mas nossa filha, na ocasião aluna do jardim da infância, o alcançou primeiro. Ela colocou sua mão no ombro dele e olhou para os quatro meninos mais altos e mais velhos ao seu redor.
“Este é o meu irmão”, disse ela com a calma autoridade que o amor traz. “Sejam bons para ele”.
Parece que todos ficaram um tanto surpresos com essa declaração. Os meninos se envergonharam e pediram desculpas antes de saírem de fininho. Nosso filho rapidamente se interessou por uma outra atividade divertida, e nossa filha voltou a brincar no balanço.
Suas palavras confirmaram um padrão de comportamento de respeito
Não pude deixar de me maravilhar diante do que havia visto. As palavras que saíram da boca de minha filha não foram de repreensão nem de hostilidade. Elas simplesmente confirmaram um padrão de comportamento que foi gentil, respeitoso e abrangente, e nada mais do que isso era aceitável. Com essa expectativa poderosa, uma garotinha de cinco anos de idade, sem nenhum esforço, substituiu possíveis lágrimas por um resultado harmonioso.
Repetidas vezes, tenho visto essa perspectiva infantil inocente expressa tanto por crianças quanto por adultos. Essa confiança no bem não tem nada a ver com idade ou experiência, com um conhecimento dos acontecimentos mundiais ou ignorância sobre eles. Ela provém de uma conscientização contínua da presença e do poder de Deus, com o Amor divino percebido tão intensamente que preenche os espaços vazios deixados pelo medo. A esperança novamente cria raízes e novas possibilidades desabrocham!
O profeta Isaías previu um futuro onde a natureza carnívora do leão é bondosa e ele come capim ao lado do bezerro, lobos e cordeiros são companheiros inofensivos, a serpente perde seu veneno e todos são guiados por uma pequenina criança (ver Isaías 11:6).
As crianças nos mostram quão natural é ter a expectativa do bem, ter a confiança no amor, para agir com autoridade ao desafiarmos a brutalidade e a injustiça. São essas qualidades infantis que transformarão o temeroso mundo, como o conhecemos agora, em um mundo promissor que já podemos antever. Ajudar nossos filhos a vivenciarem esse poder dinâmico e espiritual é o maior presente que podemos dar a eles e ao mundo!
Robin é Praticista, Conferencista e Professora de Ciência Cristã, e mora em Osterville, Massachusetts, EUA.

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